Mialgia: dor muscular pode ser sinal de treino excessivo e até de depressão
Resumo da notícia
- A mialgia, também conhecida como dor muscular, é o principal sintoma das doenças do sistema musculoesquelético
- A causa mais comum é o uso excessivo ou extenuante do músculo
- Depressão, síndrome dolorosa miofascial, além de infecções e viroses, são outras causas
- Buscar ajuda rapidamente evita que a dor se torne crônica
- Fazer exercícios é a melhor forma de prevenção, mas sem exageros
Sentir algum incômodo muscular depois de um novo treino ou de um dia intenso de prática de seu esporte preferido dá sempre uma sensação de dever cumprido. Em poucos dias, a dor passa e você logo nota os efeitos do fortalecimento dos músculos. Mas a mialgia, outro nome dado para a dor muscular, é considerada o principal sintoma das doenças que acometem o sistema musculoesquelético.
Como todo esqueleto é recoberto por músculos, o problema pode se manifestar em qualquer parte do corpo e é bastante comum. Entre as queixas levadas aos médicos, destacam-se as dores nas regiões do pescoço e ombros, que representam 15% a 20% dos casos, seguidas pelo joelho e a articulação da mandíbula (temporomandibular), em uma proporção de 10% a 15%.
As pessoas mais suscetíveis a dores no pescoço, joelhos, costas, temporomandibular e fibromialgia são as mulheres. Entre os idosos, destaca-se a dor no joelho (devido à osteoartrite). Os dados são da Associação Internacional para o Estudo da Dor.
Causas da mialgia
Muitas são os motivos que levam à dor muscular, mas nos consultórios a situação mais frequente é a dor consequente ao uso excessivo ou extenuante do músculo, o que ocorre, por exemplo, quando há exagero na prática de exercícios. Além das atividades físicas, o problema pode ser desencadeado pelas seguintes razões:
- Movimento repetitivo das estruturas musculares ou sedentarismo;
- Depressão, estresse ou ansiedade, assim como problemas comportamentais na adolescência. Em alguns casos, a mialgia pode até ser o primeiro sinal da depressão;
- Genética, especialmente nos casos de dor na região temporomandibular;
- Síndrome dolorosa miofascial, caracterizada por uma série de pontos de dor persistentes (pontos gatilhos) e nó muscular;
- Osteoartrite;
- Doenças sistêmicas como a fibromialgia;
- Alterações na circulação sanguínea;
- Viroses como (gripe, dengue, febre amarela, zika, etc.);
- Efeitos colaterais do uso de medicamentos (como estatinas, corticosteroides etc.);
- Doenças inflamatórias do músculo (miopatias);
- Problemas hormonais (hipotiroidismo);
- Uso de álcool;
- Câncer.
Dor da mialgia tem diferentes intensidades
O incômodo pode ser leve ou intenso, localizado ou difuso, quando se espalha pelo corpo. Além disso, a sensação dolorosa pode aparecer depois de uma lesão ou em uma batida, como em um acidente esportivo. Nesses casos, é chamada de dor aguda.
Especialistas em Reabilitação Médica da Universidade de Linköping, na Suécia, esclarecem que o incômodo também se manifesta como cansaço e rigidez, pode ser intermitente (quando cessa e recomeça) em curtos e longos prazos.
Classificada como dor nociceptiva entre os médicos, ou seja, é estimulada por meio de um estímulo nocivo, pode ainda ser vivenciada como uma queimação ou repuxamento. Outra peculiaridade é que a dor pode vir acompanhada de fraqueza e algumas pessoas nem a reconhecem como dor muscular.
Quando esse mal-estar não é tratado e persiste com o tempo, para além de 3 meses, passa a ser considerado crônico. Passado esse período, sem intervenção especializada, já não se tratará mais de mialgia, mas uma alteração no sistema do controle de dor (sensibilização central), cujo tratamento é sempre mais complexo e demorado.
Quando procurar um especialista
A dor funciona como um alarme. Se ela insiste em se manifestar por mais de 6 semanas e já está atrapalhando as atividades do dia a dia e a vida social, é preciso procurar ajuda médica imediatamente.
Em geral, nos casos de dor aguda, o clínico geral e o ortopedista serão os primeiros a avaliarem o paciente com dor muscular. A depender das peculiaridades da dor e da região afetada, reumatologistas e neurologistas também poderão analisar o caso e orientar o melhor tratamento.
Entretanto, já existe uma área de atuação médica específica na área de dor. Nas hipóteses de dor crônica, é este o profissional mais indicado para colocar em prática as estratégias de alívio da sensação dolorosa.
Diagnóstico
Ele é sempre clínico: o médico vai ouvir a sua história e examinar seu corpo. Alguns exames complementares para avaliar seu estado geral de saúde serão solicitados, como exame de detecção do HIV ou da tireoide.
Pode ser que seu médico também peça para você responder um questionário para avaliar se há algum componente neuropático (quando há suspeita de que a pessoa sinta uma dor desproporcional à lesão identificada).
Na maioria dos casos, a ressonância magnética é tida como desnecessária, exceção feita à presença de dúvida relativa a algum quadro mais grave. Quando outros sinais indicarem a presença de miopatias (inflamações dos músculos), uma biópsia poderá ser solicitada.
O tratamento da dor aguda
A terapia sempre corresponderá à causa da dor muscular e a colaboração ativa do paciente é essencial. Quando a dor aguda decorre do uso indevido ou excessivo do músculo, o tratamento começará com:
- Prescrição de anti-inflamatório (por breve período, dados os efeitos colaterais sobre rins, estômago e coração);
- Aplicação de calor no local (bolsa de água quente); ou,
- Fisioterapia com o fim de alongar e reabilitar o músculo.
Nesses casos, o músculo demora de 1 a 2 meses para se recuperar totalmente. Livre da dor, você se sentirá tentado a voltar às práticas que desencadearem o problema, o que fatalmente levará a outra crise.
Então, a melhor coisa a fazer é evitar os fatores gatilho e esperar que o médico indique a hora certa de retomar a atividade esportiva, se este foi o motivo que levou à dor.
O tratamento da dor crônica
Nessas situações, a reabilitação pode demorar de 3 a 6 meses. E os médicos nem falam em cura, mas em melhora do sintoma. Aqui a dor já não é apenas uma condição física, mas, sim, um sofrimento. Por isso, o tratamento tem melhores resultados quando se adota uma abordagem multidisciplinar, que conta com diversos especialistas, como acupunturistas, fisioterapeutas (que aplicarão de massagens até ondas de choque), psicólogos, entre outros.
Esta é a abordagem que apresenta mais resultados positivos. Isso porque o objetivo de todo esse processo terapêutico é ajudar o paciente a encontrar novas formas de enfrentar a dor. Já a terapia medicamentosa inclui o uso de relaxantes musculares, analgésicos e anti-inflamatórios. Antidepressivos e anticonvulsionantes podem ser incluídos nos quadros mais críticos.
Maneiras de colaborar com o tratamento
- A orientação de um educador físico pode ajudá-lo a escolher as melhores práticas (de alongamento, aeróbicas e de fortalecimento). Você ainda se beneficiará das substâncias neuroendócrinas decorrentes desses treinos, cujos efeitos são analgésicos e reduzem o consumo de medicamentos;
- Mantenha um diário da dor se a sua for do tipo crônica. Isso melhora a consciência corporal e ajuda a tomar melhores decisões no dia a dia;
- Tenha uma atitude positiva e mais resiliente diante da vida, como aceitar a dor e encontrar meios de lidar com ela. E para isso não existe uma receita pronta;
- Invista em situações prazerosas. Conflitos familiares, de relacionamento amoroso ou envolvendo o trabalho podem agravar seus sintomas.
Conselhos médicos para prevenir a mialgia
- Mantenha uma rotina de exercícios adequados para o seu nível de condicionamento, respeitando os dias de repouso;
- Se passar a sentir dor constantemente, procure ajuda médica o mais rápido possível;
- Respeite seus limites;
- Atente-se à postura no trabalho e à ergonomia de mesas e cadeiras;
- Faça pausas regulares a cada 30/40 minutos se você trabalha sentado;
- Acerte a posição para dormir. Prefira a posição de lado, e travesseiros não demasiadamente macios;
- Aposte em hábitos de vida saudáveis.
Fontes consultadas: Licia Maria Henrique da Mota, presidente da comissão de Artrite Reumatoide da SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia); Liz Ribeiro Wallim, professora de Reumatologia da Faculdade de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Luiz Scocca, psiquiatra formado pela USP e membro da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) e APA (Associação Americana de Psiquiatria); Ricardo Kobayashi, ortopedista, presidente da Comissão de Dor da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia); Wolnei Caumo, anestesista com especialidade em dor e medicina paliativa, Coordenador do Laboratório de Dor e Neuromodulação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Revisão técnica: Licia Maria Henrique da Mota.
Referências:
- Kobayashi R, Kobayashi CBC, Kobayashi SA. Síndrome dolorosa miofascial e fibromialgia. In Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; Hungria JOS, Ikemoto RY, organizadores. PROATO - Programa de Atualização e Ortopedia. Cliclo 15. Porto Alegre: Artmed Panamerica; 2018.
- International Association for the Study of Pain. Epidemiology of Musculoskeletal Pain. Global Year Against Musculesketal Pain - October 2009/October-2010.
- Björn Gerdle and Britt Larsson. Potential Muscle Biomarkers of Chronic Myalgia in Humans - A Systematic Review of Microdialysis Studies. Intechopen. April 27th 2012. DOI: 10.5772/38822.
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