Síndrome de Diógenes: negligência consigo mesmo é sinal de problema grave
Resumo da notícia
- As principais características são negligência no autocuidado, desorganização e acúmulo
- Quem desenvolve essa síndrome tende a se isolar, evitando o recebimento de visitas
- Não é indicado forçar o paciente a se livrar do entulho sem ter um plano de suporte
A imagem é clássica: a pessoa fica deprimida e ai vem a desorganização, falta de higiene e acumulação de coisas sem valor... No entanto, se esse quadro é exagerado ou se prolonga por muito tempo, ele pode sinalizar que o indivíduo tem a síndrome de Diógenes.
A denominação é inspirada no filósofo grego de mesmo nome que não era um acumulador, mas possuía uma personalidade arrogante e não aceitava que o contrariassem. Afinal, quem desenvolve essa síndrome tende a se isolar e, se alguém ousa dizer que o ambiente está uma bagunça ou tentar fazer 'aquela' limpa, a pessoa fica muito brava e não aceita ser contrariada.
Por isso, é muito difícil ajudar e encaminhar este paciente a um tratamento. A síndrome de Diógenes acomete, em especial, pessoas idosas, mas pode começar a partir da quarta década de vida.
Entenda melhor o problema
A síndrome de Diógenes é um conjunto de sinais e sintomas especialmente ligados alterações de comportamento. As principais características são uma negligência extrema no autocuidado, desorganização importante do ambiente doméstico, comportamento de coletar coisas sem valor, retraimento social e ausência de percepção sobre a situação, o que leva os indivíduos a recusarem ajuda.
Esse conjunto de sintomas não é reconhecido como uma doença, mas pode acontecer em pessoas com quadros psiquiátricos, tais como o transtorno obsessivo-compulsivo, demência, depressão, dependência de álcool ou um transtorno psicótico, como a esquizofrenia. Além disso, com o decorrer do tempo, o acúmulo passa a ser tão extremo e sem organização que compromete a higiene local e isso também pode desencadear algumas doenças de pele e infecções.
Como identificar tal comportamento
Em muitos casos, isso acontece com pessoas que moram sozinhas. Mas, quem vive com a família pode começar a fazer isso no cômodo pessoal. E o acúmulo é o principal sinal, pois se difere do colecionismo. Um colecionador pode ter uma serie de itens, no entanto, em geral, estão bastante organizados. Já o acumulador vai entulhando coisas sem qualquer ordenamento como caixas de papelão, embalagens, restos de construção, restos de comida, entre outros.
Outra característica de quem desenvolve essa síndrome é acumular, além de objetos, animais. Portanto, residências com muitos cães, gatos ou pássaros, por exemplo, podem ser uma alerta. Geralmente são situações em que há um excesso, sem qualquer cuidado com higiene, podendo comprometer a saúde do indivíduo e dos próprios animais.
É preciso ter tato para oferecer ajuda
Um comportamento clássico de quem desenvolve essa síndrome é a recusa em receber visita ou deixar alguém entrar em casa. Por isso, ao identificar a situação é importante ter cautela e respeito. Pois, todo aquele entulho sem valor, para quem observa, pode ter valor sentimental para o acumulador. "Na minha opinião, eles fazem projeção maciça dos afetos que perderam nos objetos ou nos animais", avalia o psicogeriatra Sérgio Hototian, do IPq HC-FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e membro da diretoria cientifica do setor gerontopsiquiatria da APAL (Associação Psiquiátrica da América Latina).
A síndrome de Diógenes pode surgir, portanto, após a perda de um cônjuge, aposentadoria ou declínio financeiro. E ao conseguir encaminhar o paciente para tratamento, é importante manter a supervisão. Pois, o acúmulo pode retornar a qualquer momento. Também não é indicado forçar o paciente a simplesmente se livrar do entulho sem ter um plano de suporte.
O tratamento é multidisciplinar, abordando diferentes aspectos dos comportamentos problemáticos, tais como tratar alguma doença psiquiátrica de base que esteja presente. Além disso, oferecer suporte social e familiar, tratar a saúde física, avaliar a capacidade do indivíduo de cuidar de si mesmo e de uma casa de forma independente e, caso não seja possível, pensar em alternativas de moradia.
Como funciona o cérebro
A médica psiquiatra Elisa Brietzke, orientadora do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), explica que, com o envelhecimento cerebral, as regiões do cérebro responsáveis pelo autocontrole (principalmente o córtex pré-frontal) podem passar a não funcionar de forma efetiva, deixando esses comportamentos mais acentuados.
Existem poucos estudos sobre a síndrome de Diógenes, mas hipóteses apontam que, normalmente, o paciente apresenta uma disfunção executiva (que é a capacidade de organização, planejamento, execução, monitoramento), perdendo a percepção de inadequação ao que estão fazendo, aumentando a dificuldade de tomar decisão e desfazer desses objetos.
Fontes: Elisa Brietzke, orientadora do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); Raphael Boechat Barros, professor da Faculdade de Medicina da UnB (Universidade de Brasília); e Sérgio Hototian, psicogeriatra do IPq HC-FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e membro da diretoria cientifica do setor gerontopsiquiatria da APAL (Associação Psiquiátrica da América Latina)
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