Pai de Beyoncé tem câncer de mama; 1% dos casos da doença ocorre em homens
Resumo da notícia
- Pai da cantora revelou que foi diagnosticado nos estágios iniciais do câncer de mama; doença é considerada rara entre homens
- No caso dele, o fator genético foi importante para ter a doença; por isso, seus filhos e netos fizeram o teste genético para detectar a mutação
- Os especialistas afirmam que a agressividade do tumor e demora em procurar um médico aumentam a letalidade em homens
- Assim como em mulheres, o tratamento pode envolver cirurgia, quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e uso de hormônios
Mathew Knowles, pai da cantora Beyoncé, revelou que está lutando contra um câncer de mama. O empresário deu um depoimento ao programa Good Morning America em que contou como foi receber o diagnóstico da doença, que é considerada rara em homens e corresponde por cerca de 1% dos casos, de acordo com dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer).
A incidência é tão incomum que o Inca não monitora a evolução dos casos com homens. Em 2017, dados do instituto dão conta de 16.927 mortes por câncer de mama; dessas, 203 foram de homens. Já números da American Cancer Society, entidade voluntária dedicada ao combate da doença nos EUA, estimam que, a cada ano, 500 homens americanos morrerão de câncer de mama.
O principal fator de "proteção" é que o homem tem as glândulas mamárias menos desenvolvidas, além de conviverem com baixa produção de hormônios femininos. Já os fatores de risco envolvem o aumento da exposição do organismo ao estrógeno, como tumores no testículo ou mesmo tratamentos médicos envolvam hormônios.
Mas um estudo brasileiro, divulgado no início de 2019, revelou que incidência de câncer de mama em homens pode estar aumentando no País. O grupo da Faculdade de Medicina do ABC, de Santo André, analisou dados coletados pelo SUS (Sistema Único de Saúde) entre 2005 e 2015 e constatou que o número de mortes aumentou em três vezes no período. No total, foram 1.521 óbitos.
Fator genético
Mathew afirmou que, no caso dele, o câncer de mama surgiu por conta de uma mutação genética que ainda o deixa propenso a desenvolver outros três tipos de câncer: no pâncreas, na próstata e na pele (melanoma).
As principais mutações causadoras do câncer de mama são as que envolvem o gene BRCA. Foi essa mutação que levou a atriz Angelina Jolie a passar por uma dupla mastectomia para impedir o desenvolvimento da doença, em 2013.
No caso do câncer de mama em homens, as mutações mais comuns são a BRCA1 e BRCA2. "Mas existem vários tipos de mutação e algumas andam juntas, ou seja, uma mesma mutação pode causar mais de um tipo de câncer", explica o mastologista Eduardo Vieira da Motta, médico assistente-doutor da Divisão de Ginecologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e integrante do corpo clínico dos hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês.
Por precaução, o pai de Beyoncé pediu que seus filhos e netos fizessem exames para detectar se possuem a alteração. Vale lembrar que o homem com câncer de mama pode passar o gene tanto para filhos homens como para filhas mulheres.
O teste para detectar a presença ou não da mutação em familiares é simples, feito apenas com uma amostra de sangue. Mas os resultados precisam ser interpretados por um oncogeneticista com base em uma tabela de fatores de risco.
"A partir disso, é possível pensar em ações preventivas", explica o especialista. No caso das mamas, a mastectomia completa reduz as chances de aparecimento da doença; mas quando o risco envolve órgãos vitais (como o pâncreas), é necessário fazer um monitoramento contínuo e rigoroso para detectar qualquer anormalidade ainda nos estágios iniciais.
Tratamento é o mesmo para todos
De acordo com Motta, os tumores cancerígenos podem se dividir em não agressivos, quando dependem de fatores hormonais; e mais agressivos, que não possuem relação com hormônios. Entre os homens, este segundo tipo é o mais comum quando ele acomete as mamas.
Além do sangramento, como aconteceu com Mathew, outros sintomas são comuns em homens, como caroços e nódulos na mama, dor e retração do mamilo. Mas nem isso costuma levar os homens a procurar ajuda.
"Eles não são estimulados a conhecer o próprio corpo e a ter o autocuidado. Por isso, é comum que eles venham quando a doença já está avançada", afirma Marina de Brot, médica patologista e coordenadora do Clube da Mama da SBP (Sociedade Brasileira de Patologia).
Uma vez diagnosticado, o tratamento é o mesmo feito em mulheres. "É preciso remover o tumor e retirar o pouco de tecido mamário que o homem tem em uma mastectomia", explica de Brot.
Após a cirurgia, são feitas sessões de radioterapia, quimioterapia e/ou imunoterapia, além do uso de hormônios. Vale reforçar que cada paciente é único e a combinação ou não de tratamentos depende unicamente do diagnóstico que recebeu e da conduta do médico responsável pelo caso.
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