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Camila Coelho revela que tem epilepsia; conheça doença e seus tipos

Camila Coelho revelou em entrevista recente à revista norte-americana People que tem epilepsia - Reprodução/Instagram
Camila Coelho revelou em entrevista recente à revista norte-americana People que tem epilepsia Imagem: Reprodução/Instagram

Gabriela Ingrid

Do VivaBem, em São Paulo

06/02/2020 13h50

A influenciadora digital Camila Coelho, 31, revelou em uma entrevista à revista People que foi diagnosticada com epilepsia aos nove anos. "Estava brincando com uma amiga e de repente senti minhas mãos se fechando —meus dedos, um por um", lembrou.

Camila contou que a amiga achava que ela estava brincando. "Então me lembro de ter desmaiado. Quando acordei, ouvi minha mãe dizendo: 'Camila, você está bem? Apenas fale comigo'. Eu queria responder, mas não consegui", disse.

O diagnóstico a fez tomar remédios diariamente, para controlar as convulsões. Até que, aos 14 anos, ela se sentiu insegura e interrompeu o tratamento. "Eu me senti diferente e não aceitei. Por que tenho que tomar remédio todas as noites? Por que não posso beber?".

Ao parar com o remédio, Camila sofreu uma convulsão na frente de toda a escola. "Foi o dia mais terrível da minha vida. Eu me senti culpada. Eu me senti idiota. Não é como se eu realmente quisesse beber ou festejar. Foi só que essa coisinha me fez sentir diferente", disse.

Depois do episódio, ela nunca mais parou de tomar o medicamento. "Eu tenho esse medicamento que pode tirar minhas convulsões. Eu sei que muitas pessoas, mesmo tomando a medicação, ainda as têm. E há pessoas no mundo que têm doenças muito mais graves, então por que estou reclamando? Desde então, sou grata pela minha vida todos os dias".

O que é a epilepsia?

A doença é como se fosse um curto-circuito do cérebro, segundo Saulo Nader, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein. "Imagina que você tem um liquidificador que entra em curto. Ele desliga e para de funcionar. Com o cérebro é a mesma coisa, se ele entra em curto, desliga e liga de novo. Felizmente, nosso órgão não queima como o eletrodoméstico", diz. Esse "curto" é a convulsão, que dura poucos minutos. Aos poucos, o cérebro reinicia suas funções.

Para o diagnóstico correto, o especialista pede, além da descrição do ocorrido, exames de ressonância magnética, eletroencefalograma.

Convulsão é sintoma

Nader pede atenção à confusão entre convulsão e epilepsia. "A convulsão é o sintoma e a epilepsia é a doença", diz. Além da crise convulsiva, o indivíduo também pode ter perda cognitiva ao longo da vida e ele também tem mais chance de ter ansiedade e depressão.

Aquela crise que as pessoas estão acostumadas a ver, em filmes e novelas, em que o indivíduo com epilepsia fica se debatendo no chão, é chamada de tônico-clônica generalizada. Foi o que aconteceu com Camila na escola. "O curto pegou o cérebro inteiro, que desligou e perdeu o controle neurológico do corpo, por isso ele se debate, a pessoa pode espumar, morder a língua e perder o controle do esfincter, fazendo xixi ou defecando", diz.

Alguns minutos depois da crise, o cérebro reinicia, mas a pessoa ainda acorda confusa e desorientada, com enjoo e dor de cabeça. Ela só volta a se sentir normal depois de algumas horas.

O que fazer na hora da crise:

  • Deite a pessoa de lado para que não engasgue com a própria saliva ou vômito;
  • Remova todos os objetos ao redor que possam machucá-la;
  • Afrouxe as roupas;
  • Erga o queixo para facilitar a passagem do ar;
  • Não introduza nenhum objeto na boca nem tente puxar a língua para fora;
  • Leve a pessoa a um serviço de saúde assim que a convulsão passar.

Além da convulsão generalizada também existe a focal, que também é muito comum. Na focal, os sintomas variam de acordo com a área do cérebro que entrou em curto. Se ele ocorre na área que controla o olfato, a pessoa tem crise em forma de cheiro. "Ela sente um cheiro anormal, que mais ninguém sente. Geralmente é podre, de fezes, carniça, esgoto, gás ou sangue", diz Nader. Se o curto ocorre na área da visão, ela vê manchas escuras ou flash coloridos, que desaparecem em minutos. Se ocorre na área que controla a memória, tem déjà-vu.

Tratamento costuma ser para o resto da vida

O foco da convulsão é como se fossem fios desencapados. O remédio, então, é a fita isolante. "Ele estabiliza a condução elétrica do cérebro e não vai deixar que o curto ocorra", diz o neurologista. Os medicamentos trabalham a condução elétrica na bainha de mielina dos neurônios. É por esse motivo que Camila teve a convulsão quando parou o tratamento.

Segundo Nader, o mais comum que o indivíduo com epilepsia tome o remédio pelo resto da vida. Mas existem exceções. "Se a pessoa segue o tratamento por três ou cinco anos e não teve mais nenhuma crise, o médico pode tirar o medicamento".

Causas estruturais ou genéticas

O que provoca o curto-circuito no cérebro pode ser um problema anatômico. Uma pancada que gerou cicatriz no cérebro, sangramento, cisto, cirurgias. "Tem algo lá dentro que irrita e provoca o curto", diz Nader.

Além disso, a epilepsia também pode ser genética, mas nem sempre hereditária. O indivíduo nasce com um gene que predispõe à doença e ele pode se manifestar a qualquer momento da vida.

De acordo com o neurologista, essa manifestação tem gatilhos, que deixam a rede elétrica do cérebro mais frágil. Sono ruim, alimentação irregular (muitas horas em jejum), ansiedade, depressão ou outros problemas emocionais, alguma infecção (um corpo brigando com a gripe, por exemplo, fica mais fragilizado), além de bebidas ou drogas. "Essa pessoa já ia ter a epilepsia, mas o pontapé ocorre em algumas dessas situações".

Quais os riscos da epilepsia?

O maior problema em torno da doença é no momento da crise convulsiva, quando é colocada em risco a vida do indivíduo diagnosticado e outros ao seu redor. Crises quando se está nadando, dirigindo ou pilotando algum avião, por exemplo, são perigosas.

Além disso, em teoria, o cérebro não é prejudicado após essas crises, a não ser em crises prolongadas, chamadas de estado mal epiléptico, que duram mais de cinco minutos. Nelas, o cérebro tem risco de morte ou de perda de função. "Nesses casos, há sequelas no QI, memória ou movimento, mas ocorre na minoria das vezes."

Outra questão que envolve a doença é seu estigma. A própria Camila contou que, por anos, resolveu manter o diagnóstico em segredo, contando apenas para as pessoas mais próximas da família.

"Quando você fala que tem epilepsia, todo mundo pensa na crise generalizada, fica com medo, preocupado. As pessoas que têm epilepsia são vítimas de preconceito, então resolvem não contar para amigos, familiares ou no trabalho, porque sabem que serão julgadas pela doença", diz Nader.

Mas o médico ressalta que, em 80% dos casos, o indivíduo tem um controle ótimo da doença e uma vida inteiramente normal. A refratária, que a dificuldade de tratar até mesmo com o remédio, é minoria. "A doença não impede que a pessoa exerça a profissão dela ou seja uma boa amiga. Esse estigma tem que acabar".

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