Evali: doença relacionada ao uso de cigarro eletrônico ganha nome
Resumo da notícia
- A condição relacionada ao vaping tem um novo nome: Evali, ou lesão pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico ou vaping
- A doença já adoeceu 1.299 pessoas em 49 estados americanos e matou outras 26 em 21 estados
- As autoridades ainda não identificaram um culpado pela condição, mas maioria dos pacientes relatou o uso de produtos que contêm THC e/ou nicotina
A doença pulmonar relacionada ao uso de cigarro eletrônico ganhou um nome: Evali, uma sigla em inglês para lesão pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico ou vaping. A denominação foi dada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), em um guia publicado na sexta-feira (11).
Até o momento, naquele país, foram reportados 1.299 casos e 26 mortes associados à condição. Como ainda não se sabe a real causa das lesões pulmonares e a única coisa em comum entre todos os casos é que os pacientes relataram o uso de cigarro eletrônico ou vaping, a recomendação é que a população americana deixe de usar esses produtos, especialmente os que contenham THC (um dos princípios ativos da maconha) e nicotina.
O guia ainda sugere aos adultos que estiverem usando produtos de cigarro eletrônico ou vaping para parar de fumar, que troquem a estratégia por tratamentos baseados em evidências, incluindo aconselhamento de prestadores de cuidados de saúde e medicamentos aprovados pela FDA, agência que fiscaliza os medicamentos e alimentos dos Estados Unidos. "Se as pessoas continuarem a usar esses produtos, devem monitorar-se cuidadosamente quanto a sintomas e procurar um médico imediatamente se os sinais se desenvolverem (...). Não existe produto de tabaco seguro, e o uso de qualquer um deles, incluindo cigarros eletrônicos, representa um risco."
O que é a Evali?
Embora os problemas reportados pelos pacientes tenham ligação com o uso de cigarros eletrônicos, mais dados ainda são necessários para ter certeza sobre o que está causando a doença respiratória misteriosa.
De acordo com o jornal britânico The Independent, os sintomas descritos antes da hospitalização são dificuldade de respirar e dor no peito. Uma vez internados, os pacientes apresentaram febre, tosse, vômito e diarreia.
Em sua nova orientação, o CDC pede aos médicos que estejam em alerta máximo à medida que a temporada de gripe aumenta no país. A infecção e outros vírus respiratórios têm sintomas semelhantes a um caso de Evali. Em ambos os casos, os pacientes podem ter falta de ar, suores noturnos, baixos níveis de oxigênio e pontos turvos na radiografia de pulmão.
"Qualquer indivíduo pode ter uma lesão pulmonar, uma infecção ou ambos", disse Ram Koppaka, médico do Centro Nacional de Imunização e Doenças Respiratórias do CDC, à revista Scientific American, na sexta-feira.
Um estudo publicado pelo periódico Thorax revelou que o vapor desses cigarros eletrônicos pode ser responsável por desativar as principais células do sistema imunológico no pulmão e aumentar as inflamações no organismo.
"O problema é que há poucos estudos sobre o que as substâncias que produzem o vapor do cigarro eletrônico causam na saúde", explica Stella Regina Martins*, especialista em dependência química do Programa de Tratamento do Tabagismo do Incor (Instituto do coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP).
De acordo com a especialista, além da nicotina, os cigarros eletrônicos ainda podem conter aditivos para dar sabores de fruta, por exemplo, o que traz mais danos à saúde. "Cada aditivo tem uma composição diferente, não regulamentada, que vai mudar quando aquecida. É quase impossível saber em quais substâncias eles vão se transformar após o aquecimento e o que isso vai causar no corpo", acredita.
A maioria dos pacientes com Evali relatou o uso de produtos que contêm THC, o ingrediente ativo da maconha. A FDA está testando centenas de amostras de produtos e dispositivos que podem estar relacionados à doença. "Pode haver mais de uma causa para esse surto", disse Ned Sharpless, comissário interino da FDA, a repórteres.
No Brasil, os DEFs (dispositivos eletrônicos para fumar), como são chamados os cigarros eletrônicos, são proibidos pela Anvisa por meio da resolução RDC 46/2009 justamente pela falta de evidências de que o uso desses produtos é seguro.
Jovens veem o "vape" como produto seguro
Para o médico Paulo Corrêa*, pneumologista da Comissão Científica de Tabagismo da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia), os aparelhos para o vaping são comercializados, ainda que proibidos, de forma livre e como um produto seguro —o que não é o caso. "Muitos jovens usam achando que a fumaça é apenas vapor de água, mas não é verdade", diz. "O líquido contém substâncias como glicerol e propileno glicol, que podem originar substâncias cancerígenas depois de aquecidas."
Além disso, há ainda a adição de nicotina em muitos deles. A substância também está presente no cigarro comum e é conhecida por causar dependência. "Os usuários acreditam estar fumando algo moderno e personalizável, mas na verdade estão com um produto que pode fazer tanto mal quanto o cigarro comum", diz.
Martins ressalta a importância de que os novos usuários estejam avisados dos riscos que correm ao utilizar esse produto. "Não sabemos se trocamos seis por meia dúzia. Quem quiser usar precisa saber que pode entrar nessa moda e sair doente."
*Fontes consultadas em matéria do dia 19/08/2019.
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