Timidez em excesso pode ser um transtorno? Entenda quando buscar ajuda
De repente, o rosto fica corado colocando o tímido numa situação de destaque que, aliás, é o que ele mais deseja evitar. Impossível negar vergonha ou constrangimento quando as bochechas ficam vermelhas, mas não é apenas nesse tipo de situação que a timidez dá o ar da graça. A timidez é um traço de personalidade, o jeito que a pessoa é e se comporta.
Ser o centro das atenções, falar em público e sair tagarelando por aí não são características comuns aos tímidos. Mas, isso não os impossibilita de manterem um convívio social saudável. "O tímido pode ter mais dificuldade em interagir em um primeiro contato, mostra-se mais introvertido, mas não deixa de realizar suas atividades pessoais e profissionais, apenas é mais discreto", comenta Mariângela Savoia, psicóloga clínica do Programa Ansiedade do IPq do HC-FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
No entanto, quando esse medo de situações em que se está exposto ao julgamento do outro se torna algo exarcebado, isso deixa de ser uma simples timidez e pode ser considerado um transtorno de ansiedade social. Estima-se que nos Estados Unidos, apenas 12% dos indivíduos considerados tímidos têm esse quadro.
O que é transtorno de ansiedade social?
De acordo com o DSM-V (sigla inglesa para Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o transtorno de ansiedade social ocorre quando há um medo acentuado acerda de uma ou mais situações sociais em que o indivíduo é exposto a possível avaliação por outras pessoas.
Normalmente, a pessoa demonstra sinais de ansiedade nesse contexto, julgam que as consequências daquela situação serão maiores do que realmente são e evitam essas situações ou passam por elas com grande medo e ansiedade. Tudo isso traz um grande impacto negativo na vida dessas pessoas.
Os sintomas precisam ocorrer há mais de seis meses e apenas um psiquiatra pode avaliar se esse é mesmo seu caso. Nesses casos, ele pode indicar um tratamento com psicoterapia e até o uso de alguns medicamentos para ansiedade.
De acordo com a psiquiatra Fátima Vasconcellos, coordenadora do Curso de Psiquiatria da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), esse quadro pode até mesmo ter comorbidade com a dependência química. "O paciente passa a abusar da bebida para conseguir enfrentar as situações e isso intensifica ainda mais o problema".
O momento do enfrentamento
Portanto, a timidez deve ser tratada quando a pessoa sente que está sofrendo com as restrições que impõe a ela mesma. "Um psicólogo poderá ajudá-la a identificar seus medos e frustrações, orientando suas ações para começar a estabelecer novas relações sociais", diz Priscila Gasparini Fernandes, psicóloga clínica e psicanalista com especialização em neuropsicologia.
Ou seja, ser quieto é um traço de personalidade e não há nada de errado. O transtorno de ansiedade social envolve outros sinais, como: não manter contato visual, falar muito baixo, gaguejar, ficar ruborizado (vermelho), apresentar tremores. Além, do isolamento que pode interferir de forma negativa nas relações sociais, nos estudos e até no trabalho.
Por isso, se as recusas passam a ser constantes, é importante ligar o sinal de alerta. Mas se a questão é apenas aquela timidez corriqueira, vale apostar em alguns recursos para tornar o enfrentamento mais fácil:
- Desenvolva algum atributo, busque algo de seu interesse e que também crie aproximação das pessoas como música, esportes e viagens;
- Desenvolva um grupo de amigos, mesmo que pequeno, mas que lhe transmita confiança;
- Preste atenção nos bons sinais, ou seja, não supervalorize a crítica e sim o elogio, afinal é impossível agradar geral;
- Entenda que não é preciso ser o centro das atenções para ser interessante;
- E quando estiver em um lugar após o enfrentamento, comemore a situação vencida.
Por que a timidez ocorre?
Não se sabe ao certo por que algumas pessoas são mais tímidas do que outras, mas pesquisadores da Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos, tentaram buscar as respostas no cérebro.
Eles usaram imagens de ressonância magnética funcional e descobriram que os tímidos podem ter problemas em duas regiões cerebrais: a amígdala e o hipocampo, provocando problemas de adaptação a novos ambientes e estímulos. Durante o estudo, foram analisados adultos inibidos e extrovertidos, que foram expostos a fotos de rostos de pessoas desconhecidas repetidas vezes.
Durante essa exposição, o hipocampo (ligado à memória) e a amígdala (área relacionada ao medo e ansiedade) geralmente apresentavam uma atividade mais intensa, que tendia a diminuir à medida que as imagens se repetiam e se tornavam mais familiares. Porém, isso aconteceu com os mais extrovertidos, não com os tímidos.
Para a neurologista Jerusa Smid, vice-coordenadora do Departamento de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da ABN (Academia Brasileira de Neurologia), essa pesquisa indica que o introvertido tem um padrão cerebral diferente. "É relevante identificar quais regiões são afetadas para ter um entendimento melhor do problema, mas isso é muito específico para a área médica", fala.
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