Ronco pode ser causado por excesso de peso, cigarro ou álcool
Resumo da notícia
- Quatro em cada dez pessoas roncam; homens são a maioria com o problema
- Ruído ocorre pela vibração dos tecidos da garganta durante a passagem do ar enquanto você dorme
- Obesidade, tabagismo e uso de álcool interferem no sono e podem ocasionar o ronco
Quem ronca nem sempre se dá conta do hábito - na maioria das vezes, é o parceiro de quarto ou de cama que precisa dar o toque depois de ter o sono prejudicado pelo barulho.
O ronco é definido pelos médicos como um ruído respiratório originado pelo estreitamento da passagem do ar pelas vias aéreas superiores. Ele é considerado um sintoma comum, que afeta quatro em cada dez pessoas e é mais prevalente entre os homens, embora até crianças e idosos possam apresentá-lo.
As mulheres também roncam, mas serão mais afetadas após a menopausa, dadas as mudanças hormonais.
Como roncar não é considerado uma doença, mudanças nos hábitos de vida podem aliviar e até solucionar o incômodo. Entretanto, ele pode sinalizar a presença de um distúrbio mais sério, como apneia do sono.
O UOL VivaBem falou com especialistas em otorrinolaringologia, pneumologia e medicina do sono para entender por que tanta gente ronca, saber se há prevenção e conhecer os melhores tratamentos.
Por que isso acontece?
Durante o dia, os músculos das vias respiratórias superiores garantem que a respiração aconteça normalmente. Quando você adormece, essa musculatura relaxa, fazendo que a garganta fique mais estreita. Com isso, toda vez que você respira, os tecidos da região vibram e o ronco aparece. Outra situação que facilita o ronco é a ocorrência do estreitamento do canal do nariz.
Confira as demais possíveis causas:
- Obesidade
- Tabagismo
- Consumo de álcool
- Posição ao dormir
- Amígdala, língua ou úvula aumentadas
- Desvio de septo
- Rinite
- Maus hábitos de sono
- Uso de medicamentos (principalmente soníferos)
- Idade
- Hipotireoidismo
O som nem sempre é igual
O barulho do ronco pode variar dependendo da mudança na posição do corpo ao longo da noite de sono. Em geral, o maior ruído é o inspiratório; contudo, também pode ocorrer durante a expiração. Como as noites nunca são iguais, o relaxamento que leva ao ronco pode acontecer em diferentes fases do sono e ainda ser influenciado por fatores externos como o clima, alergias, uso de álcool e medicamentos.
Quando é apneia?
Pode ocorrer de a origem do ronco ser apneia do sono, que é a interrupção da respiração por períodos de até 10 segundos enquanto a pessoa está dormindo. Nessa hipótese, o sintoma costuma ser mais intenso e contínuo. Ao retornar do intervalo sem respirar, ocorre o que os médicos chamam de ronco ressuscitativo, pois parece que o indivíduo está voltando de um sufocamento.
O que preocupa, nesses casos, é que toda vez que você para de respirar, interrompe a renovação do oxigênio circulante no corpo. No longo prazo, a consequência é o aumento do risco para doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
Existem três tipos de apneia: a obstrutiva, a central e a mista. O tipo mais frequente é a obstrutiva, que decorre de um bloqueio na garganta ou nas vias respiratórias que impede o fluxo normal do ar. Uma pesquisa realizada em São Paulo e publicada no jornal científico Sleep Medicine mostrou que ela afeta 32,8% da população adulta.
Os sintomas mais comuns
De acordo com os especialistas, a primeira pessoa a perceber o ronco, geralmente, é o companheiro de quarto. Mas os sinais a seguir também indicam que algo não vai bem com o seu sono e sugerem a necessidade de uma avaliação especializada. Esteja atento às seguintes situações:
Você se sente sonolento durante o dia
- Cochila facilmente (na sala de espera de uma consulta médica, durante a aula, no volante)
- Tem dificuldade para se concentrar
- Apresenta dor de cabeça pela manhã
- Sente-se irritado
- Acorda cansado todos os dias
- Percebe falta de energia e disposição
- Observa alteração na memória
- Há sinais de aumento da pressão
Quando procurar ajuda
A hora de marcar uma consulta é o momento no qual o sintoma começa a afetar a sua qualidade de vida, ou a do seu parceiro. Desde 2011 existe uma especialidade chamada Medicina do Sono, que conta com mais de 400 especialistas certificados no Brasil. A maioria são otorrinolaringologistas, mas pneumologistas, psiquiatras, neurologistas, pediatras e clínicos com formação em sono podem avaliá-lo.
O que esperar da consulta
Para fazer o diagnóstico, o médico precisa saber sobre seu estilo de vida e hábitos gerais. Ele pode pedir que responda um questionário para identificar sintomas associados e avaliar o impacto do sono na sua rotina. Depois, fará um exame físico para conferir seu peso, a circunferência do pescoço e as condições do nariz e da garganta.
Quando o especialista entender que é relevante, pode solicitar uma polissonografia, exame específico de monitoramento do sono. Ele detecta a presença ou não de ronco e apneia e verifica queda da oxigenação, frequência cardíaca e até a posição na qual você ronca mais. O teste pode ser realizado em um laboratório do sono ou na casa do paciente, dependendo do caso.
O médico poderá, ainda, pedir uma nasofibroscopia, que trará informações sobre a normalidade ou não da sua cavidade nasal e da via aérea superior como um todo.
Com o resultado desses procedimentos em mãos, o diagnóstico pode ser definido.
Como é o tratamento?
Um estudo publicado na revista médica Clinical Otolaryngology avaliou quais estratégias realmente funcionam para o tratamento do ronco. A conclusão é que o incômodo pode ser controlado com mudanças no estilo de vida (a primeira delas: perda de peso), uso de aparelhos intraorais e, em casos, específicos, cirurgia.
A partir dessas diretrizes, a terapia será sempre personalizada e dependerá das causas relacionadas ao ronco. De modo geral, o objetivo é melhorar a qualidade da respiração. Para esse fim, poderá ser indicada cirurgia no nariz ou na faringe, tratamento da rinite, uso de aparelhos intraorais e até exercícios miofasciais. É comum que uma equipe multidisciplinar, com profissionais de áreas como fisioterapia, fonoterapia e odontologia, seja envolvida na definição do tratamento.
Segundo os especialistas, em alguns casos, o ronco desaparece após cirurgia de septo e cornetos nasais, remoção de adenoides, novas técnicas cirúrgicas de faringe e base de língua, assim como intervenções esqueléticas da face. A combinação desses tratamentos pode trazer resultados bastante satisfatórios.
O uso de CPAP (aparelho de pressão positiva contínua nas vias aéreas) é considerado o de melhor efeito para a apneia grave. Trata-se de um equipamento semelhante a uma máscara para ser usado à noite. O compressor acoplado libera um fluxo de ar (ajustado pelo médico de acordo com a necessidade do paciente) que desobstrui a garganta. Os especialistas garantem que o ronco cessa, mas o uso deve ser permanente, exatamente como se faz com os óculos para corrigir problemas de visão.
O que fazer para prevenir ou reduzir o ronco
- Perca peso
- Pare de fumar
- Prefira a posição de lado ao dormir. Você pode usar um travesseiro como apoio para mantê-lo na posição correta
- Aposte em estratégias para melhorar a qualidade do sono (veja mais abaixo)
- Controle a pressão arterial e o diabetes
- Evite abusar de bebidas alcoólicas
- Reduza ou cesse o consumo de medicamentos para dormir
Dicas para melhorar o seu sono:
- Modere no jantar. As refeições devem ser leves à noite
- Seja consistente. Habitue-se a dormir sempre no mesmo horário
- Crie um ritual. Procure seguir a mesma ordem de atividades antes de ir para a cama, mesmo que durma fora de casa. Por exemplo: desligar o celular, escovar os dentes, tomar um chá, ouvir uma música calma
- Prepare o ambiente. O quarto deve estar escuro, tranquilo e com temperatura agradável
- Busque o silêncio. Se você vive em uma área barulhenta, adote o uso de protetores de ouvido ou considere instalar janelas antirruído
- Use o quarto só para dormir. Livre-se da TV, do computador e do celular na cama
- Evite cafeína. Prefira consumir café, chá, bebidas gaseificadas só durante o dia
- Garanta conforto. Use travesseiros para ajudá-lo a manter a melhor posição para dormir
- Pratique atividade física regular. Mas evite fazê-lo nas horas anteriores ao sono, o que pode retardar a chegada do descanso
- Relaxe. Encontre uma técnica ou atividade que combine com você e coloque-a em prática antes de dormir
Fontes: Edilson Zancanella, otorrinolaringologista com certificação em medicina do sono, coordenador do Serviço de Distúrbios do Sono - Divisão Otorrino do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (HCUNICAMP) e secretário do Departamento de Medicina do Sono da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia (ABORL-CCF); Fausto Nakandakari, médico otorrinolaringologista do Hospital Sírio Libanês (SP), especialista pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF); Sonia Maria Togeiro, pneumologista com especialização em Medicina do Sono e membro do Instituto do Sono - Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa (AFIP). Revisão técnica: Edilson Zancanella e Sonia Maria Togeiro.
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