"Achei ter afta, mas era tumor na boca", diz sobrinha de Tarsila do Amaral
A empresária Tarsila do Amaral, 55 anos, que herdou o nome da famosa tia pintora, ficou incomodada com uma suposta afta na língua que não ia embora. Quando percebeu que a ferida estava cada vez maior e se alojando no fundo da boca, ela procurou um médico e foi diagnosticada com um tumor maligno. A seguir, ela conta como enfrentou a doença:
"Em julho de 2014, uma afta começou a me incomodar, mas não ao ponto de eu buscar ajuda. Estava com férias marcadas e viajei com minha família. Quando voltei a São Paulo, a ferida ainda não tinha desaparecido e fiquei preocupada.
Passei por alguns médicos até chegar a um especialista de cabeça e pescoço, que pediu uma biópsia e me deu o susto: um tumor maligno crescia entre o fundo da língua e a garganta. Foi um choque grande, pois nunca imaginei que pudesse haver um câncer nesta área do corpo. Outra coisa que me espantou foi contrair uma doença desse tipo mesmo nunca tendo fumado e consumindo raramente bebidas alcoólicas.
No fim de 2014, fiz a cirurgia para retirada do tumor, que já se alastrava e fez com os médicos cogitassem retirar uma parte da mandíbula e repor por um pedaço do fêmur, mas não foi necessário. Entre a radioterapia e a quimio, o tratamento durou três meses. Já nas primeiras sessões de radio, perdi a vontade de comer, devido aos enjoos, e minha boca ficou toda machucada e seca.
Achei que não aguentaria terminar o tratamento e suportar as complicações que surgiram, como o enfraquecimento dos ossos da boca e os seis dentes que caíram e me obrigaram a colocar implantes. Para completar, ainda tive uma trombose na perna.
Durante o tratamento do câncer na língua, meu maior medo era perder a capacidade de falar, pois isto afetaria muito meu dia a dia. Preciso muito da fala, pois trabalho na preservação e divulgação das obras de Tarsila do Amaral. Eu me dedico quase que exclusivamente a isso e a considero o maior pintor, entre homens e mulheres, da história do Brasil.
Aos 55 anos, o propósito que busco diariamente é estar viva. Algo que me move muito para isso é organizar exposições como Tarsila Popular [que termina neste domingo (28) e, com mais de 350 mil pessoas, já bateu o recorde de visitantes em uma mostra temporária dos últimos 20 anos no Masp (Museu de arte de São Paulo) e outras frentes do trabalho, como palestras e entrevistas para falar do Instituto Tarsila do Amaral."
Entenda a doença
- O que é Um tumor na boca se enquadra como câncer de cabeça e pescoço, doença que atinge a parte interna dessa região do corpo, em especial a laringe, a língua e as amídalas.
- Quais as causas Pessoas que consumem álcool regularmente e fumam (não só cigarro "convencional", como também cigarro eletrônico, narguilé e maconha) estão mais propensos a contrair o problema. O HPV (papiloma vírus humano), contraído no sexo oral sem proteção, pode gerar feridas que evoluem para um tumor -- veja quais doenças podem ser transmitidas no sexo oral.
- Sintomas Em algumas pessoas os sinais são mais aparentes e surgem na forma de feridas na boca que demoram a desaparecer. Dependendo o lugar em que está o tumor, também pode ocorrer rouquidão excessiva, dificuldades em engolir e caroço no pescoço, que podem significar um câncer nas amídalas, por exemplo. O diagnóstico precoce é importante, pois torna o quadro menos devastador. Então, procure um médico ao desconfiar de qualquer sintoma.
- Como tratar Em boa parte dos casos, recomenda-se a cirurgia para retirada do tumor, em especial na laringe e na língua, e tratamento com radio e quimioterapia.
Fonte: Marco Aurélio Kulscar, livre docente em cirurgia de cabeça e pescoço pela USP (Universidade de São Paulo) e chefe da área no Icesp (Instituto do Câncer de São Paulo).
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