Estudo descobre relação entre níveis de estrogênio no útero e autismo
Uma pesquisa revelou que existe uma provável ligação entre a exposição a altos níveis de estrogênio, um hormônio sexual, no útero e a probabilidade de desenvolver autismo. Os resultados, divulgados nesta segunda-feira (29) no periódico Molecular Psychiatry, ajudam a entender melhor como realmente funciona a condição.
Os cientistas se basearam nos resultados de um estudo anterior, realizado em 2015, no qual a equipe mediu os níveis de quatro hormônios esteroides (dois deles andrógenos, como a testosterona) no líquido amniótico do útero e descobriram que, nos fetos do sexo masculino em que esses níveis eram mais altos, o autismo seria diagnosticado anos mais tarde.
Esses hormônios andrógenos são produzidos em maior quantidade em fetos masculinos do que femininos em média, o que pode explicar porque o autismo ocorre mais em meninos. Eles também são conhecidos por masculinizar partes do cérebro e por ter efeitos sobre o número de conexões entre as células cerebrais.
Anos depois, os cientistas refizeram o mesmo estudo, mas dessa vez focando apenas no estrogênio. As conclusões mostraram que altos níveis de estrogênio pré-natal foram ainda mais preditivos de probabilidade de autismo do que altos níveis de andrógenos pré-natais. Segundo os pesquisadores, ao contrário da crença popular que associa estrogênios à feminização, os estrogênios pré-natais têm efeitos no crescimento do cérebro e também masculinizam o cérebro em muitos mamíferos.
"Essa nova descoberta apoia a ideia de que o aumento dos hormônios esteroides sexuais pré-natais pode ser uma das causas potenciais para o problema", disse o professor Simon Baron-Cohen, diretor do Centro de Pesquisa de Autismo da Universidade de Cambridge, que liderou este estudo. Segundo ele, já está bem estabelecido que a genética tem um papel no desenvolvimento do autismo, mas agora parece que esses hormônios provavelmente interagem com fatores genéticos para afetar o desenvolvimento do cérebro fetal.
Alex Tsompanidis, um estudante de doutorado em Cambridge que também trabalhou no estudo, disse que esses hormônios elevados podem vir da mãe, do bebê ou da placenta. "Nosso próximo passo deve ser estudar todas essas fontes possíveis e como elas interagem durante a gravidez", comentou.
No entanto, a equipe alertou que essas descobertas não podem e não devem ser usadas para rastrear o autismo. "Estamos interessados em entender o autismo e não em meios de impedi-lo", disse Baron-Cohen.
Como o estudo foi feito
- Os cientistas analisaram amostras de líquido amniótico de 275 gravidezes, das quais 98 o feto desenvolveu autismo anos depois. Um conjunto de hormônios esteroides foi testado, principalmente o estrogênio.
- Todos os quatro estrogênios foram significativamente elevados, em média, nos 98 fetos que mais tarde desenvolveram autismo, em comparação com os 177 fetos que não desenvolveram.
- Altos níveis de estrogênio pré-natal foram ainda mais preditivos de probabilidade de autismo do que altos níveis de andrógenos pré-natais (como a testosterona).
Veja mitos sobre o autismo
1. Vacinas causam autismo
A ideia de que as vacinas causam autismo é um dos maiores mitos que circularam a respeito do distúrbio. A teoria teve sua origem em 1998, quando o médico britânico Andrew Wakefield publicou um estudo em uma renomada revista científica, que sugeriu uma correlação entre a vacina tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba) e o TEA.
Segundo o biólogo molecular Alysson Muotri, professor da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia (EUA), a publicação teve grande repercussão e muitos pesquisadores começaram a investigar a veracidade daquelas informações. Mais tarde, foi descoberto que Wakefield havia falsificado dados da pesquisa, e novos estudos comprovaram que a vacina não provoca autismo.
2. Autistas não são carinhosos
Outro mito sobre as pessoas com autismo é que elas não sentem empatia, não gostam de afeto ou não são carinhosas. Na realidade, o cérebro dos autistas é diferente de um cérebro neurotípico, e determinadas áreas --como a amígdala, responsável pelas emoções -- não se formam corretamente, tendo assim um funcionamento atípico.
"Isso não quer dizer que pessoas com autismo não gostam de se relacionar, elas apenas não sabem como fazê-lo. Precisamos ensinar o caminho para que essas relações ocorram de maneira mais efetiva e adequada, considerando que, para eles, essa compreensão não acontece naturalmente", explica a psicóloga Cintia Duarte.
3. O transtorno era mais raro no passado
Nos últimos anos, os casos diagnosticados de autismo aumentaram de uma a cada 100 crianças para uma a cada 68, segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. Ao contrário do que muitos acreditam, o autismo não era um transtorno raro antigamente e os casos aumentaram devido a fatores como poluição, alimentação, vacinas etc. Na verdade, o que aconteceu foi o aprimoramento dos métodos de diagnóstico.
Os critérios clínicos se modificaram, possibilitando a identificação de quadros mais leves, que antes passavam despercebidos --por esse motivo, muitas pessoas descobrem o autismo leve apenas na fase adulta. Além disso, com os avanços nos estudos relacionados ao TEA, tem sido possível realizar o diagnóstico cada vez mais cedo.
A tecnologia Eye Tracking (rastreamento do olhar), por exemplo, que está sendo estudada pelo psicólogo brasileiro Ami Klin, diretor do Marcus Autism Center, em Atlanta (EUA), possibilita rastrear para onde o bebê está olhando. A técnica poderia ser usada em crianças a partir dos seis meses de idade e indicar quais tendem a olhar mais para objetos, uma característica do que pode identificar o autismo.
Informações de matéria publicada no dia 28/04/2018.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.