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Dependência emocional: entenda quando situação passa do limite

Ciúme, controle e possessividade são indicadores do problema - Istock
Ciúme, controle e possessividade são indicadores do problema Imagem: Istock

Simone Cunha

Do VivaBem, em São Paulo

02/10/2019 04h01

A dependência emocional costuma ter sinais claros, mas quem está na situação nem sempre consegue enxergá-los. Ciúme, controle e possessividade são indicadores dessa dependência que, em geral, acomete relacionamentos conjugais. Mas também pode acontecer entre amizades e familiares: aquele amigo que quer atenção integral ou uma mãe que acredita que precisa dar atenção total a um único filho, podem indicar o problema.

"O conflito e as diferenças podem não ter espaço, pois se aparecem, ameaçam a continuidade do vínculo, podendo gerar rompimento", justifica a psicóloga Débora S. de Oliveira, docente do Curso de Psicologia da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).

E isso ocorre justamente porque foi instalada uma dependência emocional. O outro passa a ser colocado em uma posição no qual preenche o vazio, como se fosse o responsável pela sua completude. Porém, esse tipo de relacionamento não é saudável e, muitas vezes, é necessária ajuda profissional para conseguir reconhecê-lo.

É importante analisar os vínculos

Desde a infância, precisamos de vínculos seguros que irão garantir um processo chamado apego seguro. E isso não significa apenas proximidade, mas uma relação de qualidade, quantidade e frustrações, possibilitando ao indivíduo o desenvolvimento de uma confiança e segurança na relação com os outros. "Tal processo facilita o crescimento emocional na medida em que se leva em conta as necessidades e respostas de cada um", informa Oliveira.

Na prática, os relacionamentos bons criam um senso de liberdade e as pessoas ficam juntas por prazer e não porque precisam uma da outra. O contrário disso caracteriza uma dependência, condição emocional ou comportamental que afeta a habilidade da pessoa em ter um relacionamento saudável e mutualmente satisfatório trazendo impactos negativos para esse convívio.

"A dependência emocional é muito presente em relacionamentos difíceis que acabam criando um ciclo vicioso de ciúme e possessividade, o dependente quer vigiar o outro e este se sente sufocado, podendo até se afastar", explica Fabrício Guimarães, professor do Departamento de Psicologia Clínica da UnB (Universidade Federal de Brasília).

A face inicial do problema

Quem sofre com a dependência emocional tende a querer exclusividade e, para isso, pode se valer de persuasão e chantagem. Nada do que o outro faça longe dele, ou seja, outros contatos e situações, têm valor. "O dependente costuma criticar tudo que o outro faz ou conquista em que ele (o dependente) não esteja presente, como se qualquer ação sem a sua participação fosse problemática", detalha Guimarães.

A proposta é manter um isolamento, como se a atenção do outro devesse ser exclusiva ao dependente. O especialista da UnB diz que essa situação pode ser muito presente entre mãe e filho que desenvolve algum tipo de dependência química, como se a genitora lhe devesse total atenção para superar o problema. E ela, por se sentir responsável e até culpada pela situação, acaba dedicando-se integralmente ao filho doente.

A dependência emocional em seu início parece banal, e até aceitável. Mas ela pode evoluir para situações de total controle e violência. E isso costuma ser muito recorrente em relacionamentos conjugais que, mesmo trazendo dores e sofrimento, acabam se perpetuando mesmo com um convívio doentio.

Quem pode sofrer com isso

Por muito tempo, a dependência emocional esteve relacionada à figura feminina. O tema foi abordado até em novela e acabou ganhando notoriedade como 'mulheres que amam demais'. No entanto, nos últimos anos, os homens também passaram a ser diagnosticados com o problema. "Eles podem ser muito dependentes emocionalmente e, por isso têm dificuldade em aceitar uma separação, por exemplo. Usam a violência, as agressões e a perseguição para evitar que a parceira vá embora", exemplifica Guimarães.

Segundo o docente, casos em que o homem tira a vida da parceira e suicida-se podem ser um sinal de dependência emocional. "É importante que os homens também falem sobre relacionamentos, pois precisam de ajuda para perceber a violência que cometem", considera Guimarães. Mas, na prática, qualquer pessoa pode cair nessa armadilha independentemente de gênero, faixa etária ou classe social.

Como perceber o problema

Extremos costumam ser fáceis de identificar. "O ciúme também é uma característica muito frequente, pois a pessoa fica refém daquele relacionamento querendo manter um controle exacerbado por medo de abandono", elucida o psiquiatra Aderbal Vieira Junior, responsável pelo ambulatório de tratamento de dependências de comportamentos do Proad da Unifesp (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo).

O psiquiatra explica que para quem convive com a situação ou está próxima dela pode ser mais fácil notar o desequilíbrio. No entanto, essa dependência tende a provocar uma anestesia emocional que impossibilita o paciente de perceber o problema.

Vencer essa dependência é possível

Assim como existem pessoas que não conseguem se livrar das drogas ou da bebida, também é possível tratar a dependência emocional. Portanto, a ajuda profissional pode ser imprescindível para vencer o problema. "A terapia ajuda a encontrar padrões repetitivos de relacionamentos com dependência emocional, além de auxiliar na busca de alternativas sem que se fique preso em buscas por relações 'que vão me fazer feliz', como se a felicidade pudesse ser encontrada no outro", afirma Oliveira.

Também é fundamental prevenir que essa dependência emocional se instale. E isso provoca uma mudança de comportamento sociocultural, afinal é fundamental desmistificar o amor romântico. "O amor e o afeto não precisam aprisionar. Ninguém vive em função do outro, e muitos consideram que o controle é uma expressão do amor, mas não é", alerta Guimarães. Em geral, muitas pessoas buscam ajuda na iminência do abandono ou quando o outro realmente se afasta, mas é possível iniciar um tratamento antes disso para elevar a autoestima e vencer alguns padrões limitantes.