"Ignorei sangramento 5 anos por achar que era hemorroida, mas era câncer"
Ana Paula Monteiro, 41, passou cinco anos com um incômodo que não contava para ninguém: muitas vezes, quando ia ao banheiro, tinha um sangramento. "Eu não dava bola, achava que só eram vasinhos estourados", diz.
A estilista realmente teve que fazer três operações por causa de hemorroidas. Porém, mesmo depois das cirurgias, os sangramentos continuaram e ela não se importou. "Um dia, caminhando no shopping, tive um sangramento grande e espontâneo. Fiquei muito assustada", conta. Ao fazer um exame, o resultado acusou a verdadeira causa: um tumor no intestino.
Confusão é comum
Confundir os sintomas de um câncer colorretal em estágio avançado com hemorroidas é comum. Segundo Rodrigo Oliva Perez, especialista em cirurgia oncológica e do aparelho digestivo da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, é muito difícil diferenciar as doenças só pelo quadro clínico. "Em geral, quando o sangramento está relacionado ao câncer, ele já indica uma fase avançada da doença", diz.
Justamente por essa confusão, um sangramento retal, na grande maioria das vezes, merece investigação. Como Ana Paula sempre teve problemas para ir ao banheiro e precisava fazer muita força para evacuar, achou que era algo normal. "Tinha vergonha de falar sobre isso! Hoje, fico pensando em como eu não via aquilo como um problema. Por que eu senti vergonha de buscar um médico? Que tabu enorme era isso para mim. Que besteira! Se eu tivesse ido atrás para saber o que estava acontecendo, talvez meu problema não tivesse chegado ao ponto que chegou", conta.
Do sangramento à metástase
Após descobrir o câncer, Monteiro foi internada às pressas, porque o tumor já havia obstruído seu intestino. A retirada total do órgão, de acordo com Perez, geralmente ocorre quando a doença é hereditária. "Nesse caso, se tirar um pedaço, corre o risco de o câncer aparecer novamente", diz.
Apesar de a doença da estilista não ser um problema familiar, sua cirurgia total ocorreu porque a lesão já era obstrutiva. "Quando o tumor cresceu tanto ao ponto de obstruir o intestino, causando uma grande dilatação, e necessário uma operação emergencial. É comum em casos assim retirarmos o órgão inteiro e fazermos uma emenda com o ânus", explica Perez.
Após a cirurgia, os problemas de Ana Paula não acabaram. Ela descobriu uma metástase no pulmão. "Foi um susto. Me deu um desespero", diz. "Mas depois pensei que minha vontade de me recuperar era muito importante naquele momento."
Um ano após a cirurgia do intestino, ela tirou nove nódulos do pulmão, dos quais sete eram tumores. Seis meses depois, em 2015, descobriu que estava com um novo câncer primário no reto. "Dessa vez eu soube, graças a Deus, bem no comecinho, mas tive que tratar com quimioterapia e radioterapia", diz.
Em 2017, ela ainda tirou mais 13 nódulos do pulmão, dos quais nove eram tumores. Agora, encontrou mais quatro e está tratando com uma quimioterapia oral. "Depois de tudo o que aconteceu, eu sempre tento olhar o que é melhor. Hoje eu só tenho que tratar meu pulmão, o câncer não apareceu mais em outros órgãos, o que já é um ponto positivo", diz.
Caso entre jovens é raro, mas está aumentando
Tumores malignos no intestino estão entre os poucos tipos de cânceres que podem ser prevenidos, mas são assintomáticos em sua fase inicial. "A colonoscopia detecta o pólipo (fase inicial ou precursora do câncer) no intestino, mas o exame só é recomendado a partir dos 45 anos. Aparecer uma lesão precursora em pessoas mais jovens é menos frequente", diz Perez.
O caso de Ana Paula, além de ser raro pela sua idade, ainda não tem uma causa hereditária. "Não há ninguém próximo que tenha tido um câncer, apenas hemorroidas", diz ela.
No Brasil, a maioria dos diagnósticos ocorrem a partir dos 55 anos de idade, mas casos de câncer colorretal em pacientes com 40 ou 45 anos têm aumentado, segundo os médicos. "Gostamos de culpar a alimentação inadequada, mas na verdade ainda não sabemos a causa desse aumento", lamenta Diogo Bugano*, médico oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein. Por isso, é fundamental que as pessoas procurem o médico sempre que notarem qualquer alteração nas fezes ou no hábito intestinal.
Ana Paula acredita que, embora seguisse um estilo de vida normal, alguns de seus hábitos podem ter causado o câncer inicial. "Eu era workaholic, pulava várias refeições do dia e, quando comia, era qualquer coisa fácil. Meu trabalho era enlouquecedor e vivia estressada, não tinha tempo para me cuidar."
A estilista conta que teve de parar de trabalhar por causa do tratamento e hoje lê muito sobre alimentação e tenta levar uma vida mais saudável possível. "Prefiro fazer eu mesma minha comida. Eu sinto diferença no meu corpo, ele responde melhor ao tratamento."
Ela também se mantém positiva quanto à regressão da doença: "Acho importante dizer que, independentemente de qual o tamanho da estrada, da dificuldade do tratamento, temos que acreditar que vai fazer bem, que é uma esperança de vida. Ter carinho dos familiares e amigos também. Quando colocamos esse pensamento na cabeça, o corpo sente também. Eu tento sempre fazer um mantra que vai dar certo."
*Fonte consultada em matéria do dia 02/10/18.
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