Jet-lag, frio, crise e mais coisas improváveis que elevam risco de infarto
Sedentarismo, obesidade, má alimentação, tabagismo, consumo excessivo de álcool, colesterol alto... Esses são fatores de risco de infarto que grande parte de nós conhece bem.
Mas sabia que há outras coisas que podem parecer improváveis para muitas pessoas e também colocam o coração em perigo, como trabalhar até tarde, inverno, crises financeiras e até o horário de verão? Entenda melhor a seguir como esses e outros fatores elevam a chance de um ataque cardíaco.
Crise financeira
A situação complicada do país é motivo não só para muita gente "apertar o cinto" e economizar, como também reforçar os cuidados com a saúde. O estresse gerado no organismo devido à preocupação com os boletos empilhados ou com o medo de perder o emprego libera uma lista de hormônios (catecolaminas, adrenalina, noradrenalina, cortisol) com o poder de acelerar a pressão sanguínea. Isso pode desencadear arritmias e até infarto em quem tem predisposição a problemas cardíacos ou, caso se mantenha por um longo prazo, prejudicar o sistema cardiovascular de pessoas saudáveis.
E, se o problema for grana, nada melhor do que adquirir hábitos que vão ajudar você a economizar dinheiro e ainda trazer saúde, como preparar refeições saudáveis em casa e levar para o trabalho ou deixar o carro na garagem e fazer parte dos seus trajetos caminhando ou de bike.
Hora extra
Se a crise está brava o que muita gente faz? Fica até mais tarde na empresa para faturar uma grana extra. Pois um estudo da Universidade do Texas (EUA) mostrou que, ao longo de uma década, cada hora trabalhada além da jornada semanal de 40 horas eleva em mais de 1% o risco de ter problemas cardiovasculares como infarto, AVC e pressão alta.
Em pessoas que trabalharam 55 horas semanais durante uma década, por exemplo, a chance de ter essas doenças foi 16% maior. Já em quem teve uma jornada de 60 horas ou mais a probabilidade foi 35% maior. A explicação para isso, mais uma vez, é o estresse crônico gerado no organismo.
Inverno
A combinação de temperaturas baixas e pouca umidade do ar é um sinal de alerta: as internações nos hospitais da cidade de São Paulo por insuficiência cardíaca são 30% maiores no inverno, se comparadas ao verão, segundo estudo da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
Uma das razões para isso é que nessa época há uma incidência maior de problemas respiratórios e gripes, e essas doenças exigem um maior trabalho do coração, que pode ficar sobrecarregado. Some a isso a menor ingestão de água no frio ---a desidratação deixa o sangue mais denso e viscoso, dificultando a circulação sanguínea --- e uma reação natural do próprio corpo: para evitar a perda de calor e proteger os órgãos vitais, o organismo acelera seu metabolismo, jogando a frequência cardíaca para o alto. E a combinação de hipertensão e dificuldades de fazer circular o sangue fica bastante perigosa.
Verão
Você achou que tudo se resolveria quando a temperatura subisse? Não é bem assim... Calor demais também é perigoso para o coração. Em alguns casos, a desidratação provocada pelo excesso de suor é capaz de deixar o sangue mais espesso, dificultando a circulação. Isso é bastante danoso para quem já tem problemas cardíacos.
Além de caprichar na ingestão de água, é preciso ficar alerta para alguns sintomas: fraqueza excessiva, sonolência, cãibras, dores musculares (quando você não treinou o suficiente para isso), tonturas e desmaios podem indicar alterações na pressão sanguínea e devem ser investigadas.
Horário de verão
Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro assinou um documento que extinguiu o horário de verão no Brasil. Muita gente ficou "p" da vida com isso, mas há um bom motivo para comemorar a medida: sem horário de verão, diminui o risco de infarto de muitas pessoas. Isso mesmo!
Um estudo publicado no periódico The New England Journal of Medicine coletou dados em locais que ajustam os relógios de acordo com as estações do ano e relatou um aumento de 5% na média de ataques cardíacos durante a primeira semana do horário novo.
Segundo os especialistas consultados pelo UOL Viva Bem, há várias evidências de que uma alteração abrupta no ritmo circadiano (o ciclo biológico de 24 horas que nosso corpo repete diariamente) gera um estresse no organismo e aumenta risco de um acidente cardiovascular.
Como o organismo logo se adapta à mudança de horário é o estresse causado por isso não dura muito tempo, o perigo geralmente ronda apenas pacientes que já têm predisposição: ou seja, pessoas com hipertensão, diabetes, obesidade ou com histórico de doença cardíaca.
Jet-lag
Trata-se de um caso parecido ao horário de verão. Quando mudamos muito rapidamente de fuso horário, bagunçamos o ciclo circadiano e a liberação de cortisol e noradrenalina é afetada. Essas duas substâncias, se produzidas além da conta, trazem consequências sérias para o organismo: aceleração dos batimentos cardíacos e da pressão arterial, aumento da espessura sanguínea e, consequentemente, do risco de infarto.
Assim como no horário de verão, o perigo aqui aumenta principalmente para quem já tem predisposição a sofrer um problema cardíaco. Se for seu caso, programe-se: antes de uma viagem com grande mudança de fuso, faça uma adaptação antecipada.
Vá para a cama e levante quinze minutos mais cedo ou mais tarde, dia após dia, até se aproximar o máximo possível do horário do seu destino. E, quando chegar lá, durma em um ambiente bem escuro e reserve meia horinha pela manhã para se exercitar, o que ajuda na regulação dos hormônios e do ciclo cicardiano.
Sentir-se cansado e sonolento nos primeiros dias no novo país é normal, mas qualquer coisa além, como palpitação e sudorese excessiva, é motivo para consultar um médico se você já tem problemas cardíacos.
Festas de fim de ano
Com tantas comemorações regadas a comida e bebida em dezembro, a preocupação principal de muita gente é não aumentar o número na balança. Mas os aumento no número dos prontuários deveria ser uma preocupação maior: na véspera de Natal ocorrem 37% mais infartos no mundo do que nos outros dias do ano, segundo um estudo publicado no periódico científico British Medical Journal.
Há algumas hipóteses para isso: uma delas é que as refeições pesadas combinadas com a ingestão excessiva de álcool afetam o coração --sim, em doses elevadas, a bebida aumenta a pressão arterial e pode desencadear arritmias mesmo em quem nunca apresentou sintomas anteriores.
Há também um fator emocional: embora as festas de fim de ano sejam datas relacionadas à alegria e à família, elas podem causar sensação de angústia e solidão em quem não tem pessoas queridas por perto. A tristeza aumenta a liberação de cortisol e noradrenalina, hormônio que, em excesso, estão conectados ao risco de infarto.
Vale lembrar ainda que dezembro costuma ser um momento tenso para muita gente no trabalho, pois precisamos nos redobrar para entregar todas as demandas antes do fim do ano para sair de férias. E isso gera um grande estresse no organismo.
Fontes: Guilherme Renke, médico cardiologista e endocrinologista, especialista pela Escola de Medicina da Universidade Harvard (EUA); Leila Abdallah Mundim, cardiologista do Cejam (Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim).
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