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Por que atletas bem preparados morrem de mal súbito durante competições?

Surfista Leo Neves morreu antes de chegar a um hospital, no distrito de Bacaxá - Reprodução/Origem Surf/Filipe Burjato
Surfista Leo Neves morreu antes de chegar a um hospital, no distrito de Bacaxá Imagem: Reprodução/Origem Surf/Filipe Burjato

Gabriela Ingrid

Do VivaBem, em São Paulo

26/11/2019 16h12

Resumo da notícia

  • O risco de um mal súbito durante uma prova na água é maior do que na terra, porque é mais difícil alguém ver e resgatar
  • Exames para identificar problemas cardiovasculares têm 95% de chance de acerto, por isso devem ser feitos com regularidade
  • Doenças não valorizadas e não diagnosticadas, o uso de drogas para melhora de performance ou o esforço físico exagerado são fatores de risco

Dois atletas morreram após sofrerem um mal súbito no mar, no domingo (24). Um era Leo Neves, 40, surfista e bicampeão brasileiro, enquanto disputava uma prova na praia de Itaúna, em Saquerema, no Rio de Janeiro. O outro era Paulo Pereira, 42, triatleta e empresário pernambucano, que passou mal logo após entrar na primeira fase de um Ironman, a natação, que estava sendo realizada nas Ilhas Cozumel, em Cancún, no México.

Ambos eram atletas bem preparados e já haviam realizado diversas provas semelhantes anteriormente. Mas porque um mal súbito (parada cardíaca que pode ter diferentes causas) agora?

Duas coisas em comum chamam a atenção no caso dos atletas: eles tinham mais de 40 anos e os dois estavam no mar. Segundo Nabil Ghorayeb, cardiologista e médico do esporte do HCor, o risco de morte relacionado a infarto ou angina (dor no peito causada pela diminuição do fluxo de sangue no coração) em pessoas acima dos 35 ou 40 anos é muito alto.

Soma-se a isso a atividade na água, que também é perigosa. "O risco de um atleta morrer de um mal súbito na água é maior do que se o mesmo problema acontecesse na terra, porque no mar não temos condição de ver. Se ele se afoga, se afunda, quem vai ver? Ainda mais em uma prova, com centenas de atletas nadando junto".

Para se ter ideia do problema, um estudo feito com mais de nove milhões de participantes de triatlo em três décadas (1985 a 2016), mostrou que 135 pessoas morreram repentinamente ou tiveram uma parada cardíaca, sendo 107 delas mortes súbitas. No geral, 90 mortes e paradas cardíacas ocorreram durante a natação, ou seja, mais de 66% das mortes ocorreram na água. Além disso, as vítimas tinham 47 anos em média e 85% eram do sexo masculino.

Ainda sobe o estudo, os dados da autópsia mostraram que doenças cardiovasculares clinicamente silenciosas estavam presentes em uma proporção inesperada de falecidos, sugerindo a necessidade de os participantes conhecerem seu risco antes da prova.

Ghorayeb diz que, para um atleta de esporte coletivo, é sugerida uma avaliação médica anual, no início do ano esportivo, e outra após qualquer doença que ele tenha tido durante o ano, seja gripe ou até mesmo uma desidratação. Já nos esportes individuais e de alta intensidade, como triatlo, natação em mar aberto ou maratona, é indicado que avaliação seja feita, no mínimo, a cada seis meses.

"Não adianta achar que só porque não sente nada, não precisa fazer exame. O atleta tem que fazer, principalmente exame do que mata, que é o coração", diz o cardiologista. Ele ainda alerta para a avaliação periódica com o especialista, um cardiologista do esporte que entenda as alterações que possam aparecer. "O coração muda de tamanho e forma em atletas, então o exame vem diferente". Alguém que não entenda dessas alterações pode confundir com doença ou até escondê-la.

Outro problema em questão é que, em casos como o dos atletas, cria-se um estigma de que o exercício pode fazer mal, o que não é verdade. O esporte não mata, e sim as doenças não valorizadas e não diagnosticadas, o uso de drogas para melhora de performance ou o esforço exagerado, superar limites sem estar preparado. "Esporte competitivo é diferente de andar na esteira todo dia na sua casa. Mas em todo caso é preciso realizar o exame. Claro, ele pode falhar. Nunca vai prever 100%, mas garanto que 95% ele consegue ver", diz Ghorayeb.

Entretanto, mortes de atletas bem preparados vai além do cuidado pessoal. Segundo o médico, os organizadores também deveriam colocar mais "olheiros" nas provas aquáticas. "Geralmente são quatro pessoas olhando o mar. Tem que por mais gente olhando, mais observadores, para agir rapidamente quando qualquer pessoa sofrer um mal súbito na água".

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