Risco de câncer provocado pela ranitidina é pequeno, diz especialista
Após a Anvisa identificar a contaminação de lotes de ranitidina oriundos de laboratório da Índia em setembro de 2019, laboratórios brasileiros recolheram lotes do remédio que é usado para tratar doenças do aparelho digestivo, como azia, gastrites, úlceras e refluxo. No princípio ativo cloridrato de ranitidina foi encontrada a substância nitrosamina acima dos níveis tolerados pela agência.
A nitrosamina é classificada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como sendo possível causadora de câncer em humanos, por isso a medida preventiva de retirar dos lotes em circulação com níveis acima do permitido.
No entanto, o risco para a saúde é considerado pequeno. "A medicação existe no mercado brasileiro e mundial desde 1985 e, desde então, não houve aumento de incidência de câncer de estômago. Além disso, o uso da ranitidina de forma crônica e por longo período perde seu efeito, então poucas pessoas devem fazer uso por muito tempo justamente porque ela perde o efeito", afirma Tomás Navarro, chefe do Grupo de Esôfago e do Laboratório de Investigação de Motilidade Digestiva do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) em entrevista ao Jornal da USP no Ar (ouça a entrevista na íntegra aqui).
Embora bastante conhecida por reduzir a acidez do estômago, a ranitidina não é considerada o medicamento mais eficaz para essa tarefa.
De acordo com o especialista, a relação entre nitrosamina e câncer de fato existe; porém, o consumo da substância é aceita em dosagens pequenas. Ele cita como exemplo o fato de que algumas substâncias usadas para preservar alimentos podem se transformar em nitrosamina, e isso é aceito em todo o mundo.
No caso do lote da ranitidina, porém, as dosagens estavam um pouco acima do permitido. Não se sabe ainda se o problema está em um lote específico ou se a contaminação já existia. A retirada, de acordo com o médico, foi feita de forma preventiva.
As pessoas que utilizam ranitidina devem consultar seus médicos para saber qual o melhor medicamento para substituí-la. Dentro da mesma classe de medicamentos é possível utilizar a famotidina ou a cinetidina, que não possuem lotes contaminados e podem ser consumidas no lugar sem maiores problemas. "No entanto, se for necessário um efeito mais potente, pode-se utilizar medicamentos da classe do omeprazol", explica Navarro.
Ele reforça, no entanto, que ninguém deve se automedicar. Quando os problemas no estômago persistem, um especialista deve ser consultado.
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