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Procrastinação não é preguiça: sentimentos podem estar te atrapalhando

Procrastinação envolve colocar outras tarefas antes daquelas que causam incômodos - iStock
Procrastinação envolve colocar outras tarefas antes daquelas que causam incômodos Imagem: iStock

Amanda Cruz

Colaboração para o UOL VivaBem

07/06/2019 04h00

Imagine alguém que tem uma tarefa para realizar, mas empurra ela por dias e dias, coloca outras prioridades na frente, até não ter mais jeito. Isso te lembra alguma coisa? À primeira vista, a procrastinação pode ser facilmente associada à preguiça e desorganização, mas na verdade esse hábito tem origens mais complexas, que vão além de listar as tarefas do dia na agenda.

Procrastinação é diferente de preguiça

Não, procrastinar não é preguiça. Do ponto de vista psicológico, a procrastinação é um problema de regulação emocional. Já a preguiça ou a desorganização são questões mais gerais, então, uma pessoa preguiçosa vai ter essa postura para tudo, assim como alguém que não consegue se organizar, vai ser desorganizado com tudo.

Para saber se você está, de fato, procrastinando ou se só precisa acabar com a preguiça, basta pensar que quem procrastina acaba fazendo diversas outras coisas no lugar do que deveria realizar, ao contrário de alguém preguiçoso ou desorganizado. "Ela não quer lidar com aquilo. Às vezes, a pessoa tem que fazer até uma tarefa que gosta, mas se aquilo representa algo que traz medo ou insegurança, ela vai acabar fazer outras coisas na frente", afirma a psicóloga Angelita Corrêa Scardua, pesquisadora do Departamento de Psicologia Social da USP (Universidade de São Paulo).

Medo e insegurança na essência da procrastinação

Para saber a origem da sua procrastinação, é preciso compreender sua própria angústia, seus medos e inseguranças. Se você tem uma tarefa na qual está sendo pressionado e, quanto maior a pressão, mais você posterga isso, é necessário entender quais registros você tem dentro de si que foram experiências ruins e que lembram o que você está vivendo, levando-o a adiar essa execução.

Se hoje alguém tem medo de entregar um relatório, por exemplo, possivelmente foi medo dos pais ou do professor na infância. "Assim, eu fico inseguro porque estou transferindo a experiência da minha temporalidade vivida para o hoje", conta a psicóloga Saleth Salles Horta, professora de pós-graduação em Psicologia Clínica com Abordagem Fenomenológica Existencial Gestáltica da UFMG.

Um estudo feito pelo Departamento de Psicologia da Universidade de Carleton, no Canadá, expôs justamente isso, que existem ligações entre a procrastinação e as emoções negativas, como frustração e ressentimento. Assim, fica ainda mais complicado conseguir dar conta das tarefas as quais já sabemos que nos trarão sensações ruins. Por isso, tendemos a optar por fazer algo que nos trará um sentimento melhor.

A pessoa que procrastina está com dificuldade em lidar com certas emoções negativas e, por isso, ela evita fazer a tarefa que pode causar ansiedade, insegurança, medo de rejeição, fracasso e é até sucesso. "O perfeccionismo, por exemplo, impede que a pessoa conclua os processos e submeta-os para avaliação do outro. Assim, ela evita entrar em contato com essas emoções", explica Scardua.

Muitas vezes pode acontecer de essa experiência traumática não ser algo que a pessoa consiga lembrar, então ela não tem consciência disso. O medo e a ansiedade surgem quando ela se depara com alguma atividade que remete a esse histórico ruim, mas ela não sabe o porquê. Então, acaba arrumando mil outras coisas para fazer, menos o que tem que ser feito, porque essas outras coisas vão aliviar esse sentimento e ela não terá que lidar com as emoções. "E as redes sociais são o paraíso para o procrastinador que, quando percebe, passou o dia inteiro ali", brinca Scardua.

Como vencer a procrastinação

Um caminho é buscar se conhecer melhor, entender suas motivações. Isso pode ser conquistado com leitura e autoconhecimento, mas uma ajuda profissional é especialmente bem-vinda, afinal, com o auxílio de um psicólogo você conseguirá encontrar caminhos para solucionar muitas problemáticas internas que podem até estar conectadas.

Além disso, geralmente a procrastinação requer empenho para ser superada. "A busca de ajuda é importante, principalmente porque a pessoa que tem dificuldade para encarar as emoções pode até conseguir se controlar para desempenhar a tarefa que estava procrastinando, mas se ela não resolver o emocional, vai ter aquele problema lá na frente de novo", ressalta Scardua.

Depois do autoconhecimento, um segundo passo é a parte prática, ou seja, estabelecer metas do que precisa ser resolvido. Mas o mais importante é determinar metas possíveis. Se quero começar uma atividade física e nunca começo, porque é algo que me angustia, explica Scardua, não adianta eu ter o objetivo de ir todos os dias na academia, porque isso dificilmente vai acontecer. E aí vem a frustração. Agora, tentar ir uma vez por semana na academia é uma meta atingível. "É preciso operacionalizar uma estratégia progressiva para superar a procrastinação", conclui Scardua.

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