Doar sangue pode salvar até 4 vidas: veja mitos e verdades sobre o ato
Embora o Brasil tenha 3,3 milhões de doadores voluntários de sangue, que representa 1,6% da população apta para este ato, e consiga atender a meta da OMS (Organização Mundial de Saúde) que estipula que entre 1% e 3% da população doe sangue, no período de férias e festividades de fim de ano, os hemocentros de todo o país sofrem com uma brusca queda dos seus estoques.
Em são Paulo, a Fundação Pró-Sangue, por exemplo, tem uma redução histórica de 30% no volume de doações entre a segunda quinzena de dezembro e o Carnaval. No Rio de Janeiro, o Hemorio, que abastece todos os hospitais do estado, sofre com uma baixa de 20% do estoque no mesmo período.
Além dos períodos de férias e feriados, medo de agulha e de ver sangue, além do desconhecimento sobre as regras para a doação e locais para a coleta são alguns dos fatores que afastam a população dos postos de doação.
Ainda há muitos mitos sobre a doar de sangue, entre eles seu engrossamento ou afinamento. "A doação de sangue é um ato de amor. Mas é importante estar atento aos requisitos para que o doador não perca a viagem e se frustre. Os pontos de atenção vão desde local e hora para doação até doenças ou situações impeditivas", explica Araci Massami Sakashita, coordenadora médica do Banco de Sangue Hospital Israelita Albert Einstein.
O hospital paulistano também sofre com a ausência de doadores nesta época do ano. "Apesar de as doações caírem neste período, o número de pessoas que precisam de ajuda se mantém e até aumenta. Além do entendimento das regras e esclarecimento dos mitos sobre o assunto, a consciência de que o ato de doar pode salvar até quatro vidas é importante", afirma a médica.
Mitos
- Doar sangue engorda ou emagrece: a A doação não altera a massa corporal doador;
- A doação afina ou engrossa o sangue: ele continua com a mesma consistência. O que acontece é que o organismo leva um tempo para recuperar os componentes sanguíneos. A reposição do volume retirado ocorre em cerca de 24 horas. Já a reposição dos glóbulos vermelhos e do nível de ferro leva no mínimo 8 semanas.
- É preciso estar de jejum para fazer doação de sangue: a doação não deve ser feita em jejum. A recomendação é fazer uma refeição leve nas três horas que antecedem a doação.
- Não é recomendado fazer a doação quando se está menstruada: A menstruação não é um impeditivo e não atrapalha a doação. O que determina a possibilidade de doação é o teste de anemia feito em todos os doadores na triagem.
- Idosos não podem doar sangue: para doar é preciso ter entre 16 e 69 anos. No entanto, pessoas que não atingiram a maioridade civil (18 anos) precisam apresentar um termo de autorização assinado pelo responsável legal e apresentar documentos originais do doador e/ou cópia legal do responsável que assinou a autorização. A idade limite para a primeira doação de sangue é 60 anos.
Verdades
- O sangue tem prazo de validade: cada componente do sangue tem uma validade diferente. A do plasma, por exemplo, é de 12 a 24 meses. As hemácias duram de 28 a 42 dias. Já o concentrado de plaquetas tem um prazo de uso bem curto: 5 dias. Por isso é importante que as doações ocorram em todos os períodos do ano.
- Pessoas com menos de 50 quilos não podem doar sangue: o volume de sangue coletado por doação varia de 400 a 450ml. A recomendação atual é que não seja ultrapassado o limite de 9 ml por quilo nos homens e 8 ml por quilo nas mulheres. A doação de sangue não deve prejudicar o bem-estar do doador, e, portanto, uma pessoa com peso inferior a 50 quilos não deve doar.
- Grávidas não podem doar sangue: a doação de sangue não é recomendada durante a gestação por ser um período em que o organismo está concentrado no desenvolvimento do bebê. Além disso, a doação pode ser um fator adicional para diminuir os estoques de ferro.
- A doação dá direito a folga no trabalho: o trabalhador tem direito a 1 folga por ano, independentemente do número de doações realizadas neste período. O direito é garantido pelo artigo 473 da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) e exige comprovação da doação.
- Diabéticos podem doar sangue: a doação é permitida se a doença estiver controlada com alimentação e/ou hipoglicemiantes orais, desde que você não tenha alterações vasculares. A doação de sangue só não é recomendada se você usa insulina.
- Pessoas com tatuagem e piercing podem doar sangue: A doação não é recomendada se você tiver piercing na cavidade oral ou em região genital. A doação pode ser feita 12 meses após a remoção do piercing destas regiões. A doação de sangue pode ser realizada 6 ou 12 meses após a realização de tatuagem ou maquiagem definitiva.
Para doar
A doação pode ser feita em qualquer posto destinado à coleta. Para isso, é preciso estar em boas condições de saúde, ter entre 16 e 69 anos (menores de 18 anos devem estar acompanhado dos pais, preencher formulário de autorização e levar documentos solicitados) e levar documento original com foto. Também é preciso estar alimentado e descansado.
Algumas condições ou situações impedem a doação de sangue de forma temporária ou definitiva. Exemplos de impeditivos temporários são infecção bacteriana, gripe, anemia, viagens para regiões de risco para infecções que podem ser transmitidas pelo sangue (malária, dengue, vírus do Nilo Ocidental, vírus Zika etc.), uso de alguns medicamentos, vacina recente etc. Outras condições são impeditivas definitivos para doação de sangue, tais como:
- Ser portador do vírus HIV;
- Ter tido hepatite após os 11 anos de idade;
- Ter tido malária por P malariae (febre quartã);
- Ser portador de doença de Chagas;
- Ter tido algum tipo de câncer;
- Ter recebido enxerto de dura-máter;
- Ter problemas graves de pulmão, coração, rins ou fígado;
- Ter problema de coagulação de sangue;
- Ser diabético com complicações vasculares ou usar insulina;
- Ter tido hanseníase;
- Ter tido tuberculose extrapulmonar;
- Ter tido elefantíase;
- Ter tido leishmaniose visceral (calazar);
- Ter tido esquistossomose hepatoesplênica;
- Ter tido brucelose;
- Ter sido submetido a transplante de órgãos ou medula;
- Ter alguma doença que gere inimputabilidade jurídica.
O questionário é extenso e, durante a entrevista clínica, podem ser identificadas situações/condições não citadas neste texto que levam a inaptidão temporária ou definitiva do candidato à doação de sangue.
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