"Sentia meu corpo parando", conta apóstolo que teve Guillain-Barré
"Durante a primeira noite na UTI, sentia meu corpo parando. A sensação é bastante desagradável". Há dez anos, Paulo de Faria Filho, 60, apóstolo de uma igreja evangélica em São Paulo, acordou em uma segunda-feira e começou a sentir franqueza muscular. Horas depois, estava internado e foi diagnosticado com a Síndrome de Guillain-Barré.
"Senti alguns sintomas de fraqueza muscular na perna e percebi que estavam se agravando. Em questão de horas, já não estava conseguindo me equilibrar".
Na época, com 50 anos, Faria Filho passou 30 dias internado, sendo os 15 primeiros na UTI. O quadro clínico que o atingiu era agudo e, por isso, a doença avançou muito rápido pelo seu corpo.
Quando começou a perceber a debilidade física, foi para o hospital, onde acabou sendo internado e iniciando um tratamento imediatamente. "Minha perna direita foi o primeiro membro a começar a enfraquecer, mas só percebi quando começou a afetar a esquerda. Fui direto para o hospital porque notei que havia algo errado".
Depois de um mês de tratamento, sendo os últimos 15 dias em observação no quarto, voltou para casa, pois a doença já havia sido combatida. A recuperação foi gradativa.
"Quando cheguei em casa, precisei usar um Lift —equipamento que auxilia nos movimentos— para realizar todas as atividades. Minha esposa que conduzia tudo, eu não tinha movimentos", explica.
Depois de um curto tempo, Faria Filho começou a fisioterapia de reabilitação e, após três meses, foi para a cadeira de rodas. Colocou o pé no chão novamente depois de sete meses do diagnóstico, quando começou a usar o andador.
"Basicamente, foi quase um ano entre o início da doença e os primeiros passos, de forma ainda muito precária", comenta. Dois anos e meio depois daquela segunda-feira, o apóstolo estava andando normalmente.
O que é a Síndrome de Guillain-Barré
Conhecida por ser uma doença centrípeta, que começa de baixo para cima, a Guillain-Barré "é uma fraqueza motora progressiva relativamente rápida que pode se instalar em horas ou poucos dias. É causada por um ataque autoimune", destaca Daniel Ciamp de Andrade, médico neurologista do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
O paciente com Guillain-Barré pode ter sequelas ou não, segundo Andrade. "O nervo pode ficar tão machucado que não volta completamente a funcionar depois, fazendo com o que paciente fique na cadeira de rodas para sempre".
Extremamente rara —a incidência anual é de 1-4 casos por 100 mil habitantes— a Guillain-Barré ficou conhecida no Brasil em 2015 depois do surto de zika vírus. Isso porque, segundo Antônio Cezar Galvão, neurologista do Hospital 9 de Julho, também em São Paulo, "a doença é desencadeada por uma infecção de vírus ou bactéria, que lesiona a bainha de mielina dos nervos periféricos, geralmente produzidos por muitos anticorpos que destroem essa bainha, ocasionando problemas como paralisia dos membros".
Tratamento
Muitas vezes não se acha uma explicação do que a causou, mas a doença tem vários mecanismos de desencadeamento por ser causada por um ataque autoimune. Atingindo desde crianças até idosos, de uma hora para outra, a Síndrome de Guillain-Barré nem sempre é tão agressiva. Há pacientes que possuem sintomas tão leves que nem precisam de tratamento, pois a doença se erradica sozinha.
Segundo Galvão, há dois tipos de tratamentos típicos: reposição de anticorpos que não são do paciente, aplicando imunoglobulina humana intravenosa ou a filtração do sangue do paciente, retirando os anticorpos produzidos contra a bainha de mielina.
Geralmente o paciente volta andar após dois meses, mas o tempo é relativo porque, com a Guillain-Barré, cada caso é um caso. Há também pessoas que desenvolvem paralisia ocular e até respiratória, levando ao risco de vida.
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