Para estar sempre solucionando problemas, a mente chega até a criar novos
Resumo da notícia
- A mente trabalha constantemente em busca de solucionar problemas, mas como ela não para isso pode se tornar um problema
- Se não controlarmos nossa mente nesse sentido, teremos um sofrimento psíquico que poderá gerar danos a nossa saúde
- Identificar esse padrão mental e colocar-se no momento presente é a forma mais saudável de sair da sua cabeça e voltar só quando de fato precisar
Nossa mente é uma máquina de resolver problemas. Tanto que a roda, a mesa, a panela, o fogão, o chuveiro, o carro, a lâmpada, e todas as outras invenções da humanidade foram criadas para solucionar alguma questão. Isso é algo muito positivo, é clao. No entanto, nossa mente não para de funcionar quando resolvemos algo. Ela trabalha incessantemente na busca de soluções para alguma questão, até quando não temos nenhuma dificuldade. Com isso, em vez de resolver, criamos problemas e passamos a tentar solucioná-los, criando-se assim um círculo vicioso.
Enquanto o nosso corpo descansa no sono, a mente trabalha nos sonhos, ou seja, a máquina nunca para. Tiago Ravanello, psicólogo e professor do curso de psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul diz que o funcionamento mental tem por tendência encontrar saídas facilitadas: o objetivo do psiquismo é justamente o de encontrar os meios mais simples para dar vazão a esse excesso de pensar, que cria uma tensão que é sentida como desprazer.
"A mente trabalha no sentido de seu próprio esvaziamento, independentemente de se isso levará à resolução de problemas ou a criação de outros ainda maiores", analisa o professor. Ele complementa que, se entendemos isso, compreendemos também por que se torna tão difícil abandonar hábitos ou superar sofrimentos, já que eles também operam no sentido de dar saídas aos nossos excessos.
Prisão mental
Segundo o psicólogo Linniker Matheus Soares de Moura, em muitas situações nossa mente se apega a certos vieses de processamento da informação, ficando presa a alguns momentos da vida. Um desses vieses é definido por Aaron Beck, psiquiatra norte-americano, como filtro negativo, ou seja, centramos nossa atenção nas informações e situações negativas do ambiente, alterando nossa visão de realidade, emoções e comportamento.
Ravanello explica que existem dois aspectos importantes do funcionamento mental: 1) há uma forte tendência à repetição de nossos pensamentos e memórias; e 2) não estamos tão diretamente imersos na realidade quanto gostaríamos. Tanto experiências agradáveis quanto as desagradáveis tendem a se repetir em nossos pensamentos justamente porque a nossa mente associa experiências, fazendo com que novas vivências sejam conectadas a situações vividas anteriormente. Isso auxilia na compreensão do que está sendo vivido, mas também em sua acomodação em termos de construção de nossa história. Há, portanto, um lado saudável nesses processos de repetição: eles nos auxiliam a elaborar a nossa narrativa a respeito de tudo aquilo que vivemos.
Justamente por isso, o que for mais estranho, traumático ou doloroso tende a necessitar de mais ações de pensamento para tornar-se integrado a nossa personalidade. Ao mesmo tempo, toda situação que se coloca a nossa frente, por ser tomada em associações de nosso passado e de nossas fantasias para poder ser compreendida e experienciada, não pode ser considerada totalmente derivada da realidade externa. "Somamos nossa história individual aos fatos do mundo, motivo pelo qual não vivemos inteiramente no presente, nem na realidade factual. A escuta clínica nos ensina que o subjetivo não é menos real do que a realidade externa, mas também que fugimos da realidade muito mais do que estamos acostumados a supor", esclarece Ravanello.
Prejuízos
Nosso corpo pode responder das mais diversas formas ao sofrimento psíquico, esclarece Moura. "Focar demais em problemas e em situações negativas faz com que nossos níveis de estresse aumentem e gerem desequilíbrio na fisiologia cerebral, alterando nosso humor, ciclos do sono, relações sociais, produtividade no trabalho e muitos outros problemas, como até mesmo alterações de pressão sanguínea e arritmia cardíaca", diz.
Ravanello diz que o caso especialmente doloroso das obsessões e dos pensamentos ruminantes, tão comuns em casos de transtorno obsessivo-compulsivo. Alterações no sono, ansiedade e sentimentos de evitação e isolamento também são comumente ligadas a tais experiências.
Preste atenção aos tipos de conteúdo que está em seus pensamentos: se a sua mente não está mais prestando atenção em outras atividades cotidianas e você sente que o tempo todo está pensando na mesma coisa, é um sinal que você precisa de ajuda.
Abrindo a cabeça
Nossa vida é muito corrida e geralmente nós diluímos nossa atenção entre várias tarefas, o que pode ser prejudicial, já que não nos concentramos em fazer as coisas com completude. Moura orienta passos simples para sair desse fluxo mental, como fazer as refeições atento à comida, tirar alguns momentos no dia para respirar e reorganizar a mente, anotar as atividades a serem feitas e fazer planejamentos do que deve ser feito, dando a devida atenção a cada passo.
"Assenhorar-se de nossa própria história é o encaminhamento mais precioso nesse sentido. Na psicanálise costumamos dizer que num processo analítico trata-se de reescrever a própria história com uma letra mais legível", explica Ravanello. Para ele, a saída que buscamos neste campo tem relação direta com a ideia de que é fundamental para todo sujeito conhecer suas motivações mais implícitas para tomar decisões a respeito do que nos é ou não pertinente.
"Não há como se conectar ao presente se não entendemos as repetições de nosso passado, assim como não há como planejar e sonhar um futuro à altura de nossas aspirações se não nos defrontamos com o nosso desejo", finaliza.
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