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Você se sente desconfortável com elogios? Entenda por que e como mudar isso

Ficar envergonhado com elogios parece humildade, mas será que essa é a única razão? - iStock
Ficar envergonhado com elogios parece humildade, mas será que essa é a única razão? Imagem: iStock

Amanda Massarana

Colaboração para o UOL VivaBem

14/05/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Elogios podem causar desconfortos por diversas razões: autoimagem negativa e desconforto em não ter o que melhorar são algumas
  • Além disso, a sociedade valoriza pessoas "humildes", ou seja, quem não se autoelogia
  • Não basta só aprender a agradecer sem minimizar o elogio: é importante entender o que causa desconforto e trabalhar esse ponto

Alguns se sentem constrangidos, não-merecedores, outros ficam desconfiados e poucos aceitam e se orgulham dele. O elogio, em um primeiro momento, representa algo positivo e que deveria ser visto com bons olhos, mas a verdade é que ele pode causar reações diversas e muitas pessoas se sentem desconfortáveis ao confrontá-lo.

Essa sensação pode surgir a partir de diversas questões individuais, mas existem algumas possibilidades que são mais comuns. Uma delas é a autoimagem negativa, que leva à autoestima muito baixa, de acordo com a psicóloga Claudia Lins Cardoso, professora associada do departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). "Podem ser pessoas que não foram suficientemente valorizadas e, então, não acreditam quando o outro elogia. Nesses casos, é mais fácil se reconhecer na crítica negativa do que no elogio", ela explica.

A dificuldade de estar em um lugar de destaque

Existe também o fato de você se enxergar em uma posição que corresponde demasiadamente a algo que você quer ou gostaria de ser ou estar. Exatamente, se ver em um lugar muito almejado pode nos tirar do eixo de certa forma, como explica o psicólogo Christian Ingo Lenz Dunker, professor do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo): "Nossa gramática amorosa está muito regulada pela falta. 'Gosto de você, mas poderia ser melhor, mais inteligente, mais rico, mais bonito'", explica o especialista. Para ele, essa falta funciona como uma orientação para o nosso processo transformativo. Quando alguém faz um elogio, a gente perde essa posição de "o que falta para o outro gostar de mim".

Pode parecer um tanto paradoxal enxergar isso desta perspectiva, mas a pessoa nessa posição fica desorientada. Não é fácil estar ali mais como objeto do que como sujeito da situação, afirma Dunker, não é fácil suportar ser amado. "Então, diante de um grande elogio, a pessoa comenta, quase defensivamente, 'são seus olhos' ou 'foi sorte, destino, o acaso, você está exagerando', e assim ela, no fundo, reintroduz o sentimento de que lhe falta alguma coisa'", destaca o psicólogo.

Inveja disfarçada?

Por outro lado, muitas pessoas sentem o elogio como um potencial início de inveja, especialmente quando vem de alguém mais distante, menos familiar. Vêem tudo isso como uma ameaça e um alerta para a cobiça. Nesse caso, a reação ao elogio tende a ser mais agressiva. Nada de "são seus olhos" ou algo do tipo.

Uma resposta comum de quem enxerga o elogio dessa forma seria questionar o que a outra pessoa está querendo com aquilo, quais são as intenções dela com esse elogio. "A pessoa pensa no que o outro vai lhe pedir em troca, que aquelas palavras fazem parte de um jogo, que o outro é um bajulador, inautêntico e perigoso", ressalta Dunker.

Aceitar o elogio é sinal de arrogância?

Em nossa cultura é muito comum valorizar mais o fracasso do que o sucesso, dizer o que está errado ao invés do que está certo. Apontar a parte que falta em detrimento da parte que foi feita. Se alguém se autoafirmar abertamente como um excelente profissional, qualquer um pensaria que essa pessoa é arrogante. Cardoso afirma que nossa cultura prima muito mais ser negativo do que positivo. "Ficamos sem graça em reconhecer que somos bons em algo, representa falta de humildade", diz ela.

Essa cobrança por sermos extremamente humildes pode vir da nossa cultura majoritariamente católica. "É diferente em um universo que tem a competição e o mérito como algo mais individualizado do que o contrário, como algo mais coletivo, como é o nosso caso", diz Dunker.

Basta assistir a uma entrevista com os jogadores de futebol após vencerem um jogo. Por mais que algum jogador tenha se destacado muito além do que os outros na partida, ele sempre irá afirmar que a vitória é do time, do grupo, do coletivo. "O arrogante é quem diz que conseguiu aquilo por seus próprios méritos. Nós valorizamos aqueles que coletivizam seus próprios méritos", completa ele.

Como conseguir aceitar um elogio

Para muitas pessoas, por mais desconfortáveis que possamos ficar com um elogio, o correto seja só agradecer e pronto. Porém, essa não é necessariamente a saída, pois com esse recurso não iremos, de fato, entender o porquê dessa sensação ruim e como isso pode estar nos afetando. "A primeira ação é reconhecer o que tem de complicado em receber um elogio, cada um tem uma dificuldade diferente e o movimento é reconhecer isso. Só agradecer não vai ressignificar nada", diz Cardoso.

Além disso, ela recomenda fazer uma autocrítica no sentido positivo: em quê sou bom de fato? Independente do que o outro pensa, é preciso aprender primeiro a reconhecer o que se tem de positivo e exercitar o autoelogio. Para isso, pode ser necessário contar com a ajuda de um profissional que o auxiliará nesse reconhecimento de si mesmo. "Comece a olhar suas conquistas, analisar o que faltou, sim, mas também o que fez de positivo e o que foi bom, colocar os dois lados na mesma intensidade. É importante reconhecer as suas potencialidades da mesma maneira que reconhece as suas limitações", conclui Cardoso.

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