"Se você vive com HIV e quer ter filhos, tenha", estimula infectologista
É comum ouvir histórias de pessoas que vivem com HIV há mais de uma década e que foram desestimuladas a seguir com o sonho de gerar uma vida e colocar um novo ser no mundo. Por muitos anos, a medicina negou o desejo reprodutivo de quem só queria criar, educar, dar amor, ensinar preceitos básicos e guiar seus filhos aos primeiros passos da vida. Neste Dia dos Pais, comemorado no próximo domingo (11), a Agência de Notícias da Aids conversou com o infectologista Rico Vasconcelos que dá dicas para quem é soropositivo e deseja ser pai.
Hoje, segundo Rico, a orientação é para que você tenha filhos. Os avanços científicos e o tratamento antirretroviral permitem que qualquer pessoa soropositiva tenha filhos saudáveis e de maneira segura. "Não há mais dúvidas. Todos os ensaios clínicos realizados até hoje nos mostraram que, quando uma pessoa que vive com HIV faz uso do tratamento antirretroviral com boa adesão, enquanto estiver com a carga viral indetectável não transmite o vírus por via sexual para ninguém. Mesmo que tenha relações sem preservativo", explicou.
Para o especialista, é preciso estimular cada vez mais o desejo reprodutivo. "Há pessoas que quando ficam sabendo que é possível ter filhos sem HIV, aderem melhor ao tratamento. A vontade de ser pai ou mãe também é um estimulo para o autocuidado. É um momento mágico, de alegrias e esperança."
Rico recordou que nos primeiros anos de epidemia, quando não havia muitas informações sobre a doença, os profissionais de saúde desencorajavam as pessoas. "Quem queria ter filhos era tido como louco. Os médicos diziam que a pessoa ia ficar doente, ter aids e deixar as crianças para alguém criar."
Felizmente tudo isso mudou. "A comprovação de que estar indetectável não transmite o vírus é a coisa mais revolucionária na história da epidemia de aids. Se você tem o desejo de ter filhos, tenha. Existe um leque de possibilidade de prevenção ao HIV e é sempre bom lembrar que as melhores estratégias de prevenção é a que a pessoa escolhe."
No entanto, a orientação do infectologista é para que os pacientes dividam com seus médicos a informação de que desejam ter filhos. "O profissional pode ajudar muito neste momento, especialmente se o casal viver uma relação sorodiscordante, quando um tem HIV e o outro não."
"É claro que a pessoa tem autonomia para convidar ou não o parceiro para estar na consulta. Muitas vezes, eles conseguem transmitir todas as informações passadas pelo médico. Mas há quem prefira participar presencialmente."
Lavagem de esperma
Hoje, os avanços da medicina permitem também que pessoas com HIV/aids, com carga viral detectável, tenham filhos livres do HIV. No caso de casais sorodiscordantes, no qual o homem vive com HIV, existe o procedimento de lavagem de esperma, onde os espermatozoides são separados do líquido seminal e testados em um exame que indica a presença de partículas virais. Caso haja vírus mesmo após a lavagem, os espermatozoides são descartados.
"Este procedimento funciona, mas é elitizado. O tratamento antirretroviral é oferecido em grande parte na rede pública, enquanto a lavagem acontece com mais frequência na rede privada", explicou Rico, lembrando que gerar um filho é um ato de amor e exige muita maturidade, responsabilidade e doação.
No caso da mãe também ser portadora do HIV, o tratamento já é feito durante todo o pré-natal, também com antirretrovirais.
Rico lembrou ainda que tem sido cada vez mais frequentes homens gays se tornarem pais com o uso da barriga de aluguel. "Esse método é ilegal se for pago. A amiga de um dos meus pacientes, por exemplo, cedeu o útero. Aconteceu então a fecundação de um óvulo desconhecido com o espermatozoide do casal."
"A pessoa que vive com HIV não precisa ter vergonha de querer ter um filho. Viver com HIV não é um castigo. Ela precisa sim alimentar esse desejo e ter seu filho no momento que quiser", finalizou o especialista.
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