Topo

O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Rinite não tratada pode levar ao ronco, apneia, asma e até mau hálito

iStock
Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para o VivaBem

24/12/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Rinite é um processo inflamatório ou infeccioso que acomete a membrana mucosa que reveste o nariz
  • As causas mais comuns são alergias e infecção por vírus
  • Na base do tratamento está a lavagem nasal, que deve ser contínua e diária. Uso de medicamentos e cirurgia são as outras opções disponíveis
  • A prevenção se dá por meio de vacina, cuidados com a higiene da casa, além de abster-se de ambientes empoeirados, aromas fortes, umidade e tabagismo

O nariz é a região das vias respiratórias superiores mais suscetível a infecções. Quando isso acontece, logo vem a congestão nasal e a coriza. Esses sintomas estão na lista das queixas mais comuns nos consultórios médicos, mas além de um simples resfriado, eles também podem sinalizar a presença de outra doença, a rinite.

Definida como um processo inflamatório ou infeccioso da mucosa que reveste o nariz, ela pode ser aguda ou crônica, ou seja, ter curta ou longa duração. As principais causas da enfermidade são as infecções virais e alergias. A do tipo não alérgica tem início frequente após os 20 anos, especialmente entre as mulheres, e acomete cerca de 1/3 da população mundial. Já a rinite alérgica, a estimativa é a de que sua prevalência varie de 9% a 42% dos indivíduos. Os dados foram publicados pelo Journal of Allergy and Clinical Immunology.

Embora os sintomas da rinite possam ser toleráveis e esporádicos, eles podem desencadear inflamações repetidas e persistentes que, sem o devido tratamento, resultam em quadros graves e até levam à hospitalização.

Conheças as várias causas

O problema tem várias origens, que são classificadas da seguinte forma:

  • Rinite infecciosa - é a decorrente da infecção por vírus, bactérias e fungos;
  • Rinite alérgica - normalmente associada a uma reação do sistema imunológico diante de algum fator ambiental: pó, bolor, pólen, pelo ou tecido (epitélio) de animais, ácaro (presente em cobertores, bichos de pelúcia ou roupas felpudas);
  • Rinite vasomotora - manifesta-se em decorrência de mudança brusca de temperatura, uso de anti-hipertensivos e uso persistente de vasoconstritores tópicos;
  • Rinite irritativa - associada à exposição a produtos químicos inalantes, fumaça de cigarro ou cheiros fortes;
  • Rinite gestacional - ocorre graças às mudanças hormonais e embebição gravídica (inchaço/retenção de líquidos) da mucosa nasal durante a gestação;
  • Rinite idiopática - não tem causa identificada;
  • Rinite mista - combina algumas das causas acima descritas.

Apesar de todas essas possibilidades, a rinite alérgica e a infecciosa são as mais comuns.

Saiba reconhecer os sintomas

Os sinais mais frequentes da rinite são nariz entupido (obstrução nasal), secreção, espirros em salvas (repetidos) e coceira nasal —cujo gesto típico é chamado pelos médicos de "saudação alérgica". Mas você também pode observar os seguintes sinais:

  • Obstrução nasal intermitente ou persistente, bilateral ou não, principalmente à noite;
  • Secreção fluída clara, mas pode também ser amarelada e espessa;
  • Dor facial e frontal com sensação de peso;
  • Redução do olfato;
  • Coceira nos olhos, vermelhidão local ou lacrimejamento;
  • Fotofobia;
  • Sangramento nasal, decorrente do trauma da mucosa nasal, especialmente em crianças
  • Sensação de catarro que escorre atrás da garganta;
  • Prurido no ouvido, palato e garganta;
  • Dor de ouvido ou sensação de ouvido tampado e estalido ao deglutir.

Quem precisa ficar mais atento?

Todas as pessoas podem ter rinite, independentemente da faixa etária. Apesar disso, ela é mais comum nos grupos abaixo descritos:

  • Pessoas com alergia respiratória;
  • Pacientes expostos a produtos inalatórios ou irritantes;
  • Tabagistas;
  • Gestantes, dadas as variações hormonais e inchaço comuns durante o período de gestação.

Quando é a hora de procurar ajuda médica?

Os especialistas são unânimes: quando um sintoma se repete e afeta negativamente a qualidade de vida, ele precisa ser investigado por um médico. No caso da rinite, basta que os sintomas durem mais que 5 dias para que os efeitos maléficos comecem a se instalar pelo corpo. O otorrinolaringologista é o especialista treinado para avaliá-lo.

Fabiana Gonçalez D'Ottaviano, especialista em otorrinolaringologia pela ABORL-CCF e responsável pelo Centro Médico 13 de Outubro, em São Paulo, conta que muitos pacientes alérgicos se acostumam com os sintomas da rinite, e deixam de procurar ajuda.

"O problema é que a constância da obstrução nasal pode levar a alterações do crescimento facial em crianças, na postura da língua, na oclusão e deglutição, e até mesmo pode contribuir para a instalação de broncoespasmo (dificuldade para respirar) ou sinusite", informa a médica.

Halitose (mau hálito), ronco e apneia são outras das possíveis consequências da falta de tratamento da rinite.

Como é feito o diagnóstico?

Inicialmente, ele sempre é clínico, isto é, durante a consulta o médico ouvirá sua história pessoal e fará um exame físico. Como a rinite tem um componente genético, o objetivo é identificar um possível caso na família e a eventual associação com outros tipos de alergia.

Quando esse relato não esclarece a possível causa da enfermidade, os especialistas podem solicitar testes alérgicos. Os mais conhecidos são os cutâneos: o Prick Test, teste de puntura ou de hipersensibilidade imediata; teste de contato e RAST (teste radioalergosorvente). Este último detecta no soro (parte sanguínea) do paciente anticorpos IgE específicos para diferentes tipos de alérgenos.

A importância destes é que eles podem revelar qual é o agente de contato habitual da pessoa que pode ser o responsável pela persistência da rinite, especialmente quando os cuidados com o ambiente e os medicamentos não reduziram os sintomas.

Saiba como é feito o tratamento

Independente do tipo de rinite, a lavagem nasal com soro fisiológico é considerada a base do tratamento —isso porque a prática é capaz de remover vírus, bactérias, secreções e agentes desencadeadores de reações alérgicas.

Além disso, os médicos têm à sua disposição medicamentos como antialérgicos sistêmicos, corticoides tópicos ou sistêmicos. Em alguns casos, a imunoterapia poderá ser uma coadjuvante: a estratégia consiste em expor o paciente a pequenas quantidades de alérgenos de forma a induzir sua tolerância.

Nos casos em que o paciente não responde a esses tratamentos e se observa o aumento de carnes esponjosas nasais (cornetos nasais), um exame de imagem (tomografia computadorizada) poderá ajudar o médico a decidir sobre a necessidade de cirurgia.

Entenda a relação entre rinite e asma

Nem todo asmático tem rinite, e nem toda rinite leva à asma. Contudo, Marcio Nakanishi, presidente da ABR (Academia Brasileira de Rinologia) esclarece que as evidências científicas indicam que a proporção de indivíduos com sintomas de rinite, entre os asmáticos, pode chegar a 100%. Por isso, seja a rinite alérgica ou não, ela está associada ao risco para o desenvolvimento de asma.

"Isso se deve à presença de fatores desencadeantes comuns e da semelhança do padrão de inflamação da mucosa nasal e pulmonar. Tais evidências favorecem a teoria de doença única da via aérea, na qual a rinite e a asma são consideradas manifestações de uma mesma doença", completa o médico.

Dicas dos especialistas

Quem tem rinite alérgica precisa entender que essa manifestação tem um componente alérgico que se manifesta sempre que se tem contato com determinado agente. Por isso é tão importante saber o que pode desencadear uma crise para evitar, o máximo possível, esse contato.

A adesão ao tratamento, que pode incluir uma estratégia para melhorar a sua resposta imunológica, além da lavagem nasal, reduz o incômodo dos sintomas, mas tudo isso não muda sua propensão genética. Saber disso igualmente ajuda a ser mais constante nos cuidados diários e médicos. Neste último caso, eles devem ser periódicos.

Dá para prevenir?

Sim, e a melhor prática, especialmente em relação à rinite alérgica, é fazer uso continuado e diário de soro fisiológico para lavagem nasal. Além disso, cuide para ficar longe dos fatores desencadeadores da alergia. Mantenha a higiene da casa, evite ambientes poluídos ou com muito pó, aromas fortes, umidade, bem como o tabagismo.

Já as rinites virais podem ser prevenidas por meio da aderência às vacinações disponibilizadas pela rede pública.

Como fazer uma lavagem nasal eficaz

Entre as orientações médicas, está a advertência de nunca usar gotas nasais do tipo vasoconstritoras.
"Elas só devem ser utilizadas sob orientação médica, porque podem ter efeitos que prejudicam a sua saúde. A medida mais eficaz continua sendo a lavagem nasal", adverte Marco César Jorge dos Santos, otorrinolaringologista e professor da Escola de Medicina da PUC-PR.

Veja como ela deve ser feita:

  • Use sempre soro fisiológico 0,9%;
  • Na falta dele, é possível utilizar solução fisiológica caseira: 1 litro de água fervida ou filtrada acrescida de 2 colheres (chá) de sal e 1 colher (chá) de bicarbonato;
  • Encha uma seringa com capacidade para 20 ml com a solução - preferencialmente morna;
  • Aplique-a nas narinas, uma de cada vez, de forma lenta e contínua.

Fontes: Fabiana Gonçalez D'Ottaviano, especialista em otorrinolaringologia pela ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial), mestre em otorrinolaringologia pela Santa Casa de Misericórida de São Paulo e responsável pelo Centro Médico 13 de Outubro (SP); Marco César Jorge dos Santos, médico otorrinolaringologista e professor da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Marcio Nakanishi, presidente da ABR (Academia Brasileira de Rinologia). Revisão técnica: Fabiana Gonçalez D'Ottaviano.

Referências: 4º Consenso Brasileiro sobre Rinite - atualização em rinite alérgica, Braz. J. Otorhinolaryngol. vol. 84 no.1 São Paulo Jan./Feb. 2018; J. Russell May, William K. Dolen. Management of Allergic Rhinitis: A Review for the Community Pharmacist. Clinical Therapeutics. 2017; Settipane RA, Charnock DR. Epidemiology of rhinitis: allergic and nonallergic. Clin Allergy Immunol. 2007.