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Corremos o risco da rubéola voltar ao Brasil?

Doenças controladas podem voltar ao Brasil por conta da baixa cobertura vacinal - juststock/iStock
Doenças controladas podem voltar ao Brasil por conta da baixa cobertura vacinal Imagem: juststock/iStock

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

06/08/2019 11h55

O recente surto de sarampo em todo o país acendeu a luz vermelha para os médicos e entidades de saúde pública, já que o ressurgimento da doença mostrou a vulnerabilidade da população com relação a doenças tidas como controladas ou eliminadas do país.

E não é só o sarampo. Em junho deste ano, a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) emitiu uma nota alertando para a necessidade de reforçar a vacinação também contra a rubéola. Assim como o sarampo, a rubéola causa febre, mal-estar e lesões avermelhadas pelo corpo.

Embora seja incômoda, a doença tem sintomas considerados mais leves que o sarampo. O problema é que o vírus é responsável por causar a SRC (síndrome da rubéola congênita), condição que acomete recém-nascidos de mães que contraíram o vírus durante a gestação.

A SRC é grave e pode causar surdez, cegueira e atraso no desenvolvimento da criança, entre outras sequelas.

Em 2019, de acordo com a OPAS, foram reportados quatro casos de rubéola nas Américas --três na Argentina e um no Chile, provavelmente importados de países asiáticos, onde o vírus ainda circula de forma relevante. Em 2018, o Canadá apresentou um caso de SRC.

A OPAS deu ao Brasil, em 2015, o certificado de eliminação da rubéola no país.

Então, é possível que tenhamos um novo surto de rubéola no Brasil?

Especialistas ouvidos pelo UOL VivaBem concordam que a possibilidade existe, mas não há motivo para pânico. "Enfrentamos um momento delicado com a cobertura vacinal em baixa no Brasil", explica Juarez Cunha, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunização).

No entanto, ele lembra que a taxa de transmissão da rubéola é mais branda e a atual campanha de vacinação contra o sarampo também está indiretamente ajudando a prevenir a doença --a vacina que está sendo usada é a tríplice viral, que previne, além do sarampo, a rubéola e a caxumba.

Ou seja, é preciso estar sempre alerta, mas sem entrar em desespero.

Outras doenças podem voltar

Por outro lado, é importante lembrar que a baixa cobertura vacinal da população brasileira, atualmente na casa dos 70%, pode abrir brechas para que outras doenças voltem.

De acordo com Rosana Richtmann, consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e médica infectologista do Instituto Emílio Ribas, a difteria é uma das doenças que pode ser reintroduzida por conta do baixo número de pessoas imunizadas.

O Datasus (Departamento de Informática do SUS) revela que, em 2018, cerca de 85% das crianças receberam a primeira dose da vacina pentavalente (que previne, além da difteria, o tétano, a coqueluche, a hepatite B, a meningite e infecções pela bactéria HiB).

De acordo com o calendário oficial do Ministério da Saúde, a vacina contra difteria é dada aos dois meses, quatro meses, seis meses, um ano e três meses (15 meses) e quatro anos. Após esse período, ela precisa ser reaplicada a cada 10 anos.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) diz que o cenário ideal seria uma cobertura de 95% --esse percentual é o ideal para que haja um efeito rebanho, ou seja, com esse número de pessoas imunizadas, é mais difícil que quem não pode tomar a vacina tenha contato também com o vírus.

Causada por bactéria, a difteria acomete as vias respiratórias, causando febre e o acúmulo de placas na região da garganta e da faringe. Considerada grave, em muitos casos o paciente necessita de uma traqueostomia para conseguir respirar.

Assim como o sarampo, a doença ainda está em circulação na Venezuela. Dados da OPAS mostram que já foram 1.721 casos confirmados da doença naquele país até junho deste ano, com 286 mortes.

Por conta do fluxo migratório de venezuelanos para o Brasil, há o receio de que a doença possa ser reintroduzida por aqui --principalmente se pensarmos na baixa cobertura vacinal da população.

O que pode ser feito?

Ambos os especialistas concordam que a única forma de conter o avanço de doenças que já foram controladas no Brasil é elevar a cobertura vacinal da população.

Na Europa e nos EUA há movimentos importantes contrários à vacinação, pregando notícias duvidosas sobre a eficácia das injeções ou mesmo efeitos colaterais graves à saúde.

No Brasil, no entanto, o presidente da SBIm acredita que o principal fator é o desconhecimento das doenças. "A vacinação é vítima do seu próprio sucesso", acredita. "As gerações mais jovens desconhecem as sequelas de doenças como a poliomelite porque estas sumiram graças à vacinação da população", afirma.

Dessa forma, as pessoas teriam uma falsa sensação de segurança, acreditando que a doença não existe.

Richtmann, por outro lado, acredita que a comunicação das campanhas precisa ser mais efetiva, engajando principalmente a população mais jovem e que tem pouca informação sobre vacinas. "Precisamos criar campanhas que antecipem o problema, e não esperar um surto para começar a tomar medidas mais efetivas", afirma.