Ele teve tumor do tamanho de uma laranja no cérebro: "Doença não me parou"
Piero Castro levava a vida como muitos jovens de 23 anos: trabalhava, estudava, jogava futebol, até que, em um período de três anos, descobriu um tumor no cérebro e recebeu o diagnóstico de esclerose múltipla. Mesmo assim, o publicitário, que hoje está com 27 anos, não deixou que os problemas impactassem sua jornada, que ele relata a seguir:
"Em 2014, comecei a ter um leve embaçamento visual que foi piorando com o tempo. Apesar de me atrapalhar nas atividades do dia a dia, achava que não era nada demais e deixei passar. Só resolvi investigar o que era um ano depois, após ter ficado com a visão muito embaçada durante um jogo de futebol com meus amigos e não ter concluído a partida.
Procurei um especialista, relatei o sintoma, fiz uma ressonância magnética do crânio e o médico me disse: 'Piero, as notícias não são das mais animadoras. Você está com um tumor no cérebro. Seu caso é grave e você precisa operar o quanto antes'.
Foi chocante ouvir isso aos 23 anos de idade, nunca imaginei receber um diagnóstico daquele, mas pensei: 'Como vou lidar com o problema? Vou alimentar um monte de energia ruim e fazer disso um inferno ou encarar como uma experiência pela qual tenho que passar, de forma confiante, e acreditar que vai dar tudo certo?'. Escolhi a segunda opção e respondi: 'Sem problemas, doutor'.
Em dezembro de 2015, fui para o centro cirúrgico retirar parte do tumor, que estava do tamanho de uma laranja. Fiquei em repouso por 20 dias, com uma cicatriz enorme na lateral da cabeça, do lado esquerdo. Estava me recuperando bem quando, passados três meses, um exame mostrou que havia rompido uma veia na cabeça e eu fiz uma segunda cirurgia.
Problema de visão não era por causa do tumor
Achava que o embaçamento da visão era por causa do tumor e que, após os procedimentos, ele ia desaparecer, mas o problema persistiu. Conversei com meu cirurgião e disse que continuava com o sintoma. Ele me encaminhou para um neuro-oftalmologista. Fiz uma bateria de exames, incluindo o do liquor. Foi quando recebi um novo diagnóstico apenas oito meses depois de ter descoberto o tumor: tinha esclerose múltipla.
O médico explicou que é uma doença inflamatória crônica que ataca o sistema nervoso central e que não tem cura [entenda aqui a diferença entre cura e remissão de uma doença]. Ele esclareceu que o embaçamento visual era um dos sintomas e que havia outros, como formigamento no corpo, perda momentânea da visão, fadiga, fraqueza muscular, dificuldades de locomoção.
Tumor, cirurgias e esclerose múltipla. Inicialmente, fiquei perplexo, sem acreditar no que estava acontecendo. Mas, em seguida, o sentimento foi de gratidão, pois graças ao sintoma da esclerose que descobri o tumor que crescia silenciosamente no meu cérebro
Em nenhum momento fiquei bravo ou reclamei. Mesmo com essas duas doenças, nunca tive medo de morrer. O meu temor era o de olhar para trás e perceber que não tinha vivido uma vida da qual eu me orgulhava, de não ter feitas as coisas que gostaria de ter feito. Mais uma vez, aquela decisão lá do início, de ter um olhar positivo sobre as adversidades, fez toda a diferença.
Iniciei o tratamento da esclerose em agosto de 2016 e até hoje tomo vitamina D e uma injeção diariamente. Sempre procurei levar a minha rotina o mais naturalmente possível. Continuei trabalhando, estudando e concluí a faculdade de publicidade e propaganda. Só me ausentei das minhas atividades durante e após os procedimentos cirúrgicos. O apoio e acolhimento da família e de amigos foram fundamentais, senti que não estava sozinho nessa jornada. Eu sempre fui espiritualizado, acredito que sou protegido por uma força e energia maiores.
O tumor voltou a crescer e vieram novas cirurgias
Segui minha vida até que, no final de 2017, uma ressonância mostrou que o tumor no cérebro havia crescido. Em janeiro de 2018, passei pela terceira cirurgia, que durou oito horas. No pós-operatório, apareceu um galo na minha testa. Durante a investigação, os médicos notaram que meu crânio havia se desprendido dos metais e tive que ser submetido à quarta operação. Passado um mês, comecei a fazer radioterapia e quimioterapia. Foram 30 sessões de radio e mais de um ano tomando a medicação da quimio. Tive um leve mal-estar no primeiro dia do tratamento, depois não sofri nenhum efeito colateral.
Nessa fase, percebi que precisava fazer alguma coisa em relação à minha experiência. Eu já escrevia alguns textos no Facebook contando minha trajetória e decidi escrever o livro Um Milagre em Curso. Meu objetivo era mostrar para outras pessoas que eu não era um super-herói e nem mais forte do que ninguém. Ainda assim, por que as coisas davam certo para mim?
Acredito que as coisas deram certo porque, além de seguir as orientações médicas, não me coloquei no papel de vítima, nem encarei os acontecimentos de forma dramática
Tomei a decisão de que o tumor e a esclerose múltipla não iam me derrubar, nem paralisar minha vida. Hoje, aos 27 anos, continuo fazendo acompanhamento médico e não é isso que vai me impedir de sorrir ou de ser feliz. A quem está enfrentando uma doença, um problema ou uma perda, minha mensagem é a de que você é quem determina a maneira como um obstáculo vai impactar sua caminhada é você quem vai determinar.
O inesperado acontece com qualquer um e não temos o que fazer nem como interferir. A única coisa que podemos definir é como vamos enxergar: como um problema ou uma situação? Adotar uma postura otimista, de confiança e de gratidão foi o que fiz e isso está ao alcance de todos".
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