Pfizer ocultou pesquisa com relação entre remédio e Alzheimer; entenda
Resumo da notícia
- Pfizer foi acusado de omitir a relação de um de seus medicamentos, indicado para artrite reumatoide, e uma redução do risco de Alzheimer
- A empresa alega que os dados não eram tão conclusivos, mas especialista em ética fala sobre o prejuízo que isso causa ao paciente e sociedade
- No Brasil as farmacêuticas têm que divulgar os resultados, sejam eles bons ou ruins, mas como o caso ocorreu nos EUA, a situação é diferente
- Normalmente a não divulgação de resultados de pesquisas costuma ser uma das estratégias adotadas pelas empresas, o que foi negado pela Pfizer em nota
A gigante farmacêutica Pfizer está sendo acusada de omitir um achado importante: as pesquisas com um medicamento para o tratamento de artrite reumatoide indicaram que ele reduziria o risco de doença de Alzheimer. Isso foi o que apontou uma reportagem do jornal norte-americano "The Washington Post" publicada no último dia 4 de junho.
"O Enbrel poderia potencialmente prevenir, tratar e retardar a progressão da doença de Alzheimer", informa um documento obtido pelo jornal. Essa é exatamente uma das doenças que mais desafiam pesquisadores de todo mundo, já que até agora pouco se sabe sobre prevenção e tratamentos efetivos.
"Nesse caso, quando uma medicação eficaz deixa de existir por determinação da empresa, causa um prejuízo tanto para o paciente quanto para a sociedade", explica o médico Jorge Alves Venâncio, coordenador da Conep (Comissão Nacional de Ética e Pesquisa).
Do outro lado, a empresa diz que a "divulgação de qualquer análise ou dados de maneira equivocada pode gerar uma falsa esperança para pacientes que sofrem de uma doença".
Segundo o "Post", a Pfizer decidiu não divulgar o resultado nem avançar nas pesquisas sobre o remédio, o que exigiria um investimento de US$ 80 milhões (cerca de R$ 320 milhões). A medida foi adotada depois de uma série de discussões internas e, segundo a farmacêutica em comunicado oficial, não teve relação com questões financeiras, mas foi embasada pela ciência.
Não divulgação foi baseada na ciência, diz Pfizer
"A escolha de não publicar dados de análise estatística de um banco de dados de seguradoras, bem como de não divulgar quaisquer informações preliminares, foi determinada por falta de fundamentação científica, ou seja, ausência de estudos mais aprofundados e evidências que comprovem a eficácia do medicamento para o tratamento da doença de Alzheimer", disse a companhia em nota.
Venâncio explica que, no Brasil, as farmacêuticas têm que divulgar os resultados, sejam eles bons ou ruins. "Isso está previsto por uma regulamentação, mas sabemos que não acontece. E, se eles não tornam esses dados públicos, é muito difícil descobrir, porque é um ambiente bem controlado pelas farmacêuticas", explica o coordenador da Conep. "É algo condenável, mas não é surpreendente", diz.
Em caso de descumprimento das normas vigentes, a comissão costuma fazer uma denúncia ao Ministério Público, à polícia, ao Ministério da Saúde ou ao Conselho Federal de Medicina. O caso, no entanto, aconteceu nos Estados Unidos. "Por aqui, o que não podemos, por exemplo, é obrigar a empresa a continuar as pesquisas", diz o médico.
A Pfizer adquiriu os direitos de comercializar Enbrel em 2009, quando tinha a patente do medicamento. Agora, no entanto, a empresa enfrenta a concorrência dos genéricos.
Não divulgação de resultados de remédios sem patente é comum
Nesse contexto, Venâncio diz que a não divulgação de resultados de pesquisas costuma ser uma das estratégias adotadas pelas empresas. "Isso acontece para manter o monopólio de um medicamento ou para garantir uma reserva de mercado", diz Venâncio. "Elas acabam guardando as informações para usar no futuro, no momento mais adequado. Por isso não divulgam, para não estimular os concorrentes".
Em nota, a companhia disse que trabalha arduamente para desenvolver medicamento que trarão um impacto positivo e efetivo em inúmeras doenças. "A Pfizer está comprometida em trazer grandes avanços que mudem a vida dos pacientes e, para tanto, tem um dos pipelines mais robustos da indústria".
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