Balé dá força para ela enfrentar esclerose: "Farei exercício até de muleta"
Tudo começou com pequenos tremores no braço direito. Mas, como os sintomas sumiram na mesma velocidade em que apareceram, a carioca Aline Beatriz, 26 anos, não se preocupou muito e pensou: "Está tudo bem". Só que dois anos depois, em maio de 2017, o problema voltou, e mais forte.
Aline acordou um dia com o braço e metade da barriga dormente. "Pensei que era estresse, porque estava prestes a fazer um exame de qualificação do mestrado. Só fui buscar ajuda médica na semana seguinte, pois continuava incomodada com os formigamentos", conta.
O médico receitou um fitoterápico pois, segundo ele, a carioca realmente estava estressada. Mas, na verdade, Aline tinha esclerose múltipla e só foi apresentada formalmente à doença quase três meses depois, após uma maratona de consultas e exames.
A mestre em biologia se juntou a um número expressivo de 20 mil mulheres no Brasil que são diagnosticadas com esclerose múltipla. Elas são maioria e respondem por 57% dos 35 mil casos estimados no país pela Abes (Associação Brasileira de Esclerose Múltipla), numa proporção que atinge 20 a 30 pessoas a cada 100 mil brasileiros.
"A esclerose virou minha 'amiga'"
Até receber o diagnóstico, Aline sabia pouco sobre a doença e não conhecia ninguém com esclerose múltipla. "Foi um choque. O que mais me espantou na revelação do diagnóstico foi ouvir que eu tinha uma doença neurodegenerativa. É um termo muito forte, em especial para uma jovem cheia de planos."
No início, eu ia para o trabalho, ligava o computador e ficava olhando a tela, sem energia e vontade para nada
Mas nada como o tempo. Aline resolveu seguir seus planos e fazer do problema um amigo, pois tinha a consciência de que ele a acompanharia para o resto da vida. Isso porque a esclerose múltipla possui tratamento para atenuar os sintomas, mas não tem cura.
A carioca, que dançava desde criança, voltou a fazer aulas de balé por gosto e recomendação médica. Também passou a investir em ioga e se tornou uma pessoa mais calma. Ela ainda estuda francês, pedala e cultiva uma vida social ativa.
"Os médicos alertaram que é importante eu praticar exercícios físicos e investir em atividades que gosto." Aline busca levar uma vida normal e sempre toma o cuidado de se perguntar se pode ou não fazer alguma atividade.
"Não posso me descuidar da medicação e dentro de casa. Não mudamos nada de lugar (um dos sintomas comuns da esclerose múltipla é a perda de orientação espacial). Minha família adotou uma nova mentalidade e tem sido compreensiva, assim como minha chefe. Às vezes, eu preciso ficar deitada, não tenho forças e meus pais e irmão entendem que não é preguiça."
Como a doença é uma constante na vida de Aline, mesmo com medicação e atividade física regular, ela sofre algumas vezes com perda de sensibilidade e tem formigamentos constantes nas mãos e nos pés. Já enfrentou perda de memória e humor instável, além de fraqueza nas pernas, especialmente em algumas aulas de balé. Nada que a desanimasse ou a fizesse parar de seguir em frente.
Quero praticar atividade física até quando puder. Caso precise usar cadeira de rodas ou muleta, vou atrás de algum esporte que me permita fazer a manutenção da minha qualidade de vida
Entenda esclerose múltipla
A esclerose múltipla é uma doença neurológica autoimune, ou seja, ocorre devido a uma falha nas células de defesa do corpo, que atacam o próprio organismo. A condição é potencialmente incapacitante e alguns sintomas podem ligar o alerta para buscar auxílio médico o mais rápido possível: visão embaçada, dormência ou formigamento de braços e pernas e redução de força e coordenação motora. Esses sinais podem aparecer antes dos 18 anos e, nas mulheres, até mesmo após a primeira menstruação.
O diagnóstico precoce é o melhor caminho para que a pessoa com esclerose múltipla minimize os impactos da doença e seu dia a dia e tenha menor número de surtos e sequelas. Quanto mais tempo se leva para se descobrir e tratar o problema, mais a doença afeta o sistema neurológico.
Entre os tratamentos terapêuticos mais comuns estão os imunomoduladores SC e IM, imunosupressores orais, imunosupressores intravenosos e anticorpos monoclais. Eles podem ser combinados com sessões de fisioterapia, psicologia, fonoaudiologia e psiquiatria, além de auxílio urológico, para os homens, e ginecológico, para as mulheres.
Esses tratamentos são feitos com o objetivo de evitar que aconteçam surtos da doença que possam resultar em sequelas. Geralmente, alguém com a doença sem cuidados apropriados leva 30 anos para precisar de uma cadeira de rodas, por conta da limitação motora crescente.
Fontes: Alexandre Chehin, psiquiatra pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP); Denis Bernardi Bichuetti, doutor em ciências pela USP (Universidade de São Paulo) e professor de neurologia na Unifesp.
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