Além de uma coincidência: conheça as sincronicidades e como observá-las
Resumo da notícia
- Sincronicidades são coincidências que vêm acompanhadas de um significado
- Elas acontecem com a participação do inconsciente coletivo
- Precisamos ficar atentos para que essas coincidências significativas não passem despercebidas
Você já passou por um dilema e, de repente, recebeu um sinal que fez com que todas as suas dúvidas desaparecessem? Esses sinais inesperados podem vir de inúmeras maneiras. Através de um pensamento ou de uma imagem que vem à mente apontando um novo caminho, de um sonho esclarecedor, de uma conversa que traz a resposta que estávamos buscando há algum tempo, de uma mensagem de um livro ou de um filme que chacoalha as nossas convicções, ou mesmo de um encontro com alguém especial que provoca uma guinada na vida.
Quando algo assim acontece, pensamos que é uma dessas coincidências do dia a dia, como pensar em uma pessoa e receber uma ligação dela na mesma hora. Mas não é. Enquanto as coincidências comuns são apenas a ocorrência de dois ou mais fatos ao mesmo tempo, as sincronicidades são esses momentos acompanhados de um significado ou insight.
Foi o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung quem batizou o fenômeno. Ele observou que as coincidências significativas de dois ou mais acontecimentos eram algo mais do que uma probabilidade de acasos. Ou seja, para ser sincronicidade, é preciso que dois ou mais eventos aconteçam simultaneamente, sem relação de causalidade ou lógica de tempo e espaço, e transformem a vida de algum jeito.
"Não adianta ser só coincidência sem produzir uma mudança de visão de mundo, um significado. A sincronicidade mexe com as emoções e gera uma mudança do estado de consciência", explica Waldemar Magaldi, psicólogo, psicanalista junguiano e coordenador do Ijep (Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa). Portanto, nem mesmo acontecimentos surpreendentes como ganhar na loteria duas vezes ou perder um voo e depois descobrir que o avião caiu podem ser definidos como sincronicidades, se eles não forem gatilhos para uma transformação pessoal.
Para o fenômeno ficar mais claro, o especialista conta o que aconteceu com um casal de amigos que há sete anos estava tentando ter um filho. Certa noite, a mulher sonhou com uma criança que disse que estava chegando, e inclusive revelou como se chamava. No dia seguinte, o marido encontrou uma colega médica que comentou o caso de uma criança que estava à espera de adoção, pois a mãe a havia abandonado. Quando foi visitá-la, a moça reconheceu que era a mesma do sonho.
As sincronicidades acontecem quando soltamos a mente. "Diante de um momento de 'relaxamento' do ego, podemos ser visitados por imagens vindas do inconsciente, tanto individual quanto coletivo", afirma Luciana Bagatella, psiquiatra e diretora de comunicação da SBPA (Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica). E continua. "Se essas imagens se relacionam com outras que estejam ocorrendo simultaneamente e tiverem um significado relacionado, esse pode ser um evento sincrônico."
Participação do inconsciente coletivo
Pensar que as sincronicidades são frutos do consciente e inconsciente pessoal é um grande equívoco. Para acontecer, elas também dependem do inconsciente coletivo, que é um conjunto de sentimentos, pensamentos e lembranças compartilhadas por toda a humanidade, como definiu Jung. "Quando somos concebidos, saímos de uma condição que ele chamava de pleroma, como se fosse uma sopa cósmica onde tudo está de alguma maneira envolvido", compara Magaldi. Em outras palavras, estamos interligados e interconectados o tempo todo.
Para entender melhor, imagine que a consciência é uma pequena ilha num grande lago que é o inconsciente pessoal, onde estão armazenadas as experiências que você viveu desde a infância. Esse lago faz parte de um oceano formado por todas as pessoas, que é o inconsciente coletivo. "O inconsciente coletivo é um só e pode fornecer imagens de qualquer tempo e espaço, de qualquer indivíduo ou cultura. Eventualmente, quando dotadas de um significado, elas podem parecer encomendadas para a situação", resume Bagatella.
Há quem prefira pensar que sincronicidades são frutos do acaso ou de interpretações místicas, mas elas encontram explicações em algumas linhas de pesquisa. "Para a física quântica, o espaço e o tempo são relativos, ou melhor, não obedecem às mesmas ordens dessa realidade objetiva em que vivemos. Assim, a descontinuidade e a ilógica ganham um espaço antes ocupado pela causalidade e pela previsibilidade", enfatiza Bagatella. O psicanalista concorda. "Foi-se percebendo que existem padrões significativos de tendências que fogem da ideia do por acaso."
Não deixe as oportunidades passarem
O objetivo das sincronicidades é nos fazer olhar para dentro de nós. "Jung nos ensina que o self - ou totalidade psíquica - tem o interesse de fazer com que o ego se volte para a psique, para a alma. O problema é que o ego nega a alma. Porque quando a reconhece, ele é obrigado a admitir sua finitude", analisa Magaldi. Ele acrescenta que ao negar a alma, o ego se concentra nos acontecimentos externos. O resultado desse distanciamento de si mesmo é uma vida de angústias e sofrimentos.
Por isso, o self tenta criar caminhos com objetivo de fazer o ego se voltar para a alma. Esses caminhos podem ser produções criativas, sonhos e sincronicidades. "Quando a pessoa não presta atenção a esses sinais pode perder oportunidades que vêm para o processo evolutivo dela. A sincronicidade vem, o insight vem e ela não faz nada com aquilo", alerta Magaldi.
Todos nós podemos viver sincronicidades. Mas, para isso, não devemos andar distraídos. "É preciso estar de 'olhos bem abertos' pra não deixar o símbolo escapar. Qualquer um pode viver um episódio sincrônico, mas há que se estar disponível e atento para receber as 'cenas' e entender a relação entre elas", ensina Bagatella. Quando nos abrimos para perceber e interpretar esses sinais, aumentam as chances de vivermos sincronicidades.
Além de solucionar problemas e trazer respostas, as sincronicidades tornam a vida mais interessante e cheia de significados profundos. "O grande barato disso é deixarmos de ser tão literais. A hora que passamos a ter um olhar simbólico, metafórico e, consequentemente, ético para a vida, a gente começa a ver coisas que normalmente não veria no cotidiano". O primeiro passo para isso é acreditar que elas existem.
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