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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


É normal sair da terapia se sentindo pior do que chegou?

É normal mexer em questões dolorosas durante a terapia - iStock
É normal mexer em questões dolorosas durante a terapia Imagem: iStock

Simone Cunha

Colaboração para o UOL VivaBem

29/04/2019 04h00

Resumo da notícia

  • O processo psicoterapático mexe com situações muitas vezes dolorosas para o paciente, por isso que ele pode sair pior de uma sessão
  • Buscar esses esqueletos no armário, no entanto, é importante para resolver as situações que estão atrapalhando o paciente
  • Se você não se sente acolhido por seu terapeuta, é importante conversar com ele antes de cogitar abandonar o tratamento

Muitos memes na internet brincam sobre chegar bem na terapia e sair pior depois. Mas será que isso é normal? De fato, existem situações que são trabalhadas na psicoterapia que podem ser muito dolorosas e causar essa sensação.

Como se trata de um processo de autoconhecimento e é preciso falar, recordar e ressignificar situações, sentimentos ou traumas para conseguir enfrentar o problema de frente, um processo que dói muito. Porém, é essencial para o amadurecimento e o enfrentamento daquilo que --mesmo guardado -- machuca, atrapalha e incomoda. Por isso, muitas vezes, em algum momento o paciente pode ter a sensação de que tudo só está piorando e até se sentir decidido a interromper o tratamento. Porém, vale uma reavaliação e persistência.

Uma criança, quando começa a andar, tropeça, cai e rala o joelho. E vai repetir isso muitas vezes até sentir-se firme para dar os primeiros passos. Essa é uma metáfora para compreender melhor a proposta da psicoterapia que pode provocar angustia, despertar raiva e cutucar a ferida, mas sem essas etapas será difícil evoluir.

Mexendo no baú do sofrimento

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Imagem: iStock
A psicoterapia ajuda as pessoas em questões de ordem emocional e é muito comum que trate de aspectos e situações que o paciente considere difíceis, como explica a psicóloga Maria Cecilia Roth, coordenadora do Núcleo de Psicologia Hospitalar do Curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

De maneira geral, o que leva uma pessoa a procurar um psicólogo é um sofrimento psíquico, que tende a ocorrer quando o modo habitual de funcionar desmorona, acarretando impacto importante em sua vida.

"O paciente será estimulado a falar sobre si e sobre seu sofrimento, lembrar-se de fatos que podem correlacionar-se aos sintomas atuais, nos quais podem desencadear angústia", explica Aline Braghetto, psicóloga da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
Além disso, durante o processo psicoterápico, o paciente é impelido a questionar-se sobre seu sofrimento, e não simplesmente eliminá-los ou consertá-los.

Está doendo muito, melhor parar!

Alguns momentos do processo terapêutico podem ser bastante difíceis em função da situação que o paciente está passando ser complicada e dolorosa. E à medida que o processo vai avançando é natural começar a cair a ficha e o tratamento força a saída dessa posição. Por isso, pode causar uma sensação de piora.

Braghetto diz que, pode ocorrer de o paciente não querer saber nada sobre seu sofrimento, não se perceber como responsável pela própria mudança, atribuindo essa tarefa ao terapeuta. "Nesse sentido, o paciente pode não estar pronto para iniciar o processo", acrescenta.

E essa resistência pode ocorrer porque ainda não existe o hábito de expor e falar sobre sentimentos, medos, dúvidas e dificuldades. No entanto, muitas pessoas ainda preferem conviver com seus problemas a enfrentá-los. "Tem paciente que não quer abrir mão da satisfação provocada por seu sofrimento, pois existe certo ganho na sua própria insatisfação, assim como nas queixas de culpar o outro sobre sua falta de satisfação", alerta a especialista.

Acolhimento é essencial

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Imagem: iStock
A relação psicoterapêutica tem de ser acolhedora. Se o paciente não se sente acolhido pelo terapeuta alguma coisa está errada e pode indicar que não está havendo a empatia necessária para que o processo flua da maneira adequada. "Não é desejável que o paciente se sinta pior durante ou depois de uma sessão, por isso essa conexão entre paciente e terapeuta precisa funcionar bem", pondera Roth.
E se o paciente não se sente confortável, vale tentar uma conversar com o terapeuta, dizendo que acha que não está melhorando. Às vezes, esse diálogo ajuda a terapia a deslanchar, ou pode evidenciar que a relação não está funcionando.

O que não se deve fazer, mas acaba ocorrendo, é o paciente abandonar o tratamento. Afinal, é natural que haja um desejo de interromper o processo, ou procurar um motivo para faltar às sessões, principalmente quando percebem que estão sendo solicitados a abrir mão de alguma coisa ou que estão prestes a se dar conta do que fizeram (ou fazem) para sabotar a própria vida.

A sociedade está cada vez mais acelerada e competitiva e não há espaço para dúvidas, incertezas e desamparos. "A terapia ajuda a pessoa a enfrentar o imprevisível", fala Oswaldo Ferreira Leite Netto, coordenador do serviço de psicoterapia do IPq da USP (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo). Por isso, mesmo que machuque e pareça piorar os conflitos internos, vale enfrentar essa batalha.

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