Ela teve anorexia e bulimia nervosa: "Fiz absurdos para driblar a fome"
Por quase dez anos, Fernanda Fahel, 26, sofreu com transtornos alimentares. Os problemas começaram ainda na adolescência, quando a paulista iniciou a carreira de modelo e era constantemente cobrada para diminuir suas medidas e ter o "corpo ideal".
"Na época tinha 98 cm de quadril e pediram que eu perdesse cerca de 10 cm. Era uma pressão horrível, chegava a ser desumano", afirma.
Ela chegou a desfilar na Fashion Week, um dos eventos de moda mais importantes do país, mas resolveu largar a profissão depois de ver cenas constrangedoras nos bastidores. "Vi que tudo aquilo era estranho. As modelos faziam coisas absurdas para emagrecer e o psicológico ficava bem abalado. Também tentei quase de tudo para ter a aparência 'ideal' para a passarela e aguentar a pressão, só não usei droga, mas, de resto, fiz muitas coisas que colocaram minha saúde em risco."
Diagnóstico de anorexia nervosa
Deixar o mundo da moda não fez com que a busca constante para perda peso parasse. Aos 16 anos, Fernanda foi diagnosticada com anorexia nervosa e chegou a pesar 38 kg, com 1,73 m de altura. "Eu enxergava que estava magra, mas queria emagrecer mais."
Vários fatores podem desencadear a condição. Higor Caldato, psiquiatra especialista em psicoterapias e transtornos alimentares pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), explica que a anorexia pode ser provocada por questões emocionais, fatores ambientais (sociais) que "incentivam" a busca pelo corpo perfeito, pré-disposição genética e causas biológicas. O problema costuma ser prevalente na adolescência e é mais comum em mulheres.
No caso de Fernanda, o problema foi disparado não só pela pressão social que ele sofreu no mundo da moda, como também no dia a dia. "Minhas referências eram sempre as mulheres com barriga chapada nas capas de revista, e ainda ouvia das pessoas que eu era cheinha."
Além do corpo, sua relação com a comida era bastante equivocada. "Eu via uma montanha no prato, sendo que a quantidade de alimentos nem era tão grande assim. Me sabotava, deixava de comer e fazia coisas absurdas para driblar a fome e me dar saciedade. Se minha mãe descobrisse um método, eu ia lá e inventava outro."
"Não entendia nada daquilo"
Na fase em que começou o tratamento, a ex-modelo teve dificuldade de entender tudo que estava passando. Embora tivesse acompanhamento psicólogo, ela sentia uma angústia muito grande e, muitas vezes, não achava resposta para o seu problema.
Ela começou a ter sintomas depressivos e tentou se suicidar três vezes ao longo de uma década.
Tinha medo de ouvir que havia engordado e nunca estava feliz com o meu corpo. Eu não entendia nada do que estava acontecendo, era uma dor"
Caldato explica que, a anorexia nervosa é uma das doenças psiquiátricas que tem maior taxa de mortalidade, devido ao sofrimento do paciente.
Bulimia e compulsão alimentar
Após descobrir a anorexia, Fernanda começou a se tratar com diversos médicos, fez terapia e teve acompanhamento com um nutricionista. Ao achar que estava bem, ela interrompeu o acompanhamento profissional por conta própria e começou a desenvolver bulimia. "Comia e corria para o banheiro. Minhas refeições sempre vinham acompanhadas do sentimento de culpa", diz.
Quando não conseguia vomitar, ela recorria aos laxantes. "Tomava escondido. Minha mãe teve que tirar as fechaduras das portas para saber o que eu estava fazendo."
Na mesma época, ela desenvolveu compulsão alimentar, um dos sintomas da bulimia, e não conseguia controlar a quantidade que comia nas refeições. "Queria agradar minha mãe, fazê-la feliz e compensar o tempo que fiquei sem comer. Não percebia que me alimentava de forma desenfreada e que estava doente novamente". Como o problema não estava sendo tratado, Fernanda engordou e chegou a pesar 100 kg.
Tempo de remissão
Depois do período crítico da doença, a paulista voltou a procurar ajuda e se tratar. O acompanhamento foi feito com nutricionista, terapeuta e psiquiatras novamente. Passados quase dez meses desde a última tentativa de suicídio, Fernanda conta que hoje se considera curada.
Ela diz que melhorou a relação com a comida e que ir a um churrasco não é sinônimo de problema. Muito pelo contrário. Comer virou um ato de prazer. "Encontrei uma terapeuta certa, que me ajudou em muitos pontos. Fiz o tratamento e não desenvolvi nenhum tipo de distúrbio nesse tempo. Hoje, estou com 73 kg e saudável", diz.
Para ser considerado como curado ou em remissão, o paciente precisa estar sem sofrimento emocional por pelo menos seis meses, atingir o peso ideal e não desenvolver métodos compensatórios durante o período.
Para ajudar outras pessoas que sofrem com o problema, Fernanda criou um blog, no qual compartilha dicas e informações sobre transtornos alimentares. "Falta muita informação e temos que ajudar essas pessoas que sofreram ou sofrem com o problema. Não estamos sozinhos."
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