Nada parece dar certo? Você pode ser vítima do seus próprios (pré)conceitos
A criança-problema que sempre foi mal na escola. A mulher que se envolve em um relacionamento abusivo após o outro. O chefe que só sabe liderar com autoritarismo. Antes de julgá-los, saiba que, muitas vezes, alguns comportamentos frequentes também são motivados pelo que os outros pensam e esperam da gente.
Como assim? "Na psicologia, isso é chamado de profecia autorrealizadora. Que nada mais é do que uma crença que temos sobre nós mesmos, baseada nas expectativas que nos foram depositadas", explica a psicóloga e psicanalista Paula Peron, professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Em outras palavras, a forma como a gente pensa pode interferir na forma como se sente e, por consequência, na forma como se comporta.
O termo profecia autorrealizadora, popular na autoajuda, não é exatamente uma novidade. Foi cunhado pelo sociólogo norte-americano Robert K. Merton em 1949. Na época, o pesquisador estudou como um simples boato negativo sobre um banco pode levá-lo à falência: se correntistas acreditarem na previsão e se apressarem para retirar o dinheiro ali depositado, por fim, a crise vai se instalar de verdade.
O que você acredita se realiza sim
Mas por que a gente pode acreditar e se comportar da forma que os outros esperam? De acordo com Peron, a maneira como enxergamos a nós mesmos é uma construção que começa na infância e vai se moldando ao longo da vida. "Não nascemos prontos do ponto de vista emocional. Para criar essa imagem do que somos, passamos por diversas etapas que são baseadas nas interações e na leitura que fazemos do meio em que estamos inseridos", explica. E os estereótipos também influenciam, claro.
Um estudo da Universidade de Kent, na Inglaterra, mostrou que expectativas negativas em relação ao desempenho de meninos podem, de fato, interferir em sua performance escolar para pior. "Se todo mundo que eu considero importante acreditar que terei um resultado ruim, isso pode me levar a desistir de estudar ou então me deixar ansioso. O que, de um jeito ou outro, vai atrapalhar os estudos. Assim, a crença se confirma e o ciclo se retroalimenta", afirma o psicólogo clínico e educador Danilo Ciconi de Oliveira, da Fundação Casa, de São Carlos (SP).
Habituado a atender jovens em situações de risco, o especialista já comprovou na prática o quanto o autoconceito (crenças e valores que atribuímos a nós mesmos) pode ser influenciado por profecias autorrealizadoras. As consequências, garante, podem afetar diversos setores da vida, para além da educação. É o caso, por exemplo, da pessoa que nunca se arrisca, seja em um trabalho ou relacionamento novo, porque não acha que é capaz ou merecedora.
Todo mundo pode cair nessa?
Quem cresceu em um ambiente afetuoso, em que seus sentimentos eram valorizados, tende a ser menos vulnerável a profecias autorrealizadoras que possam se tornar obstáculos. "Se os meus pais tiveram um casamento construtivo, esse exemplo me 'empurra' para relações amorosas positivas, uma vez que conservo a convicção de que o amor faz bem", diz Peron. O que significa que se por acaso você se envolver com alguém que o trate mal, é provável que caia fora na primeira oportunidade.
Para descobrir se você não se tornou vítima de prognósticos alheios, preste atenção aos sinais. Um dos mais evidentes é a frustração. "Se algo vai mal em algum aspecto da sua vida há algum tempo, com situações ruins que se repetem, pode ser o momento de questionar se você não está preso ou mesmo investindo tempo e energia em crenças que não correspondem às suas possibilidades", alerta a especialista.
Isso porque até mesmo expectativas positivas, caso sejam infundadas, podem nos atrapalhar --como quando alguém se torna perfeccionista porque sempre recebeu muitos elogios e, por conta disso, não se permite errar. "É preciso tomar cuidado para não se deixar levar por idealizações", completa a psicóloga.
Detectar e se livrar do problema, no entanto, não é fácil. Em primeiro lugar, porque a crença pode ser inconsciente, o que vai demandar ajuda profissional para vir à tona. A palavra-chave, então, é o autoconhecimento: quais são os seus (reais) talentos e fraquezas? O que os outros dizem sobre você é mesmo verdade? As suas conquistas e derrotas comprovam isso?
"A psicoterapia pode ajudar a responder essas questões e a mudar comportamentos, que por sua vez irão gerar resultados e emoções diferentes e, por fim, romper crenças, muitas vezes disfuncionais, resultantes de profecias autorrealizadoras", conclui Oliveira. Vale a reflexão.
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