Lordose é curva natural da região lombar; saiba quando pode ser um problema
Resumo da notícia
- Lordose é uma curvatura natural com projeção para trás visível na região lombar
- Essa curva só é considerada patológica quando é exagerada. Trata-se da hiperlordose
- O formato da região lombar também pode ser mais reto. Nesse caso, ela é chamada de hipolordose
- As causas vão desde sequelas de traumas, degeneração da coluna e até defeitos estruturais
- Medicamentos e exercícios são os maiores aliados no tratamento, e os casos cirúrgicos, raros
A partir do momento em que você assumiu a postura em pé, iniciou-se também a formação das curvaturas da sua coluna. Ao olhar uma pessoa de lado, notam-se três ondulações que são consideradas normais: duas delas são lordoses —projeções para trás— localizadas nas regiões do pescoço (lordose cervical) e da lombar (lordose lombar). A terceira curva é voltada para frente e é visível na região torácica (cifose torácica).
Graças a esse desenho anatômico, a sua cabeça se mantém alinhada ao quadril, ao joelho e ao tornozelo, garantindo-lhe equilíbrio, além de movimentos como caminhar e mexer os braços. Além disso, tais curvaturas têm a função de absorver impactos sem maiores problemas.
Em algumas situações, a lordose lombar poderá ser mais pronunciada apenas para compensar o aumento de peso ou o crescimento da barriga durante a gravidez, por exemplo. Essas alterações, igualmente, não são consideradas patológicas.
Mas pode ocorrer de a lordose ser mesmo mais projetada, quase exagerada. Esses quadros são definidos pelos médicos como hiperlordose. O contrário também pode acontecer. Nessas situações, o que se vê é uma lombar mais reta, o que é chamado de hipolordose. Mais frequente entre os idosos, pode levar a um problema conhecido como desequilíbrio sagital.
"Esta deformidade está associada à redução da qualidade de vida e, de tal forma, que é comparável a enfermidades graves cardíacas e pulmonares", informa Fernando Herrero, docente da divisão de cirurgia de coluna do Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor da FMRP-USP.
Por que isso acontece?
A hiperlordose pode afetar igualmente homens e mulheres em todas as faixas etárias, mas é mais comum entre os negros. Para os médicos, a queixa não é considerada preocupante e, em geral, incomoda mais as pessoas por uma questão meramente estética.
A curvatura da coluna deve obedecer a padrões mundialmente aceitos que consideram raça e faixa etária. Assim, quando a lordose lombar ultrapassar os limites de 40 a 60 graus, a causa precisa ser investigada. O mesmo ocorre na hipolordose, quando essas medidas estarão abaixo desses parâmetros.
As causas mais comuns da hiperlordose e da hipolordose são:
- Sequelas de traumas (acidentes);
- Envelhecimento natural da coluna;
- Complicações pós-cirúrgicas;
- Estenose (estreitamento) do canal lombar, que leva à compressão dos nervos que passam dentro da coluna;
- Espondilólise (fratura de uma região das vértebras);
- Espondilolistese (escorregamento ou deslizamento de uma vértebra sobre a outra. Pode ocorrer também devido a processos degenerativos --entre os idosos).
Aprenda a reconhecer os sinais e sintomas
Além da curvatura projetada para trás ou para dentro na região lombar, é comum a queixa de dor na região.
"Em casos mais avançados de espondilolistese, as vértebras escorregam tanto que começam a aparecer sintomas neurológicos. Há formigamento nos membros inferiores, diminuição de força", esclarece Eduardo Murilo Novak, presidente da SBOT-PR (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia da Regional do Paraná), e professor dos cursos de Medicina da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).
Pessoas acometidas por estenose do canal lombar, além da dor nas pernas, também observarão:
- Sensação de formigamento;
- Sensação de choque;
- Dificuldade para caminhar;
- Alívio com a inclinação do corpo para frente (como o apoiar-se em um carrinho de compras).
Como é feito o diagnóstico?
O médico mais indicado para avaliar sua queixa é um cirurgião de coluna. Na consulta, ele levantará seu histórico e fará o exame físico. A curvatura é facilmente identificada, mas será necessário fazer uma radiografia simples para definir a faixa de normalidade ou não da hiper ou hipolordose.
Nas hipóteses em que a radiografia não explica a origem da dor, a investigação seguirá com o pedido de outro exame de imagem: a ressonância magnética.
Como é feito o tratamento
Quando o problema é meramente estético e não há anormalidade na curvatura, o indicado é observar eventual progressão. Sessões de fisioterapia e atividades físicas também podem ser úteis para alongamento e fortalecimento muscular, especialmente entre as crianças.
Se há queixa de dor, o uso de medicamentos poderá ser uma das opções terapêuticas.
Entre os esportistas, em geral, o conselho médico é a reabilitação. Quando essa estratégia não surte efeito, e se trata de um atleta competitivo com diagnóstico de espondilólise, a cirurgia pode ser uma das saídas. Contudo, tal opção é rara. "Em geral essa prática tem população específica. A cirurgia para redução da lordose é pouco realizada", fala Alberto Gotfryd, ortopedista e cirurgião de coluna, membro do corpo clínico do Hospital Albert Einstein (SP).
Vale a pena investir em fisioterapia?
Sim. A depender da sua profissão e da postura que deve ser adotada na prática das atividades diárias, a dor pode reduzir a qualidade de vida. A boa notícia é que é possível controlá-la por meio do fortalecimento do core —músculos que estabilizam a bacia, a pélvis e o abdome. A explicação é da fisioterapeuta Vivian Diniz, do estúdio de Pilates que leva seu nome em São Paulo.
A especialista explica que para aliviar e prevenir a dor os exercícios mais indicados são a musculação (fortalecimento), o alongamento, o Pilates, além de práticas de liberação da miofáscia (tecido conjuntivo que recobre os músculos).
"Hoje sabemos que a queixa de dor nasce da falta de mobilidade dessa parte [da miofáscia]. E todos esses métodos são capazes de criar maior estabilidade e efetividade", conclui.
Dá para prevenir?
Não. Cada pessoa tem um formato de coluna e, o que pode ser feito é cuidar para que, quando ocorram sintomas como a dor, o tratamento adequado seja realizado, melhorando a qualidade de vida.
Fontes: Alberto Gotfryd, ortopedista e cirurgião de coluna, doutor e pós-doutor em Medicina pela Santa Casa de São Paulo e membro do corpo clínico do Hospital Albert Einstein (SP); Eduardo Murilo Novak, presidente da SBOT-PR (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia da Regional do Paraná) e professor dos cursos de medicina da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Fernando Herrero, docente da divisão de cirurgia de coluna do Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) e cirurgião de coluna do Grupo de Ortopedia do Hospital Sírio Libânes - Unidade de Brasília (DF); Vivian Diniz, fisioterapeuta e professora de Pilates do Estúdio Vivian Diniz (SP). Revisão técnica: Fernando Herrero.
Referências: RizwanArshad, FuminPan, Sandra Reitmaier, HendrikSchmidt. Effect of age and sex on lumbar lordosis and the range of motion. A systematic review and meta-analysis. Journal of Biomechanics. 2019; Noelia González-Gálvez et alli. Effects of exercise programs on kyphosis and lordosis angle: A systematic review and meta-analysis. PLoS One. 2019.
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