Conversa de elevador pode render boas experiências: entenda
Resumo da notícia
- Conversas simples no elevador ajudam a pessoa a ter mais empatia e a descobrir pequenas afinidades
- O hábito pode até ajudar a quebrar um pouco a rotina, trazendo bem-estar
- Para trazer assuntos interessantes, é importante ter repertório e estar disposto a se abrir
Na vida, você é a pessoa que puxa papo no elevador e na fila do banco, ou você foge dessas situações? Por mais inofensivos que eles possam parecer, esses momentos, na verdade, são meios de criar conexões com o outro, podendo trazer ganhos para os dois lados. Mas, para isso, é preciso ir além do clássico e automático "será que vai chover hoje?", seguido de um silêncio constrangedor.
Papo informal pode se transformar em empatia e afinidade
Descobrir algo sobre alguém, por mais simples que seja, já é algo que fará vocês se sentirem mais próximos. Quando não sabemos nada sobre uma pessoa, tendemos a não enxergá-la como um igual. A gente sabe que ali existe um ser humano, "mas não desenvolvemos empatia por ele", explica a psicóloga Angelita Corrêa Scardua, pesquisadora do Departamento de Psicologia Social da USP (Universidade de São Paulo).
Agora, uma vez que você se abre para a outra pessoa, mesmo que seja em um simples "bom dia", olhando para o outro, sorrindo, ouvindo de fato a voz e a resposta dele, naquele momento a pessoa se humaniza. "Você enxerga o outro demonstrando algum tipo de emoção, seja com um sorriso ou com uma cara mais fechada, de um jeito ou de outro essa pessoa sinaliza emoção, então você reconhece ela como igual", afirma Scardua. Dessa forma, abrimos espaço para empatia. Esse é o principal ganho dessa conversa informal.
Você também pode descobrir afinidades com pessoas completamente improváveis e inesperadas. Em um dia de muita chuva, por exemplo, alguém ao seu lado comenta sobre como a cidade fica caótica com esse tempo, mas que na realidade ela gosta de chuva mesmo assim. Então, você se dá conta e afirma que também gosta de chuva. Pode parecer algo totalmente banal, mas essa simples afinidade já traz a sensação de pertencimento, de que vocês fazem parte de um grupo.
"Para o ser humano é muito importante se reconhecer em um grupo", conta Scardua. Ao ser reconhecido pelo outro, ele te enxerga e você o enxerga e, assim, vocês quebram barreiras e abrem espaço para as pessoas. Pode ser que essa não venha a se tornar uma relação mais profunda, mas abre espaço para essa possibilidade no momento em que as partes se mostram dispostas.
Por fim, há o benefício de sair um pouco do estresse do seu dia a dia. "Esses contatos oferecem uma descontinuidade na rotina, são espaços de respiro em que a gente poderia introduzir conversas indeterminadas", diz o psicólogo Christian Ingo Lenz Dunker, professor do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo).
Como ser intencional no "papo de elevador"?
Ao embarcar em uma "small talk", termo em inglês para esse tipo de papo de elevador, é preciso deixar de se orientar pela funcionalidade da conversa, ou seja, não pensar só no que queremos solucionar ali ou apenas cumprir um protocolo. Se nos guiarmos dessa forma, acabamos perdendo boas ocasiões para fazer contatos empáticos com o outro.
Estamos tão acostumados a informar direções, quando alguém pergunta como chegar em determinado lugar, ou a resolver problemas em geral, que não percebemos que naquele contato existe uma pessoa com um estado emocional, com inquietudes, inseguranças, assim como nós. Então, quando conseguimos nos deslocar da nossa bolha e olhar para o outro, podemos ver quem é aquela pessoa.
"Esse é um princípio de que, se você quer confiança, ofereça confiança e abertura. Se você demonstra um interesse genuíno pelo outro, por meio do seu tom de voz, pela forma como faz sua pergunta, é provável que receba interesse de volta", explica Dunker. Agora, se você presumir que todos estão apressados como você e só usá-los para resolver problemas, é basicamente o que você também vai receber em troca.
Uma vez disposto a embarcar de forma mais aberta nessa conversa, os caminhos que o papo percorrerá são os mais variados, alguns mais ricos do que outros. Mas, de acordo com Dunker, a verdadeira experiência acontece a partir do repertório que será depositado no "small talk". Tudo vai depender da formação cultural e de vivência de cada um. Para isso, vale colecionar bons filmes na bagagem, boas histórias de vida, conhecer lugares legais etc. "A riqueza do encontro com o outro é a matéria prima do que vai vir a seguir. Se você só consome coisas que são pobres, a conversa vai acabar por falta de gasolina", conclui ele.
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