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Ioga alivia sintomas da depressão; entenda efeitos da prática no cérebro

Estudo americano avalia os efeitos fisiológicos da prática e mostra que ela agiria como um “remédio” de efeito temporário contra a doença - iStock
Estudo americano avalia os efeitos fisiológicos da prática e mostra que ela agiria como um “remédio” de efeito temporário contra a doença Imagem: iStock

Fábio de Oliveira

Da Agência Einstein

10/02/2020 09h34

Uma pesquisa da Boston University School of Medicine, nos Estados Unidos, revela como a ioga age no cérebro. Em termos fisiológicos, que fique claro. Os autores do estudo descobriram que a prática de uma aula por semana pode aumentar as taxas do ácido gama-aminobutírico, o GABA, um aminoácido que age no sistema nervoso central como um neurotransmissor (substância que faz a comunicação entre os neurônios) nos circuitos do cérebro onde ocorre o processamento das emoções. Isso poderia abrandar sintomas da depressão.

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), 264 milhões de pessoas são afetadas pela doença ao redor do globo. "Níveis adequados de GABA deixam a pessoa mais tranquila. Ele exerce um efeito 'ansiolítico'", explica Rui Afonso, doutor em neurociências pelo IIEP (Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein) e professor de ioga e meditação. "Até onde sabemos, esse é o primeiro estudo que correlaciona GABA, ioga e sintomas de depressão."

Os pesquisadores americanos avaliaram 30 pacientes depressivos. Eles foram divididos aleatoriamente em dois grupos. Ambos praticaram uma modalidade de ioga, a Iyengar, e uma técnica de respiração, a coerente (respirar cinco vezes por minuto). "A lyengar ioga é uma modalidade que deriva de uma linha bem tradicional chamada de hatha ioga.

Ela tem como característica a utilização de posturas (ásanas), exercícios de respiração (pranayamas) e meditação", explica Afonso. A Iyengar tem uma precisão muito grande quanto à postura do aluno. "Assim, uma de suas particularidades é a utilização de acessórios para deixar o corpo do praticante mais alinhado, biomecanicamente correto", diz o professor.

"A atenção sustentada é que vai diferenciar a ioga de uma ginástica", continua. Nesse segundo caso, fazemos os movimentos e os exercícios para o corpo. O processo cognitivo não é importante. Na ioga, a percepção do momento presente é muito importante: as posturas não são realizadas para o corpo, mas por meio dele.

Durante três meses, parte dos voluntários fez três sessões de ioga por semana e os outros participantes, duas. Todos foram submetidos a um exame de imagem, a ressonância magnética, antes da primeira aula e depois da última. "Por meio da ressonância, é possível observar as alterações, a estrutura e as funções cerebrais sem necessidade de exame mais invasivo", conta Afonso.

Em outras palavras, com o paciente acordado, dá para enxergar o efeito neurobiológico da ioga. Como é uma prática contemplativa que requisita o sistema cognitivo, o cérebro vai estar em pleno funcionamento durante sua execução.

Os resultados apontaram que ambos os grupos apresentaram melhoras depois de 90 dias de prática. A análise da ressonância magnética por imagem revelou que os níveis de GABA depois deste período ficaram elevados em comparação a antes do início das sessões, por aproximadamente quatro dias após a última aula. Mas esse aumento não foi mais verificado nos oito dias seguintes. Segundo os pesquisadores, fornecer dados baseados em evidências pode ser útil para fazer com que as pessoas experimentem a ioga como uma estratégia para aprimorar sua saúde e bem-estar.