Por que algumas pessoas se sentem sós mesmo quando rodeadas de gente?
Resumo da notícia
- A solidão é considerada um problema de saúde pública em alguns países e pode acontecer mesmo com quem tem companhias próximas
- Estar só é diferente de sentir-se assim, e a sensação está muito ligada a ver-se como não pertencente a um grupo
- Não encontrar a cumplicidade e identificação no outro costuma despertar esse sentimento, que pode ser resolvido criando novas conexões
Hoje vivemos em um ritmo acelerado da realidade atual. Desempenhamos diversas tarefas e nos comunicamos com várias pessoas por diferentes redes de contato. Mas mesmo rodeados de pessoas e com uma lista repleta de compromissos, há um sentimento desconfortável de desemparo e abandono que desmotiva, provoca medo e tristeza. É a solidão.
Em alguns países como os Estados Unidos e a Inglaterra essa sensação já foi considerada inclusive problema de saúde pública. É difícil definir exatamente como se origina, pois depende de condições que envolvem personalidade, experiências de vida, habilidades de interação social e outras variáveis ligadas com a própria a formação do sujeito.
É uma sensação de desconexão com outras pessoas que acomete jovens, adultos e idosos, e que pode evoluir para transtornos como depressão e melancolia.
Estar só é diferente de sentir-se só
A ideia de solidão está muito ligada com o momento no qual estamos desacompanhados. Mas especialistas são enfáticos ao destacar que existe uma grande diferença entre estar e sentir-se só.
Aquele aperto no peito ou mal-estar, que surge a partir da impressão de estar alheio com os que estão ao redor, sem ser cuidado ou compreendido, é uma das características da solidão. Mesmo em companhia de outros, existe o entendimento de ser pouco amado e valorizado de forma geral.
Nesse sentido, psicólogos explicam que sentir-se só acontece quando a pessoa não encontra formas significativas de ser útil, seja a si mesmo ou à sociedade. Tem a ver com a maneira que o sujeito vê e se vê no mundo.
Está ligado com sensações de estranhamento, dificuldade de aceitação e de não pertencimento. Expressa o desencontro com o outro e casos consigo mesmo.
O que nos completa
Ao nos relacionarmos, é natural idealizarmos os encontros e as interações sociais a partir do desejo de encontrar cumplicidade, identificação e companheirismo. São elementos que fortalecem a sensação de compartilhamento de experiências e de integração a um grupo ou comunidade.
Mas quando não encontramos isso no outro, é possível que se acentue a sensação de desamparo que nos acompanha desde o início da nossa formação como seres humanos. Esse abandono real ou simbólico decorre de várias experiências que podem estar relacionadas com traumas, perdas precoces, mudanças que nos afastam de amigos ou parentes próximos, ou casos de abusos e de violência.
Isso também acontece por uma série de medos, seja do desconhecido ou mesmo da morte. São noções que permeiam a cultura contemporânea de maior isolamento e segregação por questões de segurança que diminuem as oportunidades para trocas e a construção de redes de contato de confiança.
Por isso é indicado estabelecer relações próximas que permitam dividir intimidades, angústias e dificuldades, como a ideia de que "todos estão bem menos eu". A partir de laços mais próximos, buscar vivenciar a empatia e o acolhimento, e dentro de uma situação de conforto, aprender a identificar, aceitar e lidar com os próprios sentimentos, inclusive a solidão.
Antes só ou bem acompanhado
Uma das reações que dificultam a superação de pessoas que se sentem abandonadas é optar pelo isolamento. Em casos quando não há a identificação do problema ou a falta de tratamento adequado, a sensação de desemparo pode evoluir e se relacionar com sintomas de ansiedade e depressão, e estar associada com o uso abusivo de álcool, drogas ou atitudes autodestrutivas.
A recomendação é buscar ajuda médica para fazer uma avaliação diagnóstica e terapêutica, na tentativa de identificar as razões que levam a pessoa a sentir-se solitário. Além disso, os especialistas indicam a aproximação de quem enfrenta situações semelhantes para tentar estabelecer uma rede de suporte compreensiva, que contribua para aliviar a impressão de que se está sozinho.
A ideia é aos poucos criar conexões sociais significativas, com aqueles que possuem interesses próximos, e vivenciar trocas que permitam sentir-se cuidado e estimado. Dividir impressões é uma forma de trato generoso consigo mesmo.
Outra importante sugestão para atenuar o desconforto com a solidão é descobrir experiências que gerem satisfação e gratificação. Seja por meio da arte, cultura, atividades físicas ou intelectuais, é uma boa saída para despertar sentimentos positivos, de realização, atrelados à noção de pertencimento e de identificação com um coletivo, espaço ou movimento.
Possibilitar conhecer novas pessoas, se deixar conhecer e interagir são os primeiros passos no esforço para sentir-se mais calmo, tranquilo e confortável com os outros e consigo. São muitos os fatores que levam a sensações desagradáveis, mas cada indivíduo pode gerar uma leitura e consciência do que está vivenciando e usar recursos próprios para resolver o desconforto que experimenta.
Quando uma pessoa se sente bem consigo mesma, ela não fica solitária, pois tem o seu próprio apoio e autocuidado inteiros e verdadeiros.
Dicas para lidar com a solidão
- Conhecer as nossas características individuais e assim construir autoesquemas positivos que nos ajudem a aceitar nossas particularidades;
- Saber que situações adversas podem acontecer em algum momento da vida e que são possíveis de solucionar, por mais difíceis que as circunstâncias pareçam;
- Buscar entender que somos seres humanos e que a solidão faz parte dos sentimentos, e como tantos outros, tem efeitos negativos e positivos;
- Inserir em sua maneira de viver o convívio com pessoas, permitindo conhecer e se deixar conhecer;
- Construir uma rede social de apoio com alguém de confiança, para conversar sobre essas dificuldades e dividir a angústia com outras pessoas;
- Procurar atividades que gerem satisfação e realização pessoal;
- Tentar estabelecer uma ligação saudável com si próprio;
- Consultar um profissional, terapias integrativas ou complementares (dependendo da especificidade do caso).
Fontes: Amilton Santos Jr., docente do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp; Carolina Hanna, psiquiatra do Hospital Sírio-Libanês; Dinael Corrêa de Campos, docente do Departamento de Psicologia, Faculdade de Ciências, Campus de Bauru/Unesp; Dora Tognolli, psicóloga e psicanalista que integra a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo; Martha Quintero, especialista em psicologia clínica e autoeficácia pessoal.
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