Estudo explica por que a depressão causa desconforto gastrointestinal
Problemas digestivos sem causa aparente ou que não melhoram com tratamento geralmente são associados à depressão. A relação entre as duas condições sempre foi um mistério para a ciência, mas um novo estudo sugere que a explicação estaria nos baixos níveis de serotonina.
A descoberta, publicada no periódico Gastroenterology nesta terça-feira (7), pode ser a chave para melhorar a qualidade de vida daqueles que sofrem de constipação e do transtorno mental.
"O intestino é frequentemente chamado de 'segundo cérebro' do corpo", diz Kara Gross Margolis, médica e professora associada de pediatria da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. "Ele contém mais neurônios que a medula espinhal e usa muitos dos mesmos neurotransmissores que o cérebro. Por isso, não deveria ser surpreendente que as duas condições possam ser causadas pelo mesmo processo", reflete a autora do estudo.
Agora, estudos clínicos serão planejados para testar uma droga com 5-HTP, um precursor imediato de serotonina, de liberação lenta em pessoas com depressão resistente ao tratamento. Já existem suplementos com esse fármaco, mas além de não ser comprovado como eficaz contra a constipação, quando 5-HTP é convertido em serotonina logo após a ingestão, o neurotransmissor é rapidamente inativado, antes mesmo de funcionar efetivamente.
A versão de liberação lenta do 5-HTP, utilizada no estudo, ainda está sendo analisada pelos cientistas.
Como o estudo foi feito
Os ratos utilizados no estudo carregavam uma mutação genética (ligada à depressão grave em pessoas) que prejudica a capacidade dos neurônios no cérebro e do intestino de produzir serotonina.
A escassez de serotonina no intestino, os pesquisadores descobriram, reduziu o número de neurônios no intestino e levou a uma deterioração do revestimento do intestino, retardando o movimento de fezes pelo trato gastrointestinal.
Um tratamento experimental feito com drogas de liberação lenta do fármaco 5-HTP e inventado pelos autores do estudo elevou os níveis de serotonina nos neurônios do intestino e aliviou a constipação nos camundongos.
A relação entre comida e depressão
A nutrição tem um impacto importante no cérebro e na saúde mental. As pesquisas sobre o impacto da dieta no funcionamento mental são relativamente recentes, e pode ser difícil realizar e interpretar os estudos sobre alimentos, pois muitos fatores influenciam o que comemos e nosso bem-estar geral. No entanto, um estudo com mais de 12.000 australianos publicado na American Journal of Public Health, em 2016, revelou que os indivíduos que aumentaram a ingestão de frutas e vegetais afirmaram estar mais felizes e satisfeitos com a vida do que aqueles que não modificaram a dieta.
Outro estudo de 422 jovens adultos da Nova Zelândia e dos Estados Unidos mostrou níveis mais altos de saúde mental e bem-estar entre aqueles que consumiram mais frutas e vegetais frescos.
Em 2017, foi publicado um dos primeiros ensaios clínicos randomizados a testar a eficácia de modificações dietéticas no tratamento da depressão. No estudo, liderado pela epidemiologista psiquiátrica australiana Felice Jacka, os participantes que foram instruídos a seguir uma dieta mediterrânea durante 12 semanas relataram melhorias no humor e níveis mais baixos de ansiedade; os que receberam instruções genéricas não mostraram esses benefícios.
A dieta mediterrânea, rica em grãos integrais, legumes e frutos do mar, bem como em vegetais folhosos ricos em nutrientes e em fibras, promove uma população diversificada de bactérias benéficas no intestino. As pesquisas sugerem que um microbioma intestinal saudável talvez seja importante no processamento de neurotransmissores como a serotonina, que regulam o humor.
Lisa Mosconi, diretora da Women's Brain Initiative no Centro Médico Weill Cornell, em Nova York, observa que "não há uma dieta única que sirva para todos", mas aconselha os pacientes a cortar alimentos processados, minimizar carnes e laticínios e comer mais alimentos integrais, como peixes gordurosos, vegetais, grãos integrais e legumes, para reduzir o risco de desenvolver doenças cerebrais degenerativas associadas ao envelhecimento.
Ela recomenda "comer o arco-íris", isto é, consumir uma grande variedade de frutas e legumes coloridos, como pimentão, mirtilo, batata-doce, couve e tomate. Segundo eles, esses alimentos são ricos em fitonutrientes, que podem ajudar a reduzir inflamações prejudiciais no corpo todo, incluindo o cérebro, e a promover o crescimento de novas células cerebrais durante a vida adulta.
Fontes consultadas em matéria do dia 13/04/2019.
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