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Ela teve anorexia e bulimia nervosa: "Fiz absurdos para driblar a fome"

Acervo pessoal
Imagem: Acervo pessoal

Priscila Carvalho

Do VivaBem, em São Paulo

01/11/2019 04h00

Por quase dez anos, Fernanda Fahel, 26, sofreu com transtornos alimentares. Os problemas começaram ainda na adolescência, quando a paulista iniciou a carreira de modelo e era constantemente cobrada para diminuir suas medidas e ter o "corpo ideal".

"Na época tinha 98 cm de quadril e pediram que eu perdesse cerca de 10 cm. Era uma pressão horrível, chegava a ser desumano", afirma.

Fernanda modelo  - Istock  - Istock
Imagem: Istock

Ela chegou a desfilar na Fashion Week, um dos eventos de moda mais importantes do país, mas resolveu largar a profissão depois de ver cenas constrangedoras nos bastidores. "Vi que tudo aquilo era estranho. As modelos faziam coisas absurdas para emagrecer e o psicológico ficava bem abalado. Também tentei quase de tudo para ter a aparência 'ideal' para a passarela e aguentar a pressão, só não usei droga, mas, de resto, fiz muitas coisas que colocaram minha saúde em risco."

Diagnóstico de anorexia nervosa

Deixar o mundo da moda não fez com que a busca constante para perda peso parasse. Aos 16 anos, Fernanda foi diagnosticada com anorexia nervosa e chegou a pesar 38 kg, com 1,73 m de altura. "Eu enxergava que estava magra, mas queria emagrecer mais."

Fernanda 1 - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Vários fatores podem desencadear a condição. Higor Caldato, psiquiatra especialista em psicoterapias e transtornos alimentares pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), explica que a anorexia pode ser provocada por questões emocionais, fatores ambientais (sociais) que "incentivam" a busca pelo corpo perfeito, pré-disposição genética e causas biológicas. O problema costuma ser prevalente na adolescência e é mais comum em mulheres.

No caso de Fernanda, o problema foi disparado não só pela pressão social que ele sofreu no mundo da moda, como também no dia a dia. "Minhas referências eram sempre as mulheres com barriga chapada nas capas de revista, e ainda ouvia das pessoas que eu era cheinha."

Fernanda 2 - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Além do corpo, sua relação com a comida era bastante equivocada. "Eu via uma montanha no prato, sendo que a quantidade de alimentos nem era tão grande assim. Me sabotava, deixava de comer e fazia coisas absurdas para driblar a fome e me dar saciedade. Se minha mãe descobrisse um método, eu ia lá e inventava outro."

"Não entendia nada daquilo"

Na fase em que começou o tratamento, a ex-modelo teve dificuldade de entender tudo que estava passando. Embora tivesse acompanhamento psicólogo, ela sentia uma angústia muito grande e, muitas vezes, não achava resposta para o seu problema.

Ela começou a ter sintomas depressivos e tentou se suicidar três vezes ao longo de uma década.

Tinha medo de ouvir que havia engordado e nunca estava feliz com o meu corpo. Eu não entendia nada do que estava acontecendo, era uma dor"

Caldato explica que, a anorexia nervosa é uma das doenças psiquiátricas que tem maior taxa de mortalidade, devido ao sofrimento do paciente.

Bulimia e compulsão alimentar

Após descobrir a anorexia, Fernanda começou a se tratar com diversos médicos, fez terapia e teve acompanhamento com um nutricionista. Ao achar que estava bem, ela interrompeu o acompanhamento profissional por conta própria e começou a desenvolver bulimia. "Comia e corria para o banheiro. Minhas refeições sempre vinham acompanhadas do sentimento de culpa", diz.

Fernanda 3 - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Quando não conseguia vomitar, ela recorria aos laxantes. "Tomava escondido. Minha mãe teve que tirar as fechaduras das portas para saber o que eu estava fazendo."

Na mesma época, ela desenvolveu compulsão alimentar, um dos sintomas da bulimia, e não conseguia controlar a quantidade que comia nas refeições. "Queria agradar minha mãe, fazê-la feliz e compensar o tempo que fiquei sem comer. Não percebia que me alimentava de forma desenfreada e que estava doente novamente". Como o problema não estava sendo tratado, Fernanda engordou e chegou a pesar 100 kg.

Tempo de remissão

Depois do período crítico da doença, a paulista voltou a procurar ajuda e se tratar. O acompanhamento foi feito com nutricionista, terapeuta e psiquiatras novamente. Passados quase dez meses desde a última tentativa de suicídio, Fernanda conta que hoje se considera curada.

Ela diz que melhorou a relação com a comida e que ir a um churrasco não é sinônimo de problema. Muito pelo contrário. Comer virou um ato de prazer. "Encontrei uma terapeuta certa, que me ajudou em muitos pontos. Fiz o tratamento e não desenvolvi nenhum tipo de distúrbio nesse tempo. Hoje, estou com 73 kg e saudável", diz.

Para ser considerado como curado ou em remissão, o paciente precisa estar sem sofrimento emocional por pelo menos seis meses, atingir o peso ideal e não desenvolver métodos compensatórios durante o período.

Para ajudar outras pessoas que sofrem com o problema, Fernanda criou um blog, no qual compartilha dicas e informações sobre transtornos alimentares. "Falta muita informação e temos que ajudar essas pessoas que sofreram ou sofrem com o problema. Não estamos sozinhos."

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