Ciclismo deu força para ele superar acidente em que perdeu 6 cm de perna
Jefferson Spimpolo sempre foi apaixonado por pedalar e andar de moto. Ele sofreu três acidentes de motocicleta e, no último, perdeu 6 cm da perna esquerda. Entrou em depressão, se afundou nas drogas e encontrou na bike força para sair do vício. Hoje, é ciclista profissional e defende a seleção brasileira. A seguir, ele conta sua história:
"Eu pedalo desde moleque e também sempre tive muita paixão por motos. Aos 14 anos, numa irresponsabilidade, sofri meu primeiro acidente sob duas rodas. Fazia curso de modelo na época, mas a fratura exposta na perna esquerda por conta da queda me fez abandonar este sonho. Com 17, veio o segundo baque: quebrei o fêmur e tive um pequeno encurtamento do osso. Já não estudava mais e comecei a entrar no mundo das drogas.
Com 21 anos, sofri o pior dos três acidentes. Ele me causou fraturas no braço e no fêmur da perna esquerda. Passei quatro dias na UTI e quando saí do hospital, com uma perna 6 cm menor do que a outra, a médica me disse que não andaria mais sem auxílio de muleta.
Já estava com depressão e entrei de cabeça nas drogas. Em quase dez anos, usei de tudo, de maconha a crack. Todo o dinheiro que ganhava como técnico de refrigeração ia para sustentar meu vício.
A sensação que a droga dá é falsa, dura um momento curto. Mas eu só comecei a perceber isso quando meu corpo e minha cabeça 'avisaram' estavam esgotados daquela vida.
Morava próximo à trilha que pedalava antes dos acidentes e sentia falta do esporte. Chorava ao ver o pessoal passando de bicicleta e eu ali, de muletas. Até que resolvi comprar uma bicicleta e me arriscar
Nas primeiras voltas, cheguei a ir na cachoeira perto de casa para fumar maconha. Mas a bike não dá espaço para levar uma vida fora dela, principalmente usando drogas. O prazer de pedalar não se compara a nada. Eu estava indo para um buraco e o esporte me salvou.
Também me apeguei à fé para vencer a batalha química. Me ajoelhei um dia no quarto e pedi para Deus me mandar uma namorada, pois acreditava que uma companheira poderia me ajudar. Dois dias depois, Katilene, uma antiga amiga, me fez uma visita surpresa. Eu já gostava dela e a pedi em namoro. Estamos juntos até hoje e nos casamos. Ela é minha grande incentivadora.
Desafios virar ciclista profissional
Para voltar a pedalar, tive que fazer algumas adaptações na bicicleta, como no pedivela (alavanca em que o pedal é encaixada). Outro grande desafio que carrego até hoje é o de equilibrar a força das pernas. Mas superei isso com o incentivo e ajuda de amigos que me orientaram em um treinamento específico para fortalecimento do membro inferior. Minha mulher também me apoiou financeiramente até eu começar a vencer provas, conseguir patrocínios e virar ciclista profissional.
Minha rotina costuma ser treinar de manhã, o que inclui pedalar e fazer musculação. Por semana, chego a rodar de 14 a 18 horas, o que dá até 600 km. Depois do treino, fico duas horas com as pernas para cima, almoço e partir das 15h trabalho na oficina de bikes que tenho na chácara que vivo.
Coleção de vitórias
Comecei a competir em 2009 e, nesses dez anos de carreira, conquistei 17 títulos brasileiros, divididos em provas de contrarrelógio (oito vezes), ciclismo de estrada (sete vezes) e de pista (duas vezes), além de integrar a seleção brasileira de ciclismo paraolímpico.
A experiência que tenho com pintura e bikes adaptadas também virou profissão e hoje dou assessoria para marcas de bicicleta, especialmente na parte de pinturas. Já viajei à China, Portugal e outros países para competir e falar sobre a adaptação de equipamentos para deficientes.
Outra coisa que gosto muito de fazer é incentivar, por meio das redes sociais, a pessoas na mesma situação que eu a pedalar. Posto fotos das bicicletas que adapto para mostrar que é possível alguém sem uma perna ou um braço praticar o ciclismo. Em Rio Preto (SP), eu fui o primeiro ciclista deficiente a participar de competições e pedaladas e fico feliz de servir de exemplo para outros também fazerem.
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