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Remédio prolonga a vida de mulheres com câncer de mama avançado

Sheila Hidalgo, 50, de Orange, Texas, que aos 40 anos foi diagnosticada com câncer de mama, que depois se espalhou para seu fígado, pulmões e ossos - William Chambers/The New York Times
Sheila Hidalgo, 50, de Orange, Texas, que aos 40 anos foi diagnosticada com câncer de mama, que depois se espalhou para seu fígado, pulmões e ossos Imagem: William Chambers/The New York Times

Denise Grady

Do New York Times

22/06/2019 04h00

Foi demonstrado pela primeira vez que uma droga que pode retardar a progressão do câncer de mama em estágio avançado prolonga a sobrevivência em mulheres cuja doença começou antes ou durante a menopausa, relataram no sábado os pesquisadores.

Entre as pacientes que tomaram a droga junto com um tratamento padrão, 70% ainda estavam vivas 3,5 anos depois, em comparação com somente 46% daquelas que receberam apenas o tratamento padrão.

O tratamento padrão usa drogas para bloquear ou parar de produzir o hormônio estrogênio, que alimenta o crescimento do câncer de mama em muitas pacientes.

Os novos achados se aplicam apenas às mulheres que ainda não chegaram à menopausa ou que ainda estão passando por ela, e cujos tumores são sensíveis ao estrogênio, mas que não têm uma proteína chamada HER2.

"Essa é uma notícia maravilhosa", disse em um email a dra. Sylvia Adams, especialista em câncer de mama e pesquisadora do Centro de Câncer Langone Health's Perlmutter da Universidade de Nova York. Ela não fazia parte do estudo, o qual chamou de "um marco muito importante".

E acrescentou: "É um experimento digno de destaque, pois há poucos estudos com câncer de mama avançado mostrando um benefício claro de sobrevivência."

As pacientes mais jovens são uma preocupação em particular, porque "o câncer de mama é conhecido por ser mais agressivo e estar associado a um pior prognóstico nas mulheres mais jovens do que nas mais velhas", escreveram os pesquisadores no "The New England Journal of Medicine", que publicou o artigo on-line esta semana. Os resultados serão apresentados na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, em Chicago.

"Acho que há bastante otimismo agora que ampliamos o limite de sobrevivência, por isso podemos ir mais longe", disse o dr. Debu Tripathy, um dos autores do estudo e presidente do departamento de oncologia de mama do M. D. Anderson Cancer Center, em Houston. "Quando você quebra um limite, aprende a quebrar outros."

Cerca de 25 por cento dos cânceres de mama nos Estados Unidos são diagnosticados em mulheres na pré-menopausa, disse Tripathy. Ele acrescentou que, nos países mais pobres, a proporção de mulheres jovens é maior, porque o risco não continua subindo com a idade, como acontece em áreas mais ricas, onde parece estar ligado ao ganho de peso.

Nos Estados Unidos, são esperados 268.600 novos casos de câncer de mama este ano, e 41.760 mortes. Globalmente, há 2,1 milhões de novos casos por ano, e no ano passado houve cerca de 627 mil mortes.

A droga usada no ensaio clínico, o ribociclibe, é uma terapia direcionada, que bloqueia uma enzima que ajuda o câncer a crescer. Ela foi aprovada pela Administração de Alimentos e Drogas (FDA) em 2017 para mulheres na pós-menopausa com câncer de mama avançado e, em seguida, em 2018 para mulheres mais jovens.

As aprovações se basearam na capacidade de brecar o progresso do câncer de mama. Mas interromper esse progresso nem sempre ajuda as pacientes a viver mais tempo. A droga pode parar de funcionar, e então o câncer pode voltar e resistir a um tratamento adicional.

O ribociclibe é uma pílula, e a dosagem padrão custa US$ 12.553 por mês, de acordo com Dana Cooper, porta-voz da fabricante, a Novartis. As mulheres podem tomar a droga por meses ou por vários anos.

A empresa desenvolveu e pagou pelo estudo, compilou os dados e contratou escritores médicos profissionais para ajudar a preparar o artigo da revista. Pesquisadores de centros médicos nos Estados Unidos, na Ásia, na América Latina e na Europa participaram e "atestaram a exatidão" dos dados, informou o artigo da revista.

As mulheres que tomam a droga têm de ser monitoradas com cuidado, porque esta pode causar anomalias perigosas no ritmo cardíaco, bem como problemas de fígado e rins e baixas contagens no sangue, que podem aumentar o risco de infecção. Como todas as terapias direcionadas, pode parar de funcionar quando o câncer desenvolve resistência a ela.

Estudos de outras duas drogas da mesma classe, que também interrompem a progressão do câncer de mama, não indicaram benefício de sobrevivência. Pesquisas sobre elas ainda estão sendo feitas.

Tripathy disse que não estava claro se o benefício de sobrevivência do ribociclibe era único ou se acabaria aparecendo também com outros medicamentos. Além disso, ele acrescentou que não se sabe se o ribociclibe pode prolongar a sobrevivência em pacientes na pós-menopausa e nas mais jovens.

O estudo incluiu 672 mulheres com idades entre 18 e 59, com 72 por cento delas com 40 anos ou mais. Todas tinham câncer de mama avançado, o que significa que ele retornou após o tratamento ou que começou a se espalhar e já não era considerado curável. Todas tinham tumores sensíveis ao estrogênio.

No passado, o tratamento padrão para as mulheres nessa situação envolvia tratamentos hormonais como o tamoxifeno, para bloquear os efeitos do estrogênio, ou medicamentos chamados inibidores da aromatase, para ajudar a parar a produção de estrogênio. Mulheres na pré-menopausa que tomam inibidores de aromatase também precisam de outra droga para encerrar a atividade dos ovários.

Mas, em mulheres com câncer avançado, a terapia hormonal muitas vezes para de funcionar depois de um ano mais ou menos.

Todas as mulheres no estudo passaram por alguma forma de tratamento hormonal, e metade delas foi escolhida aleatoriamente para também tomar ribociclibe.

Sheila Hidalgo, de 50 anos, de Orange, no Texas, foi uma das participantes. Seu câncer de mama, diagnosticado em 2009, quando ela tinha 40 anos, havia se espalhado para o fígado, os pulmões e os ossos.

Ela tomou a droga da Novartis de janeiro de 2015 até setembro de 2017. Durante esse tempo, um tumor no pulmão e vários no fígado desapareceram, e um grande, no fígado, encolheu de mais de seis centímetros para meio centímetro, disse ela.

Seu único efeito colateral foi "certa fadiga".

Depois de pouco mais de dois anos e meio, o câncer do fígado começou a crescer de novo, "meio que depressa", disse ela. Como o ribociclibe parecia ter parado de funcionar para ela, os médicos mudaram sua droga.

Mas Hidalgo acredita que tomar ribociclibe ajudou. Ela agora está fazendo quimioterapia, e afirmou: "Ainda tenho uma longa vida pela frente."

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