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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Por que achamos que o que é bom dura pouco e como lidar melhor com isso

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Imagem: iStock

Diego Garcia

Colaboração para VivaBem

02/01/2020 04h00

Resumo da notícia

  • O tempo é relativo: tendemos a achar que situações boas duram pouco, mas as ruins duram muito, o que nem sempre é verdade
  • Se bons momentos durassem mais tempo, poderiam não ser mais tão bons: por serem breves é que são bons
  • Frustação faz parte, mas viver o momento presente e aceitar que todas as situações passam, podem amenizar a frustração ou angústia

Você já deve ter ouvido e dito que "tudo o que é bom dura pouco" incontáveis vezes na vida. Seja um dia de folga ou um mês de férias, a sensação é a mesma: durou pouco. O psiquiatra Luiz Scocca explica que coisas boas e ruins acontecem o tempo todo com a gente. As ruins quando vão embora dão um alívio, às vezes até uma sensação de alegria. "Então poderíamos dizer que o que é ruim dura muito! E às vezes o fim de uma coisa boa é seguido de um sentimento tão ruim, que mata o que foi bom".

Scocca exemplifica a ideia com a teoria da relatividade, de Albert Einstein: "Quando [Einstein] queria explicar de maneira simples a teoria da relatividade, comparava estar com uma pessoa que você gosta, e o tempo parece curto, a se sentar em um fogareiro, onde o tempo não passa. 'Isso é relatividade', brincava".

Para o psicólogo e professor associado da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Tiago Ravanello, os momentos duram o tempo que devem durar. Ele comenta que Sigmund Freud ilustra isso perfeitamente em seu texto de 1915, "Sobre a Transitoriedade", Nele, em algumas poucas páginas, o psiquiatra vienense nos leva por um passeio em meio às flores de cerejeira, conhecidas justamente por não durarem mais do que três dias no ano, fazendo ecoar a questão: como amar algo tão transitório? Ou ainda: como ver beleza em algo que se destina a um término tão breve? Sua resposta: justamente por sua transitoriedade.

"Quando aceitamos e assimilamos o valor da efemeridade e fugacidade de nossas experiências e de tudo aquilo que nos cerca, aprendemos também a reconhecer que há um valor estético em nossa finitude", explica. Segundo Ravanello, faz parte da beleza das flores de cerejeira que elas nos exijam estar atentos a sua breve presença no mundo, assim como deveríamos saber que a riqueza de nossos melhores momentos tem a ver com fato de que eles não são eternos.

"Isso nos obriga a sermos éticos em relação a nossos afetos. Se há beleza em cada partida, também há encanto nas jornadas que se iniciam, por mais difíceis que sejam os términos e tudo o mais que precisa ser deixado para trás", complementa. Para ele, nesse sentido, ser responsável com nossa própria finitude implica em fazer de cada fim, também um princípio. Scocca concorda: "Freud argumentava que a pessoa imatura vive pelo princípio do prazer e isso não é bom. Ela estará sempre angustiada, ansiosa porque não conseguirá escapar do mal-estar de que tudo acaba, inclusive a própria vida".

Independentemente do que você acredite, essa vida acabará e esse é o maior limite de todos, a maior frustração de todas. Então temos que fazer algo nessas extremidades da vida. Que seja o melhor possível, inclusive suportar todos os fins que enfrentamos nos preparando para os próximos começos, e nos alegremos por todas as possibilidades que virão. O fim é uma possibilidade de um novo começo.

Como lidar com a frustração e angústia do fim

Ravanello afirma que lidar com o tempo é, certamente, uma das artes mais difíceis e importantes da experiência humana. Não podemos negar que as felicidades são momentâneas, caso contrário corremos o risco de não sabermos vivê-las em seu devido tempo. "É o caso de experiências de luto, em que a falta de uma despedida ou mesmo do reconhecimento da felicidade enquanto vivida naquele recorte temporal acabam se tornando sofrimentos de longo prazo", exemplifica.

Scocca diz que a frustração faz parte da vida e tem seu lado bom, como aprender a cair e a se levantar e criar anticorpos, por exemplo. Além disso, tudo passa. "A criança precisa de sua mãe, o idoso fragilizado de seus cuidadores, para ambos, esse momento passará. Não podemos esquecer que além das limitações sociais, físicas ou psíquicas, há uma dor de alma que precisa ser tratada", pondera. O psiquiatra complementa que isso traz a resiliência, e essa palavra resume o que devemos buscar, especialmente em um momento tão imediatista e no qual há tão baixa tolerância à frustração.

Por outro lado, de acordo com Ravanello, também não é recomendável antecipar incessantemente a expectativa do término com forma de se proteger, como ocorre em situações nas quais o sujeito tem dificuldades de viver a beleza de um determinado momento já imaginando que ele não irá durar para sempre, tal como acontece nas experiências de ansiedade nos finais de semana como forma de viver antecipadamente os desafios da semana que virá.

Para o psicólogo, não se trata de eliminar a frustração perante os términos, mas fazer deles uma parte constituinte de nossas vidas, pois, somos feitos de interrupções e reinícios e tudo tem seu tempo. "A grande questão não é como eliminar as frustrações, mas como estarmos à altura de nosso próprio tempo, ou seja, como comparecer enquanto seres desejantes abertos aos riscos da vida presente", pontua.

A importância de viver o agora

Como compreender que tudo tem o tempo certo e aproveitar melhor os momentos é uma forma de viver melhor e não se impactar negativamente quando os bons acontecimentos terminarem. Scocca diz que é necessário mudar a maneira de enxergar as situações e dá algumas dicas:

  • Tome decisões;
  • Evite ficar ruminando coisas ruins;
  • Prefira e fortaleça a visão positiva de si mesmo - você conseguiu superar;
  • Não conseguiu ainda? Desenvolva a esperança, olhe além do problema atual, não há mal - ou bem - que sempre dure;
  • Cuide-se: pratique, meditação, atividade física, durma bem, alimente-se bem. E nunca desista de empoderar-se dessas habilidades.

Scocca sugere ainda fazer o seguinte exercício: imagine a coisa que você ama e, sem medo, que ela logo acabará. O momento é o agora. Siga até ela e esteja totalmente presente. Evite brigar, desligue a TV, ponha o celular longe de você ou desligue, olhe nos olhos da pessoa e acredite: este momento será único. "Muito longe de deixá-lo triste, faça um exercício de aceitação. Perdoe a vida por ser assim. Não controlamos os eventos externos com muita facilidade, mas a visão que temos deles e o que fazemos deles em nossos corações temos mais condições de conseguir. Não desista disso: se ficar feliz, aproveite ao máximo e se ficar infeliz cresça com isso", finaliza.

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Local do espaço na praia: canto direito da praia de Riviera de São Lourenço
Entrada: Gratuita