Óleo de coco aumenta colesterol "ruim" e é pior que outros óleos vegetais
Resumo da notícia
- Nova revisão de 16 estudos revelou que o óleo de coco aumenta significativamente o colesterol LDL e o HDL
- Especialistas concordam que o alimento não deve ser tratado como milagroso para emagrecimento e nem ser usado em excesso
- Mas ele não precisa ser banido da dieta. As gorduras (menos as trans) fazem bem ao organismo, desde que consumidas com equilíbrio
Uma meta-análise feita com 16 estudos sobre o óleo de coco mostrou, mais uma vez, que o alimento não faz muito bem à saúde quando consumido em excesso. Publicada no periódico Circulation na segunda-feira (13), a revisão revelou que esse óleo aumentou significativamente o colesterol LDL e o HDL, e não teve efeito sobre triglicerídeos, peso corporal, gordura corporal, marcadores de glicemia e inflamação, em comparação com outros óleos vegetais.
Os resultados preocupam, já que o o LDL leva o colesterol para todas as nossas células e, em excesso, pode se depositar nas paredes das artérias, formando placas que aumentam o risco de infarto e derrame —processo conhecido como aterosclerose. É por isso que o LDL é o vilão da história, o "mau colesterol", e seu nível deve ser mantido baixo.
Entretanto, a relação direta do óleo de coco com eventos cardiovasculares como infarto, insuficiência cardíaca ou derrame não foi testada em um ensaio clínico ainda. Até agora, só foi relatada a relação com o colesterol.
Vilão ou "mocinho"?
Os malefícios do óleo de coco são citados em estudos há pelo menos 35 anos. Em 1985, por exemplo, uma pesquisa mostrou que o consumo desse óleo aumentou mais os níveis de colesterol dos participantes do que um bife de carne vermelha.
Mais recentemente, um estudo publicado em 2017 pela American Heart Association (Associação Cardíaca Americana), revelou que o óleo tem o mesmo efeito na saúde que gordura animal e manteiga. A substância, que contém ácidos como o mirístico e o ácido láurico, é composta de gordura saturada e por isso pode aumentar o colesterol "ruim", segundo os pesquisadores.
O relatório mostra que 82% da gordura do óleo de coco é saturada. O percentual é maior do que o da manteiga (63%), da gordura bovina (50%) e da banha de porco (39%). A conclusão? A associação diz que não há evidências confiáveis de que o óleo de coco seja saudável.
Mas isso não quer dizer que ele é um vilão da sua dieta, segundo Ana Luisa Vilela, médica nutróloga da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo e Hospital das Clínicas. "O coco é muito saudável, mas tudo em excesso é ruim. Sim, ele não deixa de ser um óleo, mas isso não significa que ele é 'mocinho' ou vilão", diz.
A médica afirma que há um mito dos "superalimentos". "Um alimento só não faz milagres, e sim uma dieta equilibrada, exercícios físicos e peso adequado. Não é tomando cápsula de óleo de coco todo dia ou fritando tudo no óleo de coco que você vai ser saudável ou emagrecer".
A Abran (Associação Brasileira de Nutrologia) divulgou em março de 2017 um posicionamento oficial desmistificando o uso do produto. De acordo com os especialistas, o óleo de coco aumenta o colesterol e há um número muito pequeno de estudos que mostrem seus efeitos no peso corporal em seres humanos.
A associação completa seu posicionamento afirmando que não há estudos clínicos que comprovem a fama que o óleo de coco tem de ser antibacteriano, antifúngico e antiviral. Também não existem provas de que seu efeito ajude portadores de alterações cognitivas, como a Doença de Alzheimer.
Em 2015, a Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e a Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica) divulgaram que "não há qualquer evidência nem mecanismo fisiológico de que leve à perda de peso" e que se posicionam "frontalmente contra a utilização terapêutica do óleo com a finalidade de emagrecimento".
Todos os óleos devem ser usados com parcimônia. Segundo Vilela, cerca de 5 a 20% da dieta deve ser gordura, que estão implícitas em diversos alimentos, como o salmão, o azeite e o próprio óleo de coco. O erro é adicionar gordura à comida. "Uma salada saudável passa a ser calórica com muito azeite em cima. Mas usando só o essencial, funciona. Os óleos são importantes, toda nossa base hormonal é feita em cima da gordura, do colesterol".
O problema de banir a gordura
A única gordura ruim mesmo é a trans. Ela é popular entre fabricantes de alimentos fritos, assados e salgadinhos porque têm um prazo de validade longo, mas são ruins para os consumidores, aumentando o risco de doenças cardíacas em 21% e as mortes em 28%, como informou um comunicado da OMS de 2018.
De resto, está liberado (com moderação). Isso porque a falta de gorduras interfere principalmente nos hormônios sexuais. O déficit hormonal causa cansaço, indisposição e falta de energia.
Além do desequilíbrio dos hormônios, dietas com baixo teor de gorduras podem causar deficiência de vitaminas, já que alguns tipos de nutrientes necessitam da gordura para serem absorvidos pelo corpo. As principais são as vitaminas A, D, E e K, responsáveis pela proteção celular, manutenção do sistema imunológico, coagulação do sangue e construção óssea.
Por fim, ao restringir totalmente o consumo de gorduras, a dieta se torna monótona e, para compensar, é comum aumentar o consumo de carboidrato. Pães, biscoitos e outros derivados da farinha branca viram rapidamente açúcar no sangue, que acaba estocado em forma de gordura no corpo. Ou seja, não adianta nada.
Em uma entrevista ao VivaBem, a escritora Nina Teicholz, autora do livro "Gordura sem medo", de 2017, disse que o importante é manter um equilíbrio saudável de macronutrientes. "O benefício não é em consumir mais gordura, mas na proporção de gordura versus carboidratos", diz.
A dieta ideal é feita com proteínas de alto valor biológico, as gorduras boas, os carboidratos complexos e, claro, alta quantidade de vegetais.
O óleo de coco pode, sim, entrar nessa lista, mas não com exagero, ou pior, como algo milagroso.
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