'Feito é melhor do que perfeito': deixar perfeccionismo ajuda saúde mental
Resumo da notícia
- Buscar a perfeição é um comportamento natural do homem e pode até ser benéfico quando te motiva a sair da zona de conforto
- É preciso ter cuidado quando a autocobrança e o perfeccionismo passa a ser obsessivo e trazer prejuízos para a sua saúde e relacionamentos
- Fazer o que é possível é melhor do que deixar de fazer algo por acreditar que não conseguirá fazer da forma perfeita
"Feito é melhor do que perfeito" ou "o bom é inimigo do ótimo"? Com qual dessas frases você mais se identifica? Um artigo da Harvard Business Review, da Universidade de Harvard nos Estados Unidos reuniu pesquisas que relativizam os benefícios e malefícios do perfeccionismo: em certos casos, pode ser benéfico pois motivam as pessoas a não se acomodarem, mas, por outro lado, a busca pela perfeição pode se tornar uma obsessão e até trazer problemas de saúde como transtorno de ansiedade e depressão.
Para Viviane Yumi Hatano, psicóloga do Hospital Sírio-Libanês, o perfeccionismo em si não é uma doença, mas uma forma de agir diante as situações da vida. "Não podemos pensar que tudo é uma doença senão todos nós, de alguma forma, teriamos algum transtorno psiquiátrico", analisa.
Entretanto, quando o perfeccionismo passa a ser obsessivo, pode sim levar o indivíduo a adoecer, conforme explica Daniel Mondoni, professor de psicologia da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas).
Quando o perfeccionismo é negativo?
Os especialistas afirmam que a perfeição pode ser neutra ou positiva. Como identificar quando passa o limite do aceitável? "Quando começa a trazer sofrimento para o indivíduo", afirma Hatano. De acordo com Mondoni, quando a pessoa sente muitas dificuldades para tocar a própria vida é um indicativo de que algo não está bem. Geralmente isso ocorre devido a alta exigência de si mesmo.
Neste caso, o perfeccionismo pode ser o componente de uma obsessão, de um pensamento muito recorrente, de alguém que nunca está satisfeito com aquilo que faz, que exige para si mesmo alguma coisa além do que consegue ou do que é possível naquele momento. Essa pessoa não sabe o limite das exigências para o outro e com ele mesmo e nunca está satisfeito.
Consequências para a saúde
Perfeccionistas extremos sofrem muito. Por não saberem o limite entre o perfeito e o possível, podem estar em estado de alerta constante e com um alto grau de ansiedade que pode ser prejudicial. Estão em tensão constante tentando antecipar erros, sentem uma insatisfação que às vezes geram quadros de raiva e de agressividade, além de não dormirem direito.
Esses sintomas podem desencadear outros problemas de saúde conjugados: com a insônia podem vir aumento da ansiedade, irritabilidade, dores no corpo e dores musculares. Todos esses problemas associados a tensão podem culminar em um transtorno obsessivo. Como não é possível manter resultados satisfatórios o tempo todo, o perfeccionista pode se frustrar, ficar triste e até apresentar quadros de depressão, em casos mais extremos.
Impacto nos relacionamentos
Além de afetar a saúde e a disposição, o perfeccionismo extremo prejudica as relações desses indivíduos. Em muitos casos devido as alterações de humor, essas pessoas começam a ficar mais irritadas, mais melancólicas, o que gera uma série de alterações que podem afetar, inclusive, a forma com uma pessoa estabelece as situações. "Muda o jeito das relações com as pessoas mais próximas, com os amigos, com a família... a pessoa começa a não conseguir desempenhar as atividades que conseguia entregar novamente, seja do trabalho, seja uma atividade doméstica, seja o cuidado de si mesmo", complementa Mondoni.
Feito é melhor que o perfeito (que não fazemos)
Buscar a perfeição muitas vezes faz com que deixamos de fazer algo que queremos por pensarmos que não iremos conseguir, que não seremos capazes ou algo do tipo. Por exemplo, uma pessoa pode desistir de caminhar porque não consegue correr. Mas, mesmo que essa pessoa não corra, é melhor que ela caminhe do que não faça nenhum exercício. E isso serve para todas as coisas que postergamos ou deixamos de fazer por não ser aquilo que idealizamos ser a melhor forma a se fazer.
Quando conseguimos atingir resultados de perfeição, como explica Hatano, traz um sentimento de felicidade e realização, como entregar um projeto, concluir todas as tarefas do trabalho, de casa ou algo semelhante, mas é passageira: não conseguimos a perfeição o tempo todo, pois, nem tudo depende de nós e não conseguimos controlar as pessoas e muitas coisas da nossa própria vida.
Muitas pessoas aprenderam a ser perfeccionista e são assim a vida toda, mesmo com situações que trazem sofrimento: como um o ideal muito rigoroso, uma grande dificuldade de lidar com as idealizações, além de uma exigência consigo mesmo de sempre alcançar o ideal de perfeição. "Acho que atualmente cada vez mais é uma tendência das pessoas se exigirem mais do que é exigido", complementa Mondoni.
Assumindo as rédeas
Para mudar é preciso primeiro se reconhecer no problema. Mondoni afirma que dificilmente um perfeccionista enxerga que este comportamento está fazendo você sofrer, pois a maioria sente orgulho de ser perfeccionista. As queixas são sempre dos efeitos e sintomas e nunca do perfeccionismo em si.
Para quem se der conta da sua autocobrança, da grande exigência para servir aos outros, fazer o que os outros acham que é certo, é necessário (e possível) assumir as rédeas da vida, segundo afirma Hatano. Existem algumas práticas que podem ajudar a reduzir um pouco da ansiedade, um dos principais sintomas do perfeccionismo. "Algumas práticas de respiração, meditação, yoga, a própria atividade física, também pode ajudar a aliviar esses efeitos", completa. Quando não enxergar saída para a situação, o mais indicado é buscar ajuda de um profissional de saúde mental.
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