Suplemento GABA não tem ação comprovada no ganho muscular e perda de peso
Resumo da notícia
- A suplementação com GABA é uma das novas modas no mundo fitness
- A substância, naturalmente produzida pelo cérebro, estimula a liberação de GH, hormônio que participa do ganho de massa e perda de gordura
- Não existe comprovação científica de que consumir cápsulas de GABA gere o mesmo efeito no corpo e se isso traz perigos à saúde
- Ingerir alimentos probióticos e praticar ioga aumenta naturalmente a produção de GABA no corpo
Na busca por melhores resultados no treino sem precisar fazer tanto esforço, muitas pessoas acabam seguindo modismo que não possuem qualquer comprovação científica. Um bom exemplo disso é o consumo de GABA (sigla em inglês para ácido gama-aminobutírico), substância naturalmente produzida pelo cérebro.
Muitos blogs, sites, influenciadores e canais do Youtube voltados para público fitness propagam a ideia de que a suplementação do neurotransmissor ajudaria a melhorar o desempenho do treino, o ganho de massa e a queima de gordura. Porém, especialistas de várias áreas alertam que ainda não se sabe ao certo se a ingestão de GABA traz benefícios ou algum perigo à saúde. E a venda da substância, inclusive, não é liberada no Brasil
O que é o GABA
O GABA é o principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central, o que significa que ele reduz a atividade dos neurônios de várias regiões do cérebro, produzindo sensação de calma e relaxamento, modulando contrações musculares e induzindo o sono.
Desequilíbrios nos níveis de neurotransmissores cerebrais inibitórios e excitatórios (o glutamato, neurotransmissor excitatório, é o principal "opositor" do GABA) estão associados a índices elevados de estresse, transtornos psiquiátricos como ansiedade e depressão e distúrbios motores, como síndrome das pernas inquietas.
Medicamentos ansiolíticos da categoria dos benzodiazepínicos atuam no cérebro aumentando a sensibilidade dos receptores de GABA e, assim, acalmando, diminuindo a atividade muscular e ajudando a pegar no sono.
Suplementação não é recomendada
Não há estudos científicos relevantes que comprovem a necessidade e a eficiência da suplementação do ácido gama-aminobutírico. Também não se sabe como a substância pode interagir com alimentos, medicamentos e outros suplementos, por exemplo —o que torna seu consumo arriscado. Diante desse contexto, os especialistas consultados pelo VivaBem não recomendam a ingestão de cápsulas ou pílulas de GABA em qualquer dosagem sem orientação médica.
Um estudo publicado no periódico Frontiers in Psychology destaca que, apesar de o suplemento ser largamente utilizado em outros países para acalmar e induzir o relaxamento e o sono (o GABA, assim como o hormônio melatonina, é secretado durante o repouso), o mecanismo de ação dele no organismo é desconhecido. O trabalho também coloca que o mais provável é que os benefícios observados por quem toma cápsulas de GABA sejam resultado do efeito placebo, que é quando uma substância sem capacidade de agir no organismo produz um efeito fisiológico positivo.
A principal questão ainda incerta em relação ao uso do GABA exógeno (como na forma de suplemento) diz respeito à capacidade da substância atravessar a barreira hematoencefálica (que protege o cérebro contra a invasão de substâncias nocivas e garante a saúde do sistema nervoso central) e, dessa forma, produzir qualquer efeito no cérebro. Não há estudos que comprovem isso.
Como GABA ajudaria na perda de gordura e ganho muscular
Para os especialistas, a relação entre o ácido gama-aminobutírico, ganho de tônus muscular e perda de gordura é indireta e não justifica o consumo de suplemento.
"Sabe-se, por exemplo, que o GABA atua na contração e no relaxamento muscular, o que se reflete em melhor resposta do músculo ao exercício e recuperação pós-treino", fala o professor Lucas D. Tavares, do curso de Educação Física da FMU. Além disso, o neurotransmissor influencia a liberação do hormônio do crescimento (GH), que tem relação com o ganho de massa magra e a redução de gordura. Mas isso tudo diz respeito ao neurotransmissor endógeno. "Não é possível afirmar que a ingestão de GABA na forma de suplemento vá causar a elevação no nível de GH no corpo", esclarece Guilherme Giannini Artioli, professor doutor na área de fisiologia aplicada e nutrição da Escola de Educação Física e Esporte da USP (Universidade de São Paulo).
Vale destacar que a venda de GABA é proibida no Brasil, justamente por que o suplemento não tem seus benefícios comprovados. No entanto, o fato de o produto ser facilmente comprado em sites de outros países, sem necessidade de prescrição médica, faz parecer que ele é liberado e pode ser consumido sem riscos. Nos Estados Unidos, a substância é liberada para venda como suplemento nutricional, o que o dispensa do controle de segurança exigido para a comercialização de medicamentos.
Como ativar o GABA naturalmente
Para aproveitar melhor a ação do GABA no organismo sem precisar consumir qualquer suplemento, saiba que há formas naturais de estimular a fabricação do neurotransmissor pelo corpo.
O consumo de alimentos probióticos, ao ajudar a equilibrar a microbiota intestinal, eleva a produção de GABA pelo sistema digestivo, como mostrou uma pesquisa do Instituto de Biociências da Universidade de Cork (Irlanda), publicada no Journal of Applied Microbiology. Iogurtes e leites com lactobacilos, kefir, chucrute e kimchi (conserva tradicional coreana feita com hortaliças fermentadas) estão nesse grupo.
"Chás de melissa, camomila e maracujá também têm poder de estimular a produção de GABA endógeno", sugere a nutricionista e profissional de educação física Andreia Naves.
E não é à toa que você tende a sair mais calmo de uma sessão de ioga, meditação ou massagem: essas atividades elevam o nível de GABA no cérebro e modificam o padrão de ondas cerebrais relacionadas ao relaxamento e ao estresse. Um trabalho científico bem conhecido do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Boston (EUA) mostrou que praticar 60 minutos de ioga aumentou em 27% o nível do neurotransmissor no cérebro dos participantes, em comparação com o mesmo tempo em uma sessão de leitura, que não demonstrou efeito semelhante.
Fontes: Guilherme Giannini Artioli, professor doutor na área de fisiologia aplicada e nutrição da Escola de Educação Física e Esporte da USP (Universidade de São Paulo); Lucas D. Tavares, professor do curso de Educação Física do Centro Universitário FMU; Suzete Maria Cerutti, professora do Departamento de Ciências Biológicas da Unifesp (Universidade de São Paulo); Luiz Scocca, psiquiatra pela USP, membro da SBP (Sociedade Brasileira de Psiquiatria) e da Academia Americana de Psiquiatria; Sara Casagrande, neurologista especialista em distúrbios do movimento; Fernando Gomes, neurocirurgião do Hospital das Clínicas da USP e colunista do VivaBem; Andreia Naves, nutricionista e profissional de educação física.
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