Falha defensiva: entenda o que bloqueia você para não fazer o que planeja
Resumo da notícia
- Psicóloga norte-americana detalhou em estudo três bloqueios mentais que nos impedem de realizar o que queremos
- Há pesquisas semelhantes e especialistas em saúde mental reconhecem com outros nomes os mesmos mecanismos mentais estudados pela norte-americana
- Buscar autoconhecimento é uma forma de identificar bloqueios mentais e impedir que atrapalhem o dia a dia
Você já pensou em começar a fazer alguma coisa, algo que queria ou precisava realizar, mas que acabou não saindo do pensamento? Pode ser qualquer coisa: iniciar uma dieta, começar a praticar atividade física, ler determinado livro, vender um objeto. É provável que todo mundo já tenha passado por uma situação assim. Na maioria das vezes, justificamos com preguiça, falta de vontade ou desânimo o fato de não executar a tarefa. Para a psicóloga cognitiva norte-americana Amanda Crowell, isso, na verdade, se deve a bloqueios mentais causados por uma "falha defensiva".
De acordo com Crowell, existem três bloqueios mentais que nos impedem de realizar nossos objetivos, mas que é possível "enganá-los" e conquistar o que queremos. Conversamos com profissionais de saúde mental para saber o que pensam sobre a teoria da psicóloga norte-americana.
Bloqueio 1: "Não sou capaz de fazer isso"
Acreditar que você não pode ou não tem capacidade para alguma coisa, porque o resultado do que almeja dependeria de talento ou genética, é um erro grave, segundo Amanda Crowell. Ela afirma que enfrentar instabilidades no começo de uma atividade ou caminho escolhido não pode impedir de seguir tentando.
Para o psicólogo e professor de psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Vicente Cassepp-Borges, esse bloqueio remete à teoria do psicólogo canadense Albert Bandura sobre autoeficácia. De acordo com Bandura, a percepção da competência ajuda no planejamento e cumprimento de metas de curto prazo.
Borges explica que quando escolhemos atividades que sabemos ser capazes de realizar é mais fácil conseguir. "A gente tem que ter consciência do próprio potencial, de que é capaz de fazer determinadas coisas e identificar a quantidade de esforço que vai precisar colocar na empreitada", analisa.
Bloqueio 2: "Isso não tem nada a ver com pessoas como eu"
Segundo Crowell, a segunda falha defensiva tem a ver com resistir em fazer coisas que você tem de fazer por essas coisas não combinarem com o seu perfil. Por exemplo, ela menciona a dificuldade que teve para vender seus serviços de coaching quando estava no início da carreira. Ela agendava encontros para prospectar clientes, mas quando a data se aproximava, encontrava uma desculpa para não ir. Acabou descobrindo que fazia isso porque não tinha perfil "vendedor". A solução? Encontrar alguém com quem se identifique e que tenha alguma experiência naquilo que deseja realizar e compartilhar com essa pessoa suas preocupações. Isso deve render ideias e ajudar a desfazer a crença de quem você "não combina" com determinada coisa ou atividade.
Borges cita novamente Bandura ao analisar o segundo bloqueio descrito por Crowell. O psicólogo canadense é autor da teoria da aprendizagem vicariante, feito por observação, ou seja, aprendemos com a experiência do outro. Mas ele ressalta que não existem "pessoas como eu" porque cada ser é único e as pessoas são todas diferentes umas das outras. "Nem sempre a experiência do outro será compatível comigo. Às vezes, a pessoa falhou em alguma coisa porque não tentou o suficiente ou não usou a empolgação que devia", pondera o professor.
Bloqueio 3: "Sei que tenho que fazer isso, mas não quero"
Sabe quando você tem noção de que precisa fazer uma coisa, mas não tem a mínima vontade? Ou quando não quer fazer algo, mas sente que deve? Crowell cita que queremos as coisas por fatores intrínsecos ou extrínsecos. A tática da psicóloga para "enganar" esse bloqueio quando achar que deve fazer algo que não quer é buscar os fatores intrínsecos a cada escolha.
Para Borges, Crowell utiliza outros nomes para termos técnicos já existentes na psicologia. Neste terceiro bloqueio, ela se referiria a "lócus de controle", termo criado pelo psicólogo americano Julian Rotter que significa lugar de controle.
Na teoria de Rotter, há pessoas com o lócus de controle interno, ou seja, que tomam decisões baseadas em motivos internos - no que sente ou acredita - e que, por isso, tendem a se tornar pessoas mais independentes. Enquanto isso, indivíduos com o lócus de controle externo são o oposto: norteiam a vida a partir de fatores externos e, por isso, são mais dependentes de outros e se importam com críticas e comentários a respeito deles.
Borges explica: se um aluno vai mal em uma prova e tem o lócus de controle externo, ele vai dizer que a prova estava difícil, que o professor não vai com a cara dele, que é malvado ou outra razão dissociada dele. Se o aluno que tem o lócus de controle interno, vai pensar que deveria ter estudado mais, que não foi bem porque não se dedicou tanto. "É sempre importante a gente se ver como senhor dos nossos atos e trazer o lócus de controle para nós, pois não há motivação para realizar algo quando as razões estão fora da gente", completa.
Falhas ou crenças?
Lívia Beraldo de Lima Basseres, psiquiatra de São Paulo, afirma que as pessoas estão constantemente de sabotando, seja por medo de falhar, de se expor ou de criar conflito. Por outro lado, temos crenças mentais que nos impedem de fazer várias coisas e ameaçam estagnar nosso dia a dia. Ela concorda com as percepções de Crowell, mas acredita que o termo "falha" pode ser perigoso. "Podemos ter tais bloqueios por baixa autoestima ou insegurança, entre outros fatores. Chamar de 'falha' pressupõe que erramos em algo, o que não seria verdade", afirma. Ela diz, ainda, que é importante estar atento para identificar essas crenças limitantes e bloqueios na vida, e que procurar um psicoterapeuta pode ajudar a se conhecer melhor e quebrar esses padrões.
Autoconhecimento para furar bloqueios
O que Amanda Crowell chama de bloqueios mentais muitos especialistas entendem como o funcionamento normal do inconsciente. De acordo com a psicóloga e psicanalista Gabriela Malzyner, de São Paulo, é o inconsciente que nos leva a tomar atitudes, decisões e fazer escolhas que nem sempre são as mesmas que o pensamento consciente diria serem ideais.
Ela afirma que existem coisas que fazemos que não necessariamente são escolhas conscientes - pelo contrário, são desejos inconscientes que nos levam a lugares e situações que muitas vezes não nos agrada. A ideia do consciente e inconsciente foi defendida por Sigmund Freud, que precedeu a psicologia cognitiva de Albert Bandura e Julian Rotter.
Para os especialistas, a ideia de driblar bloqueios é curiosa porque poderia pressupor bloqueios bem delineados ou iguais para todo mundo ou que se pode controlar os processos psíquicos. "É preciso abraçar a ideia de que a gente tem que se conhecer mais e fazer uma busca interna para entender nosso funcionamento mental. Cada pessoa vive experiências e sensações distintas e sempre há uma parcela de impossibilidade de saber de si mesmo", finaliza Gabriela.
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