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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Empatia é mais difícil com quem não se parece conosco: veja como exercitar

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Imagem: Unsplash

Simone Cunha

Colaboração para o VivaBem

09/12/2019 04h00

Resumo da notícia

  • A empatia ainda é seletiva porque é mais fácil aceitar a dor do outro quando há identificação
  • O comportamento seletivo em relação à empatia pode ser fruto do preconceito arraigado nas culturas
  • Todos nós nascemos com tendência a sermos empáticos e isso pode ser potencializado com alguns hábitos e exercícios

Dezembro é uma época propícia para sentir empatia, momento em que muita gente lembra do sofrimento do outro e, movido pelo espírito natalino, decide ser solidário. No entanto, a empatia não deve ser colocada em prática apenas em datas festivas, mas é um processo que pode ser adquirido, desenvolvido e melhorado a cada dia. "O primeiro passo é lidar melhor com os nossos sentimentos para depois aprender a lidar com o do outro", diz Fabricio Guimarães, psicólogo e membro do Núcleo de Gênero e Psicologia Clínica e Cultura do IP da UnB (Instituto de Psicologia da Universidade de Brasilia).

Para o especialista, a empatia ainda é bastante seletiva porque é mais fácil aceitar a dor do outro quando ocorre alguma identificação. "É como se estivéssemos aceitando a nós mesmos, por isso é mais fácil ter empatia por aqueles com o qual nos identificamos", comenta. Aliás, já existe uma linha na psicologia que critica a relação que temos com a empatia, justamente por ainda ser tão seletiva. "Também é importante não confundir ser empático com autopromoção, pois existe um modismo em torno disso", critica Guimarães.

Para entender melhor

Empatia é a capacidade de compartilhar e entender as emoções dos outros. "Alguns autores dividem a empatia em afetiva e cognitiva", explica a psicóloga Graça Maria Ramos de Oliveira, supervisora do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia do IPq (Instituto de Psiquiatria), do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

A afetiva refere-se às pessoas que sentem imensamente a dor do outro como se fosse sua; e a cognitiva seria a capacidade de entender as emoções dos outros, como profissionais que têm a capacidade de entender as emoções do outro de forma racional, mas sem envolver-se de maneira visceral.

Para Guimarães, a empatia é a capacidade de enxergar a situação de acordo com a perspectiva do outro e não é apenas imaginando o que ele está sentindo. No entanto, o psicólogo alerta que é fundamental ter equilíbrio, ou seja, colocar-se no lugar do outro e conseguir voltar para o seu próprio eu. "A empatia só é saudável quando preserva a capacidade de distinguir o que é meu e o que é o do outro", afirma. Caso contrário, pode se tornar um estresse por empatia, em que a pessoa acaba tendo um desgaste físico e emocional por lidar com a dor do outro. E até em uma fase seguinte entrar em uma situação de fadiga provocada pela exaustação e traumatização em decorrência do sofrimento alheio.

A raiz da questão

De acordo com Marilia Gonçalves, psicóloga e professora adjunta no Departamento de Psicologia da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), o comportamento seletivo em relação à empatia pode ser fruto do preconceito ultra arraigado nas culturas e do medo daquilo que é diferente de si mesmo. "O respeito advindo da capacidade empática, em meio a uma sociedade competitiva, em que o importante é superar o outro, é um exercício psicológico de máxima dificuldade dado que há que se enfrentar com os preceitos e normas da sociedade baseados em valores que nos proporcionam reconhecimento e pertencimento social", detalha.

Por isso, sentir empatia ainda é um desafio. Na teoria, soa fácil e tranquilo, porém, na prática, nos faz entrar em alguns conflitos pessoais. "Fortes sentimentos de empatia pelos membros de nossa própria família ou de nosso próprio grupo social podem levar a ódio ou à agressão contra aqueles que consideramos uma ameaça", alerta Oliveira. Por isso, este é um processo que merece ser treinado, afinal a empatia permite que as pessoas construam conexões sociais com os outros. E ao entender o que as pessoas estão pensando e sentindo, somos capazes de responder adequadamente em situações sociais.

Além disso, Oliveira destaca que Helen Riess, professora adjunta de psiquiatria na Faculdade de Medicina de Harvard, tem dedicado suas pesquisas e estudos sobre empatia e enfatiza a importância de os pais ensinarem seus filhos a terem comportamentos mais empáticos. "Para ela todos nós nascemos com tendência a sermos empáticos e isso pode ser potencializado e ensinado no ambiente".

7 dicas práticas para treinar a empatia

Não existe uma receita efetiva para se tornar uma pessoa mais empática, mas os especialistas indicam algumas ações que podem ajudar a treinar a empatia, inclusive, tornando-a menos seletiva. Confira algumas dessas dicas:

  • Exercite o autoconhecimento, esse é um ótimo treinamento para o desenvolvimento da empatia
  • Procure viver experiências que sejam desafiadoras e que façam fazer coisas diferentes da rotina: uma nova habilidade, um hobby ou um novo idioma. Se confrontar com algo desconhecido estimula a humildade, característica essencial na empatia.
  • Viaje mais, especialmente para novos lugares e culturas, pois oferece melhor apreciação pelos outros.
  • Seja receptivo ao feedback sobre a forma que está se relacionando, dá para pedir isso para pessoas próximas como familiares e amigos, mantendo-se aberto para possíveis críticas.
  • Converse com outras pessoas sobre problemas e preocupações, observando e tentando se imaginar vivendo as situações que elas vivem.
  • Considere que muitos dos nossos preconceitos são ocultos e interferem em nossa capacidade de ouvir e ter empatia. Geralmente, eles se concentram em fatores visíveis como idade, raça e sexo. Considere isso e reavalie sobre seus próprios preconceitos para aprender a lidar com eles, e até superá-los.
  • Seja curioso, sempre é possível aprender coisas novas, mesmo que seja com um colega jovem que você considera pouco experiente, por exemplo. Pessoas curiosas fazem perguntas, levando-as a desenvolver uma compreensão das pessoas ao seu redor.

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