Chip usa material genético para detectar vírus zika em 90 minutos
No Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, pesquisa desenvolveu um dispositivo capaz de detectar o vírus da zika antes do aparecimento dos sintomas da doença. O dispositivo funciona como um biossensor, no qual um chip é colocado em contato com uma gota de amostra. O chip contém material genético complementar ao do vírus e quando ele é encontrado, o biossensor emite um sinal elétrico que indica sua presença no sangue. O método, baseado em detecção molecular, detecta o vírus zika em 90 minutos.
"Embora existam métodos avançados para a detecção molecular do zika vírus, como o PCR em Tempo Real, somente os testes rápidos baseados na detecção sorológica ou antígeno-anticorpo estão mais acessíveis à população", diz o professor Valtencir Zucolotto, que coordenou a pesquisa. "Esses tipos de testes rápidos detectam o vírus zika somente após a manifestação dos sintomas da doença, a chamada fase crítica."
Segundo o professor, o diagnóstico tardio dificulta a triagem dos pacientes, aumentando a taxa de ocupação em centros de saúde e elevando os custos associados. "Além disso, nos primeiros dias os sintomas são semelhantes aos de outras doenças virais, como a dengue, fazendo com que o paciente permaneça sem a identificação da doença", aponta.
Chip e biossensor
A técnica de detecção utiliza um biossensor eletroquímico para detecção de material genético (DNA, por exemplo) por meio de eletrodos, ou chips descartáveis. "Na superfície do chip é colocada uma pequena sequência de material genético complementar ao do vírus zika", explica Zucolotto. "Uma gota de amostra é colocada em contato com o biossensor e após 90 minutos, caso esteja presente o material genético do vírus nesta amostra, haverá uma mudança no sinal do biossensor, indicando a presença do vírus." A amostra é extraída do sangue do paciente, do qual é separado o material genético para ser colocado no sensor.
O professor aponta que a técnica de análise molecular associada ao biossensor identifica o vírus antes mesmo da manifestação dos sintomas no paciente. "Com isso, o corpo clínico pode providenciar o tratamento e encaminhamento adequado", destaca. "Quando o paciente é tratado logo no início dos sintomas, é possível diminuir a intensidade de manifestação da doença e ainda reduzir a ocupação nos sistemas de saúde e o seu custo associado."
Para desenvolver o biossensor, durante a pesquisa foram utilizados material genético sintético e amostras controladas para os testes de detecção. "Para confirmar a viabilidade da técnica proposta no uso clínico devem ser realizados ensaios com amostras reais, coletadas em diversas fases da infecção do vírus zika", planeja Zucolotto.
Medidor portátil
"Além disso, testes pareados com outros vírus como os da dengue e chikungunya devem ser executados", conta o professor. "O dispositivo, inicialmente desenvolvido para uso em laboratório, deverá ser aperfeiçoado com o desenvolvimento de um circuito eletrônico portátil de medida."
A pesquisa é descrita no artigo "Label-free electrochemical DNA biosensor for zika virus identification", publicado on-line em 19 de fevereiro pela revista científica Biosensors and Bioelectronics. Além de Zucolotto, a pesquisa teve a participação de Henrique Antonio Mendonça Faria, professor substituto do Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara.
Mais informações: e-mail zuco@ifsc.usp.br, com o professor Valtencir Zucolotto
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