Reposição hormonal: risco de câncer de mama é maior do que era estimado
A reposição hormonal é um tratamento amplamente utilizado para aliviar os sintomas da menopausa nas mulheres. No entanto, já é sabido há algum tempo que um dos riscos envolvido com o tratamento é o desenvolvimento do câncer de mama.
Um novo estudo desenvolvido pelo Collaborative Group on Hormonal Factors in Breast Cancer, que inclui cientistas da Oxford University, na Inglaterra, revelou que o risco que as mulheres adeptas da reposição correm é maior do que se pensava.
A metanálise —ou seja, análise de diversos estudos realizados sobre o assunto — foi publicada no periódico The Lancet e envolveu os dados de mais de 108 mil usuárias que desenvolveram a doença.
De acordo com a pesquisa, enquanto o risco geral de mulheres entre 50 e 69 anos desenvolverem câncer de mama é de 6,3%, aquelas que fizeram uso diário da combinação de estrogênio e progesterona —uma das mais comuns da reposição hormonal — por cinco anos tiveram o risco aumentado para 8,3%.
O estudo ainda mostrou que o risco persiste mesmo após 10 anos da interrupção do uso hormonal, informação que não era consenso antes entre os médicos.
De acordo com Afonso Celso Pinto Nazário, mastologista e ginecologista do HCor e professor de mastologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o novo estudo só reforça o conceito já conhecido de que a terapia de reposição hormonal aumenta o risco no aparecimento do câncer de mama - um tipo especialmente sensível aos hormônios do corpo.
O que é reposição hormonal?
Conhecida das mulheres que vivem o climatério, a reposição hormonal é recomendada principalmente por ajudar a aliviar os sintomas típicos dessa fase, como ondas de calor, oscilação de humor, insônia, perda de memória, dores articulares, tontura e queda na libido*.
A terapia, no entanto, não é recomendada para quem tem histórico familiar ou pessoal de câncer de mama e do endométrio, trombose e/ou doenças cardiovasculares, justamente por aumentar os riscos de desenvolver esses problemas.
Antes desse estudo, já houve um amplo e famoso realizado pelo WHI (Women Health Initiative), nos Estados Unidos. Iniciado na década de 1990, mais de 16 mil mulheres pós-menopausadas, com idades entre 50 e 79 anos, foram divididas em dois grupos: o primeiro recebeu uma combinação de estrogênio e progesterona, em doses mais altas do que as empregadas atualmente. O segundo grupo recebeu placebo.
O resultado foi um aumento significativo nos casos de câncer de mama, infartos do miocárdio e embolias pulmonares nas mulheres submetidas à reposição, o que levou o estudo a ser encerrado mais cedo do que o previsto. Por outro lado, o estudo mostrou uma redução no número de fraturas provocadas por osteoporose e na incidência de câncer do intestino.
"Após uma certa idade, espera-se que as células mamárias, que são sensíveis aos hormônios femininos, não tenham mais esse estímulo hormonal para se multiplicarem", explica. "A terapia de reposição vai continuar esse estímulo. Se há alguma célula cancerígena, é como jogar lenha na fogueira" diz ele.
Mesmo que não exista alguma célula anormal, no entanto, a continuidade no estímulo aumenta as chances do eventual surgimento de alguma mutação que leve à formação de tumores.
Escolha deve ser individual
Para Max Mano, oncologista especializado em câncer de mama do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, embora a pesquisa mostre que o risco é maior, ele ainda continua sendo baixo no contexto geral.
No entanto, para ele, é importante que a mulher seja informada para que possa levar isso em consideração na hora de optar ou não pelo tratamento. "A paciente precisa saber que o recomendado é que a reposição não dure mais do que cinco anos, já que, após esse período, os riscos se intensificam", diz o especialista.
Para Maria Del Pilar Estevez Diz, coordenadora de oncologia clínica do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), o estudo britânico é importante para reforçar que a terapia de reposição hormonal oferece riscos mesmo às pacientes que não possuem histórico familiar ou pessoal de câncer de mama.
"É importante que a mulher e seu médico avaliem a real necessidade de se fazer uso de hormônios nessa fase da vida e, caso seja realmente necessário, que a aplicação seja feita pelo menor tempo possível", afirma.
Ela lembra ainda que existem outras formas de tentar lidar com os efeitos da menopausa na saúde e na qualidade de vida, como a prática de exercícios físicos e o controle da alimentação. "O uso de hormônios precisa seguir critérios rigorosos", acredita.
Em nota conjunta, as associações britânicas Royal College of Obstetricians e Gynaecologists & British Menopause Society minimizaram os dados e disseram que, embora o estudo seja bem-vindo para oferecer mais informações às mulheres, os benefícios da reposição hormonal não podem ser apagados e devem ser levados em consideração.
Eles também chamaram a atenção para o fato de que a terapia de reposição hormonal pode ter riscos ainda maiores se for utilizada por mulheres acima do peso ou obesas ou ainda que façam uso excessivo de álcool.
* Informação retirada de matéria publicada em 01/11/2018.
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