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Fruto do coqueiro-da-bahia tem substância promissora contra herpes

Coqueiro-da-bahia pode ter substãncia para tratar a herpes tipo 1  - Getty Images
Coqueiro-da-bahia pode ter substãncia para tratar a herpes tipo 1 Imagem: Getty Images

Júlio Bernardes

Jornal da USP

02/08/2019 10h41

Nos frutos do coqueiro-da-bahia, uma palmeira muito comum no litoral do Norte e Nordeste do Brasil, está uma opção promissora para combater o Herpes Simplex Vírus Tipo 1 (HSV-1), causador de infecções e lesões pelo corpo. Por meio de testes em laboratório, pesquisadores da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP descobriram que uma substância extraída das fibras do fruto impede a multiplicação do vírus, com eficiência similar à do medicamento antiviral aciclovir, usado contra infecções causadas pelo HSV-1. A descoberta poderá auxiliar no desenvolvimento de novos medicamentos para o tratamento de doenças provocadas pelo vírus.

O vírus HSV-1 é uma causa comum de lesões orais e genitais, e possui a capacidade de reativação da infecção latente. "Ele é responsável por um amplo espectro de doenças, incluindo infecções primárias ou recorrentes das mucosas, como, por exemplo, gengivoestomatite, herpes labial ou genital, ceratoconjuntivite, infecção neonatal, infecção visceral em hospedeiros imunodeprimidos, encefalite herpética e associação com eritema multiforme", conta o médico Fernando Borges Honorato, que realizou a pesquisa.

"Entre os medicamentos antivirais eficazes para tratamento das infecções sintomáticas por HSV, o mais utilizado é o aciclovir, o qual inibe a replicação viral, porém proporciona apenas diminuição da duração e da gravidade das lesões recorrentes", aponta Borges Honorato. "O estudo investigou a presença de atividade antiviral in vitro de extratos brutos e fracionados da espécie Cocos nucifera L. em cultura de células infectadas com o HSV-1".

A Cocos nucifera L. é uma espécie de palmeira conhecida como coco, coco-da-bahia, coqueiro-da-bahia ou coqueiro-comum, sendo muito comum no Brasil, especialmente no litoral do Norte e Nordeste. "Após a secagem e moagem da parte fibrosa do fruto, o mesocarpo, foram preparados dois extratos, o aquoso, tendo como solvente a água, e o hidroetanólico, cujos solventes são etanol e água", descreve o médico. "Posteriormente, foram preparadas frações destes extratos, nos quais foram usados como solventes hexano, acetato de etila, metanol e água".

Efeito antiviral

Inicialmente, foram determinadas as concentrações dos extratos que não eram tóxicas para as células, que foram selecionadas para testar o efeito inibitório da droga sobre a infecção pelo HSV, avaliado pela redução do efeito citopático. "As células foram infectadas com HSV em diversas multiplicidades de infecção", relata Borges Honorato. "Algumas delas foram tratadas com diferentes doses dos extratos, enquanto outras não foram tratadas (controle negativo). Ao final do experimento, foi realizada a quantificação da quantidade de vírus presentes em cada amostra."

Nos testes em laboratório, uma substância isolada das fibras do fruto da palmeira, chamada inicialmente de CN342B, foi capaz de inibir a replicação do HSV-1, com efeito antiviral comparável ao do aciclovir, enquanto os extratos brutos, as quatro frações e uma outra substância, CN1A, não foram efetivas. "A substância CN342B isolada das fibras do fruto foi eficaz contra o HSV-1 in vitro', destaca o médico. "Entretanto, por razões técnicas, ainda não foi possível determinar qual é a substância que foi isolada."

Segundo Borges Honorato, os resultados do estudo apontam que a CN342B é promissora para o desenvolvimento de um novo medicamento para o tratamento das doenças causadas pelo HSV. "Os próximos passos seriam a identificação da substância e o início de estudos pré-clínicos em modelos animais", ressalta.

A pesquisa foi orientada pelo professor Fabio Carmona, do Departamento de Puericultura e Pediatria da FMRP, e co-orientada pelos professores Eurico de Arruda Neto, da FMRP, e Ana Maria Soares Pereira, da Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto), que preparou os extratos usados no experimento. Os estudos foram realizados no Laboratório de Virologia da FMRP e no Laboratório de Química de Plantas Medicinais do Departamento de Biotecnologia Vegetal da Unaerp.