Devo ficar quanto tempo sem sexo após a vasectomia? Vou parar de ejacular?
Resumo da notícia
- O número de vasectomias realizadas no Brasil cresceu 300% entre 2001 e 2017
- Na cirurgia, o canal que conduz os espermatozoides é cortado, impedindo que eles componham o sêmen
- A eficácia da operação ultrapassa os 99% e geralmente é realizada em até 60 minutos
- Um dia após o procedimento já é possível retornar ao trabalho
Se antigamente era comum haver famílias grandes, hoje isso mudou. Existe uma tendência dos casais terem cada vez menos filhos. E, entre tantas opções para evitar a gravidez, a vasectomia é bastante escolhida por homens casados que já são pais.
De acordo com dados do SUS (Sistema Único de Saúde), o número de vasectomias realizadas no Brasil cresceu mais de 300% entre 2001 e 2017. Como o procedimento gera muitas dúvidas e mitos, respondemos 17 perguntas para você entender melhor a cirurgia.
1. O que é a vasectomia? Como a cirurgia é realizada?
É um procedimento cirúrgico que consiste no corte de 1 cm a 2 cm e na ligadura ou remoção de um segmento dos ductos deferentes. Esses canais conduzem os espermatozoides fabricados nos testículos e nos epidídimos para formarem ou sêmen (ou esperma) junto com o fluido prostático e das vesículas seminais.
2. Depois da vasectomia o homem para de ejacular?
Não. A cirurgia não altera nenhuma das características da função sexual. Tanto a ereção como o orgasmo e o volume ejaculado permanecem praticamente inalterados --às vezes, ocorre uma redução de 5% a 10% no sêmen liberado ao gozar, que não é fácil de ser notada a olha nu.
A única diferença é que após a vasectomia o líquido seminal não possui mais espermatozoides e, com isso, o paciente fica impossibilitado de engravidar a parceira.
3. O que acontece com os espermatozoides?
Eles continuam sendo fabricados normalmente pelos testículos, ficam retidos nos ductos deferentes e epidídimso, sendo absorvidos pelo organismo após cerca de 90 dias.
4. A vasectomia reduz a potência sexual do homem?
Não. Inclusive, um trabalho científico publicado no Jornal da Sociedade Brasileira de Urologia, conduzido por Jorge Hallak, coordenador do grupo de estudos em saúde masculina do Instituto de Estudos Avançados da USP (Universidade de São Paulo) e diretor médico do Androscience, apontou que pacientes submetidos à vasectomia tiveram uma melhora na atividade sexual depois da cirurgia.
Os fatores que prejudicam a potência masculina podem ser orgânicos ou psicológicos e não estão relacionados à vasectomia. As causas orgânicas são problemas que trazem dificuldade de vascularização e irrigação sanguínea do pênis, como diabetes, hipertensão, algumas doenças neurológicas, o uso de determinadas medicações, sedentarismo, tabagismo, colesterol alto.
5. Quem pode fazer a vasectomia?
Por lei, o procedimento só é permitido no Brasil para homens maiores de 25 anos ou, pelo menos, com dois filhos vivos, desde que observado o prazo mínimo de 60 dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico. Nesse período, a pessoa interessada passará por uma avaliação com um assistente social e um psicólogo para saber se encaixa-se no perfil e está liberado para realizar a vasectomia.
6. O que levar em consideração antes de optar pela cirurgia?
É importante saber se o desejo de não ter mais filhos é definitivo e se o relacionamento conjugal é estável. Caso o casal esteja em constante conflito, o que pode levar à separação no futuro, o homem deve pensar muito bem se teria ou não filhos em um novo relacionamento antes de proceder à vasectomia.
Além disso, deve ser informado pelo seu médico sobre a possibilidade de reversão da cirurgia e de armazenamento de espermatozoides em clínicas de reprodução humana.
7. Qual o procedimento antes da cirurgia?
O paciente deve ser atendido pelo profissional ou equipe médica que irá fazer a vasectomia, ou seja, um urologista ou andrologista. A partir daí, o médico irá traçar uma história clínica adequada, o que permite ao paciente tirar dúvidas sobre o procedimento, tipo de anestesia (local ou geral) a ser realizada e um espermograma, já que o homem pode ser estéril e nem precisar da cirurgia.
Junto com o exame físico, o profissional pode identificar diversos fatores de risco que devem ser adequadamente manejados para evitar complicações da cirurgia. Entre os mais frequentes estão as doenças cardiovasculares e respiratórias, distúrbios de coagulação, diabetes, uso de medicamentos que podem interferir na cirurgia (como anticoagulantes). Também no exame físico são detectadas anomalias ou variações anatômicas nos testículos, epidídimos e cordão espermático (onde estão os ductos deferentes) que podem interferir na cirurgia. Além disso, alguns exames pré-operatórios são importantes, como testes de coagulação do sangue e testes de controle do nível de glicemia. Também é indicado, antes da vasectomia, realizar a tricotomia de todo o escroto (raspar os pelos) e assepsia adequada.
8. Qual a efetividade da cirurgia?
Ultrapassa os 99%. Entretanto, é necessário que o paciente realize um espermograma de controle para assegurar a eficácia do procedimento após, pelo menos, 20 a 30 ejaculações --por masturbação ou relação sexual.
Enquanto o espermograma não confirmar o sucesso da vasectomia, o homem deve usar camisinha ou outros métodos para evitar uma gravidez indesejada da parceira.
9. Como sei que a vasectomia deu certo?
Um tempo depois da cirurgia --que varia, pois depende de quando o homem vai atingir as 20 a 30 ejaculação --, o paciente é orientado a fazer um espermograma, cujo resultado deve ser de azoospermia (contagem zero de espermatozoides no líquido espermático) ou de até 10.000 espermatozoides imóveis por mililitro. A partir de então, o homem é liberado para não mais utilizar outros métodos contraceptivos durante o sexo --para evitar gravidez, pois a vasectomia não dispensa o uso de camisinha para prevenir-se de doenças sexualmente transmissíveis.
Se ainda houver espermatozoides em número acima do referido ou a presença de espermatozoides móveis, o paciente deve aguardar mais um período e repetir o exame até que se atinja os parâmetros de segurança. Caso a contagem alta permaneça ou aumente alguns meses após a cirurgia, deve-se considerar duas raras possibilidades:
- Falha do procedimento, que atinge 0,5% das pessoas que realizam a cirurgia
- Ou uma "recanalização" espontânea da vasectomia --quando os tubos deferentes se juntam novamente sozinhos, que pode acontecer em 0,5% a 2% dos casos.
10. Quanto tempo dura a cirurgia?
Entre 30 a 60 minutos, dependendo da técnica cirúrgica empregada e condições individuais, anatômicas etc.
11. Como é o processo pós-cirúrgico?
O paciente entra e sai do hospital no mesmo dia e alguns urologistas adotam o uso de bolsa de gelo na região escrotal no pós-operatório imediato e também nos dois ou três dias subsequentes. Habitualmente, não há necessidade de uso de antibióticos. Analgésicos e anti-inflamatórios podem ser recomendados, caso a pessoa apresente dor.
Quanto ao repouso, dependendo da ocupação, a pessoa pode voltar ao trabalho um dia depois da vasectomia. Mas o paciente não deve dirigir nas 24 horas após a cirurgia e precisa ficar sete dias sem fazer esforço físico, carregar peso ou praticar atividade esportiva.
12. Quanto tempo é preciso ficar sem transar após a vasectomia?
Alguns urologistas liberam o retorno à atividade sexual após uma semana. Já outros acham melhor aguardar um mês. Lembrando que o sexo sem camisinha só deve ser feito depois do exame de espermograma, realizado após 20 a 30 ejaculações.
13. Que complicações costumam ocorrer?
Existe uma chance pequena (acontece em cerca de 1% a 2% dos casos) de ocorrer um pequeno sangramento, hematoma, infecção e dor escrotal crônica, que são as complicações mais comuns.
14. Existe problema se o homem tiver uma ereção horas depois da cirurgia?
Não há riscos. Mas o contato sexual ou manipulação inesperada da região genital logo após a cirurgia não é indicado, pois pode ocorrer dor escrotal pela contração da musculatura lisa dos ductos deferentes. Além disso, o que se pede é que o homem mantenha repouso, pois o próprio sexo cria um movimento de contração pela excitação e pode ocasionar sangramento desnecessário, ou dor nos testículos.
15. A vasectomia é reversível?
Sim, a reversão é feita por meio de uma nova cirurgia, mais trabalhosa e demorada, e realizada com uso de microscópio cirúrgico e fios de sutura cinco vezes mais finos que um fio de cabelo, sempre sob anestesia geral.
O sucesso da reversão da vasectomia depende de uma técnica microcirúrgica cuidadosa, da experiência do cirurgião e também do tempo decorrido entre a vasectomia e o novo procedimento --quanto maior o intervalo, menor a probabilidade do homem voltar a ser fértil.
16. Caso seja feita a reversão da vasectomia, o homem pode ter dificuldade em engravidar?
Sim, depende de quanto tempo se passou entre a vasectomia e a reversão e da técnica aplicada na cirurgia. A chance de restabelecer a passagem dos espermatozoides pelo canal bloqueado pela vasectomia é por volta de 90% até 5 anos. Já após 10 anos, passa a ser de 60% a 70% e, depois de 15 anos há até 50% de chance.
17. Como realizar a vasectomia pelo SUS?
O paciente se direciona até uma unidade de saúde pública, onde serão realizados um questionário e uma primeira avaliação. São dados 60 dias para reflexão, já que é um processo de esterilização. Após esse período, há o encaminhamento para um especialista que orienta quanto aos pré-exames e posteriormente sobre a cirurgia. Vale salientar que há todo um trâmite burocrático que varia de cidade para cidade. Se o homem for casado, por exemplo, precisa do consentimento da esposa.
Fontes: Alex Meller, urologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein; Celso Gromatzky, urologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo; Jorge Hallak, coordenador do grupo de estudos em saúde masculina do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e diretor médico do Androscience, centro de referência em saúde reprodutiva e sexual masculina, em São Paulo; e José Genilson Alves Ribeiro, urologista e professor de urologia da Faculdade de Medicina da UFF (Universidade Federal Fluminense).
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