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Histórias de quem mudou hábitos em busca de mais saúde


"Atingi 104 kg após relação abusiva, mas decidi cuidar de mim e emagreci"

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Bárbara Therrie

Colaboração para o UOL VivaBem

04/07/2019 04h00

A professora universitária Juliana Oliveira, 38, teve câncer, dois AVC e chegou a pesar 104 kg devido a relacionamentos abusivos, pois as humilhações que sofria a faziam descontar a frustração na comida. A seguir, ela conta como teve forças para vencer a situação e emagrecer:

"Minha relação com a alimentação sempre foi emocional, eu tinha a mesma dependência que um viciado em álcool e drogas. Ao mesmo tempo que comer me dava prazer, também era um refúgio das minhas frustrações e gerava culpa quando eu me excedia.

juliana 1 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Durante muito tempo segui uma dieta ruim. Comia seis pães por dia, frituras, lanches, pizza, um pote de sorvete sozinha, tomava um litro de leite e dois de refrigerante. Comia até vomitar. Quando queria emagrecer, fazia dietas restritivas e usava laxantes e diuréticos.

Meu peso sempre oscilou, mas o primeiro ganho considerável aconteceu em 2006, quando descobri um câncer no colo do útero aos 26 anos de idade. Na época, não contei para ninguém com receio que tivessem pena de mim. Fiz radioterapia, tomei medicação e engordei 20 kg. Após dois anos de tratamento, recebi a notícia de que houve a remissão completa da doença. Três anos depois, sofri um AVC isquêmico no banheiro de casa.

Ao longo da vida, tive vários relacionamentos abusivos que contribuíram para que ficasse obesa. Fui vítima de violência verbal, física e sexual. Meus ex-namorados gritavam, me chamavam de gorda, horrorosa e me batiam.

Durante três anos, morei com um rapaz que, às vezes, me estuprava. Um dia, fui à delegacia para dar queixa por agressão e porque ele queria me obrigar a ter relação sexual. O policial disse que isso não era estupro pois eu era mulher dele e tinha de cumprir minhas obrigações com meu namorado.

juliana 2 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Eu me senti descartável. Aquele agente que, em tese, deveria me proteger, me julgou e puniu. Fiquei morrendo de vergonha e fui embora sem fazer a denúncia. Não conseguia desabafar essas humilhações, chorava e descontava na comida.

Em 2013, atingi os 104 kg, procurei um médico para fazer a bariátrica, mas meu convênio não cobria a cirurgia. Resolvi que ia emagrecer por conta própria e alcançar o 'corpo dos sonhos'. Eu me matriculei na academia e comecei a treinar duas vezes por dia. Também iniciei uma dieta de atleta de fisiculturista que achei na internet.

Comia oito vezes por dia, não chupava uma bala, seguia um cardápio que incluía frango, ovo, batata-doce e salada. Só que aí cometi o erro de usar anabolizantes para ficar 'marombada'. Eu não tinha parâmetro, fui muito radical. Sequei 46 kg em um ano e dez meses, cheguei aos 58 kg.

Fiquei com o corpo perfeito, mas era escrava de uma aparência que não conseguia sustentar. Vivia triste, irritada e mal-humorada devido aos efeitos colaterais das bombas que eu tomava. Isso prejudicou a minha saúde

Foi um preço que não valeu a pena pagar. Em meio a esse processo, sofri um segundo AVC e fiquei 18 dias internada na UTI.

juliana 3 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Um tempo depois, eu me separei do meu ex, entrei em depressão e engordei 20 kg. Comecei a fazer terapia e percebi que o problema da compulsão alimentar acontecia devido aos relacionamentos que mantinha com esses abusadores. Eu mudava o personagem, mas a história sempre se repetia. Eu me desestabilizava e exagerava na comida.

Nesse período, fiquei sozinha, investi toda minha energia para cuidar de mim e dos meus sentimentos. Identifiquei meus pontos fortes e fracos, desenvolvi um autoconhecimento e me perguntava: estou comendo por fome biológica ou emocional? Passei a ter estabilidade e a emagrecer, mas dessa vez, de forma moderada e com a ajuda de especialistas.

Por indicação de um endocrinologista, fiz a dieta HCG durante um ciclo de 26 dias, e agora estou seguindo a dieta cetogênica, com o acompanhamento da nutricionista. Meu c ovos, queijos, nozes, bacon, amendoim, brócolis, tomate, salmão, couve-flor, berinjela, morango, blueberry, azeite, óleo de coco, óleo de abacate. Além disso, tenho um dia livre da semana para comer o que eu quiser.

Meus treinos são montados por uma personal trainer, que me manda a planilha por e-mail. Faço musculação de segunda a sábado e ando de bike todos os dias por uma hora. Em um ano, eliminei 11 kg, estou com 69 kg, e ainda preciso perder peso porque tenho gordura visceral e no coração.

Sei bem que, no meu primeiro processo de emagrecimento, fiz escolhas extremas para meu organismo e minha mente. Nesse atual, embora mais lento, o foco está na saúde e bem-estar

Hoje, não sou mais obcecada nem escrava do meu corpo, encontrei o equilíbrio. Não sou obesa e nem 'saradona', tenho o corpo de uma mulher comum. Aceito minhas imperfeições, minhas celulites e gordurinhas. Estou bem comigo mesma, eu me olho no espelho e me acho maravilhosa. Estou namorando um americano, o Mark, e vamos nos casar esse ano.

Para uma pessoa que já venceu a morte três vezes, na luta contra o câncer e dois AVC, meu propósito não se resume mais em ter menos quilos na balança, mas em ser feliz".

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