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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Dor pélvica pode impactar a vida sexual; veja causas e como tratar

Dor na parte baixa do abdome pode ter causas ginecológicas, intestinais, renais e até neurológicas - Getty Images
Dor na parte baixa do abdome pode ter causas ginecológicas, intestinais, renais e até neurológicas Imagem: Getty Images

Cristina Almeida

Colaboração para o UOL VivaBem

11/06/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Dor pélvica é todo incômodo sentido na parte inferior do abdome, abaixo do umbigo
  • As causas são variadas e podem ser ligadas a problemas gastrointestinais, urológicos, neurológicos, ginecológicos, musculoesqueléticos e psicossociais
  • O diagnóstico nem sempre é fácil e com frequência é feito pela eliminação de outras hipóteses; o tratamento é multifatorial
  • A doença pode impactar negativamente a vida sexual de mulheres e homens

Desafiador. Este é o adjetivo que melhor define a dor pélvica, que impacta negativamente a qualidade de vida das mulheres, especialmente aquelas em idade reprodutiva. Isso porque o sintoma nem sempre tem uma causa definida. Homens também sentem o incômodo, embora seja menos comum.

Embora a região da pelve consista na cavidade na parte inferior do tronco formada pelos dois ossos do quadril (ilíacos), sacro e cóccix, quando se fala em dor pélvica, a referência é a qualquer incômodo localizado na parte inferior do abdome (abaixo do umbigo). Assim, toda sensação dolorosa nessa parte do corpo tem como potencial origem os órgãos situados nessa área: intestino, útero, ovário, trompas e até músculos, nervos e demais estruturas que passam por ali. Daí se dizer que a dor pélvica pode ter um componente abdominal, e não só pélvico. Aliás, até o sistema nervoso pode estar envolvido.

Por que isso acontece?

A dor pélvica pode ter causas relacionadas a problemas gastrointestinais, urológicos, neurológicos, ginecológicos, musculoesqueléticos e até psicossociais:

Causas ginecológicas

  • Gravidez ectópica (quando o embrião se forma fora do útero)
  • Endometriose
  • Aderências
  • Doença inflamatória pélvica (DIP)
  • Dismenorreia e dores ovulatórias

Causas urológicas

Causas gastrointestinais

Causas musculoesqueléticas

  • Pubalgia
  • Problemas na articulação do quadril ou na região lombar
  • Postura

Causas neurológicas

  • Neuropatias (doenças dos neurônios), por exemplo, decorrentes de cirurgias que levam à lesão dos nervos da parede abdominal inferior, como a cesariana e a histerectomia (remoção do útero) -- duas das cirurgias mais realizadas em todo o mundo.

Causas psicossociais

Como reconhecer a dor

As características do desconforto variam, mas ele costuma ser descrito como cólica, queimação, aperto ou peso, além de ser descrito como dor aguda (aparece de repente) ou crônica (dura ao longo do tempo). A primeira tem curta duração e é considerada importante porque se trata de um alerta de que algo não vai bem no corpo.

A dor aguda pode ser:

  • Eventual e leve: é aquela semelhante a uma cólica intestinal ou menstrual; a dor que se sente no meio da menstruação ou durante a ovulação. Geralmente passa sozinha e nem sempre precisa ser medicada.
  • Intensa e associada a outros sintomas: pode haver perda de consciência, alteração do batimento cardíaco, sangramento genital. Nesses casos, a intervenção médica deve ser imediata e as causas mais comuns são a gravidez ectópica, doença inflamatória pélvica (DIP aguda), apendicite, cólica urinária, infecções ginecológicas e até abcessos.

Já a dor crônica é definida como aquela que persiste há mais de 3 ou 6 meses, tem mecanismos próprios, é danosa por si só e pode persistir mesmo que a causa de origem seja sanada. O critério para defini-la deve considerar o nível de incômodo com esse mal-estar.

Quem precisa ficar atento

Mulheres que se encontram em idade reprodutiva, apresentam cólicas menstruais intensas e progressivas, infertilidade, as que passaram por cirurgias abdominais, bem como as que já tiveram infecções ginecológicas no passado.

Entre os homens, infecções relacionadas às doenças sexualmente transmissíveis (DST), câncer e inflamação na próstata podem levar ao sintoma. Há até uma patologia denominada síndrome da dor pélvica crônica masculina, cuja causa é pouco conhecida, mas se relaciona a fatores como infecções por vírus e outros organismos, traumas (no períneo ou uretra), problemas autoimunes ou neurogênicos e disfunção ou espasmo muscular no assoalho pélvico.

Quando procurar ajuda médica

A sugestão dos especialistas é que toda sensação dolorosa que cause grande insegurança ou incômodo precisa ser valorizada, pouco importando se é intensa ou não. Como as origens da dor pélvica são variadas, é preciso estar atento a outros sintomas relacionados.
Por exemplo, diante da presença de sinais como dor repentina de alta intensidade, sangramento genital, febre, mal-estar, aceleração do batimento cardíaco e queda da pressão, concomitantes com a dor pélvica, o mais adequado é consultar um ginecologista, urologista ou gastroproctologista.

Nas dores agudas, o clínico geral tem condições de identificar a possível causa e encaminhá-lo para um especialista.

Como é feito o diagnóstico

Amplo e nem sempre fácil, o diagnóstico da causa específica, com frequência, se dá pela eliminação de outras hipóteses (diagnóstico diferencial). Em muitos casos, esse processo é simples porque a dor vem acompanhada por outros sintomas. Daí a importância de o médico ouvir a sua história e examinar o seu corpo.

Nas dores agudas, os exames solicitados pelo ginecologista, em geral, são o teste de gravidez, ultrassom transvaginal ou abdominal, além de hemograma — se houver comprometimento do estado geral de saúde da paciente. Para a investigação da dor crônica, o ultrassom é fundamental, mas outros exames podem ser necessários.

O gastroenterologista ou proctologista poderá solicitar colonoscopia, defecorressonância, manometria anorretal e ultrassom endoanal, para eventual investigação de distúrbios do assoalho pélvico.

Quanto aos exames urológicos, exame de urina, ultrassom e até tomografia computadorizada podem ser pedidos. Se a dor tiver origem ortopédica, a radiografia, ressonância magnética, neurografia do nervo ciático, se for o caso, são as práticas mais comuns.

O que esperar do tratamento

As estratégias terapêuticas serão variadas, a depender da origem da dor e do diagnóstico. Entre os ginecologistas, a conduta abrangerá o uso de medicamentos como antibióticos (nos casos de infecções nas trompas e nos ovários), contraceptivos hormonais e até cirurgia (para apendicite, abcesso, gravidez ectópica, endometriose etc.).

Na dor crônica, o tratamento multidisciplinar é fundamental, ou seja, com frequência outros profissionais, como psicólogos e fisioterapeutas, trabalham juntos. As taxas de resolução são altas, embora esse tipo de dor demore um tempo maior para regredir. A cirurgia como estratégia de diagnóstico e tratamento deve ser muito bem indicada, pois ela própria pode levar a complicações que também causam dor.

Quando as causas estão ligadas à gastroenterologia e à proctologia — por exemplo, síndrome do intestino irritável, doenças inflamatórias intestinais e constipação — o tratamento geralmente combina mudanças nos hábitos alimentares, prática de atividade física, remédios e apoio psicológico. Os casos mais graves podem demandar cirurgia, lembrando que tudo vai depender da intensidade dos sintomas e da avaliação médica.

Na urologia, a boa notícia é que em 80% dos casos há uma melhora. Mas o paciente precisa esperar de 2 a 6 meses para observar essa evolução. Geralmente os médicos associam medicamentos como analgésico, antidepressivo e até antialérgico. Este último tem sido útil no tratamento da cistite crônica, atuando contra toxinas que geram respostas autoimunes e agravam a dor. Além disso, práticas como estimulação elétrica são estratégias disponíveis para o controle do incômodo.

Atitudes que colaboram com o tratamento ou previnem a dor pélvica:

  • Procure ajuda médica se a dor demorar a passar;
  • Evite a automedicação. Além de camuflar o sintoma, você pode causar danos irreversíveis ao sistema gastrointestinal;
  • Adote bons hábitos de alimentação. Esse é um dos pilares para o bom funcionamento do organismo como um todo e previne a obesidade;
  • Colabore com a saúde renal evitando o consumo de alimentos e bebidas irritantes ou ácidos, como café, álcool, chocolate, pimenta e mostarda;
  • Hidrate-se de acordo com as suas necessidades pessoais;
  • Controle o peso para evitar o aumento da gordura abdominal -- ela sobrecarrega os órgãos da região;
  • Pratique atividade física moderada. Além de fortalecer os músculos, isso contribui para o alívio da dor;
  • Evite treinos intensos para o fortalecimento da região pélvica. A prática tende a potencializar a dor local;
  • Tenha hábitos sexuais saudáveis a fim de diminuir o risco de contrair DSTs, causas comuns de infecções pélvicas crônicas;
  • Habitue-se a urinar após as relações sexuais e antes de dormir e evite reter a urina. Isso melhora a saúde dos rins e bexiga e previne infecções;
  • Avalie com seu médico a possibilidade de evitar o parto cesárea e a histerectomia. Essas cirurgias são causas de aderências na região pélvica e dor crônica;
  • Invista no autocuidado para melhorar a saúde emocional e psicológica: 60% das mulheres com dor pélvica crônica foram vítimas de abuso físico, sexual ou negligência dos pais;
  • Esteja aberta para terapia de grupo. O contato com outras pessoas permite olhar para o sintoma de forma mais ampliada, levando até à compreensão do papel da dor na vida, além das questões psicossomáticas eventualmente presentes;
  • Cultive uma atitude positiva diante da vida.


Fontes: Omero Benedicto Poli Neto, professor associado do departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FMUSP Ribeirão Preto (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo ? Ribeirão Preto); Simone Bergamasco Ghelman, médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia) e Patologia do Trato Genital Inferior pela ABPTGIC (Associação Brasileira de Colposcopia e Patologia do Trato Genital Inferior); Jaqueline Jéssica De Marchi, cirurgiã-geral, docente do Departamento de Clínica Cirúrgica da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) e coordenadora da Liga de Coloproctologia da Universidade de Cuiabá; Adriana Peterson Mariano Salata Romão, psicóloga e sexóloga, com doutorado em ginecologia pela FMUSP Ribeirão Preto; Flávio Trigo, urologista, professor livre-docente de Urologia da FMUSP e presidente da SBU-SP (Sociedade Brasileira de Urologia); Tiago Gomes, médico ortopedista do Hospital Geral de Fortaleza e membro da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia).
Revisão técnica: Omero Benedicto Poli Neto.

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