Por que agora a vacina do sarampo é direcionada a jovens de 15 a 29 anos?
O sarampo voltou a assombrar o Brasil no último ano. Em 2018, mais de 10 mil casos foram confirmados no país e, neste ano, os números não param de crescer. O estado de São Paulo, por exemplo, registrou um aumento de 303% (de 51 para 206) nos casos da doença entre junho e julho, de acordo com boletim divulgado pela Secretaria Estadual da Saúde.
Já existem notificações da doença em todas as regiões da cidade de São Paulo, inclusive dentro do campus da USP (Universidade de São Paulo), que promoveu uma vacinação para bloquear o avanço do sarampo. Na Grande São Paulo, um bebê de 11 meses foi diagnosticado na quarta-feira (10) em São José dos Campos, quebrando um jejum de 20 anos da cidade sem registro da doença.
O crescimento no número de infectados levou a Secretaria ampliar para outros cinco municípios (Guarulhos, Osasco e a região do ABC) a imunização contra o sarampo nos jovens com 15 a 29 anos, a partir desta quinta-feira (11). Mas por que o governo está priorizando esse grupo específico para as campanhas de imunizações?
Embora o sarampo seja conhecido como uma doença infantil, segundo o boletim da Secretaria, os jovens e adultos representam 47% dos casos atuais em São Paulo. A explicação para o novo foco da doença ser essa faixa etária está justamente no histórico da condição no país.
"Existe uma faixa etária, principalmente dos 20 aos 29 anos, que só tomou uma dose da vacina, porque na época em que esses jovens eram bebês ela era única", explica Munir Ayub, infectologista consultor do Comitê de Imunizações da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia). A segunda dose da vacina que protege contra o sarampo é recente, começou a ser aplicada apenas a partir do ano 2000.
"Quem tem menos de 15 anos muito provavelmente já recebeu as duas doses da vacina, mas jovens mais velhos precisam do reforço", diz Carolina Lázari, infectologista do Fleury Medicina e Saúde.
Segundo Ayub, se a pessoa toma duas doses, a proteção fica em trono de 95 ou 97%. "Nenhuma vacina vai garantir que o indivíduo fique 100% seguro da doença, mas se ele for infectado depois de ser vacinado corretamente, o caso será bem mais leve, sem complicações", diz ele.
Atualmente, a vacina está prevista no calendário nacional de vacinação e é disponibilizada gratuitamente no SUS (Sistema Único de Saúde). A imunização é o único meio de se prevenir da doença. Enquanto a primeira dose deve ser deve ser tomada aos 12 meses de idade, na forma da tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), a segunda dose é indicada aos 15 meses, com a vacina tetra viral (contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela).
Mas isso não quer dizer que pessoas mais velhas não possam tomar a vacina também. "Para quem nunca tomou ou pelo menos acha que não tomou a vacina, é recomendado que ela tome duas doses, com um intervalo de 30 dias entre elas. A sugestão é que quem tenha até 29 anos tome as duas doses e quem tem mais de 29 anos, tome uma dose só", explica Lázari.
Mas e quanto aos idosos, por que eles não estão no grupo de risco, já que quando eles eram crianças não havia vacinação? De acordo com os especialistas, a explicação é simples: muito provavelmente essas pessoas já tiveram sarampo.
Durante muitos anos, a doença foi uma das principais causas de morbidade e mortalidade na infância no Brasil, principalmente em quem tinha menos de 1 ano. Para se ter uma ideia da gravidade, a vacina contra o sarampo foi introduzida no Brasil na década de 1960, mas as primeiras campanhas de vacinação só ocorreram mesmo em 1974.
Mas devido a falhas nas coberturas vacinais, os números de infectados permaneciam altos ainda dos anos 80. Em 1986, por exemplo, foram notificados 129.942 casos de sarampo, o que representou uma incidência de 97,7 por 100.000 habitantes.
Somente após esse surto, quando a vacina passou a ser amplamente usada, os números caíram. Em 2016, o Brasil havia erradicado a doença, mas notificou um novo caso em 2018 e os números voltaram a aumentar.
"Esses anos em que a doença desapareceu no Brasil fizeram com que muitas famílias deixassem de procurar pela imunização, afinal, elas nem ouviam mais falar da doença", diz Ayub.
Entretanto, não é necessário um alerde com a elevação dos casos registrados, de acordo com Lázari. "O foco agora devem ser os grupos mais vulneráveis, que são as pessoas dessa faixa etária entre 15 e 29 anos, de quem não conviveu naturalmente com a doença, mas também não tomou duas doses. É uma estratégia de saúde pública direcionar a vacinação para esse grupo, já que não dá pra vacinar todo mundo ao mesmo tempo", explica ela.
Segundo a infectologista, não há notícia de escassez de vacina, mas é uma questão de logística. "Na época da febre amarela, o susto levou pessoas que não tinham necessidade de tomar a vacina ou até tinham contra-indicações a tomarem a vacina. Controles de epidemias como essa devem ser organizados e a população deve seguir as recomendações do Estado", tranquiliza ela. "O ideal agora é priorizar grupos de maior risco e depois ampliar para os de menor risco."
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