Ele perdeu 60 kg em nove meses com natação: "Fui de obeso mórbido ao pódio"
Robson Luiz Santos Ferreira, 39 anos, começou a fazer natação na infância e abandonou a atividade por volta dos 19 anos, quando começou a engordar. O engenheiro eletricista chegou a 156 kg e, preocupado com a saúde, mudou hábitos e se reencontrou com o esporte. A seguir, ele conta como conseguiu emagrecer:
"Tive uma infância ativa. Além de brincar muito na rua, fazia parte de uma equipe de natação. Cheguei a ser atleta federado e participei de competições. Minha dieta não era muito diferente da de outras crianças que viveram nos anos 1980: comia alimentos saudáveis preparados por e também biscoitos recheados, salgadinhos, doces, refrigerantes.
Mesmo sendo atleta mirim, o excesso de peso fez parte da minha primeira infância, mas cheguei à adolescência. Comecei a engordar novamente por volta dos 19 anos e assim fui até os 39 anos, quando cheguei a 156 kg. O processo até a obesidade mórbida começou com a interrupção brusca das atividades físicas, que deram lugar às responsabilidades da vida adulta, com trabalho em outra cidade, faculdade, viagens diárias, refeições fora de casa. Tudo isso somado à tendência de descontar a ansiedade na comida.
Eu percebia o ganho de peso, mas inicialmente não achava que era um grande problema. Via como uma fase da vida"
Estava com 27 anos e 128 kg quando casei. Minha esposa não cobrava que eu emagrecesse, mas se preocupava com minha saúde. Para mim, estava tudo bem. Falava com orgulho que era um 'gordo saudável', afinal meus exames estavam sempre bons. Além disso, me considerava uma pessoa ativa para o peso que tinha. Mas, por trás dessa fachada, existia uma pessoa que evitava ao máximo ser fotografada, vestia somente blusas pretas ou de cor bem escura.
Minha vida social girava em torno de programas relacionados a comida: restaurantes e supermercados. Mas evitava comer em público a depender do local e da companhia, porque comentavam sobre meu peso sem o menor pudor.
Embora não criticasse meu peso, minha esposa achava que poderia chegar a um limite que exigiria uma intervenção mais drástica, como a cirurgia bariátrica, e desejava que eu não precisasse passar por isso. Por isso, fizemos um acordo, meio em tom de brincadeira: se eu chegasse a 150 kg iria direto para a bariátrica.
Quando atingi esse limite, senti vergonha. Aquilo que parecia impossível havia acontecido. Eu simplesmente não queria falar sobre o assunto. Não queria fazer cirurgia. É lógico que não contei à minha esposa quando cheguei ao 'peso máximo' do nosso acordo. Durante alguns meses ela acreditou que a secadora havia encolhido minhas roupas.
Um ano depois, fiz os exames de rotina (já considerando a possibilidade da bariátrica) e pela primeira vez estavam todos alterados. Fingi que não era comigo. Em seguida, comecei a sentir um mal-estar forte, a ponto de procurar um pronto-socorro. Era a pressão que estava altíssima. Naquela mesma semana tive outros picos de pressão, voltando ao hospital outras duas vezes. No dia que seria para eu ir à consulta com o cardiologista, tive uma cólica renal. Foi detectada uma pedra no rim, que serviu como um divisor de águas. Ali percebi que estava fora dos padrões em todos os aspectos.
Para começar, a pulseira do pronto-socorro não fechava no meu pulso. Sim, estou falando daquelas pulseiras feitas de papel! Depois, não pude fazer a tomografia no hospital em que estava, pois o limite de peso era 130 kg. Foi preciso solicitar uma ambulância e ser encaminhado a uma clínica que tivesse um equipamento que suportasse meu peso. Tudo isso enquanto eu praticamente rolava no chão de dor por causa da cólica renal. Quando finalmente fui encaminhado para a cirurgia para retirada do cálculo, os médicos não conseguiram aplicar a anestesia raquidiana. Pelo meu tamanho, a agulha disponível não alcançava a medula. Após três tentativas enfiando a agulha nas minhas costas, optaram por uma sedação. Senti um enorme constrangimento, um misto de raiva e pena de mim mesmo. Eu me questionava sobre como tinha deixado chegar naquele ponto.
No primeiro dia de 2019, tracei como meta emagrecer dois quilos por mês. Mas não consegui colocar isso em prática até o Carnaval e ainda engordei nas férias de janeiro. Minha esposa insistia na bariátrica, porém, alguma coisa dentro de mim dizia que eu seria capaz de perder peso sozinho.
Então, comecei com caminhadas diariamente — meu peso não permitia mais que isso. Tentava intercalar com corrida, mas não aguentava nem um minuto trotando. Chegava a andar até duas horas diariamente e comecei a emagrecer.
Após eliminar 25 kg, encontrei um amigo de infância que havia nadado comigo. Ele comentou que estava treinando no mesmo clube que frequentávamos na adolescência e me incentivou a voltar. Achei a ideia interessante e passei a nadar de terça a sexta —e segui com a caminhada e corrida de domingo a domingo.
Então, chegou um momento que decidi fazer algo novo: me inscrevi em uma travessia aquática. A primeira prova de natação despertou em mim o prazer de competir, que estava adormecido há duas décadas. Pesava 128 kg e, para minha imensa surpresa, peguei a quinta colocação na minha categoria, subindo ao pódio. Até então era um obeso tentando emagrecer e aquilo mostrou que eu poderia muito mais. Naquele dia, minha perspectiva mudou, vi que poderia voltar a ser um atleta. Três meses depois, ainda mais magro, nadei novamente essa prova e conquistei o primeiro lugar na categoria.
Procurei uma nutricionista, comecei a musculação e intensifiquei meu ritmo de treinamento. Continuei participando de travessias aquáticas e corri meus primeiros 10K. Cheguei a fazer duas provas no mesmo dia —um aquatlon (natação e corrida) e uma travessia. Consegui ficar em primeiro lugar em minha categoria nas duas nas duas. O esporte se tornou um hobby que envolve toda a família, pois algumas vezes fazemos viagens curtas só para participar de competições.
Em relação à alimentação, comecei controlando minha dieta por meio de um aplicativo de contagem de pontos (cada alimento tem uma pontuação e eu tinha valor que não poderia ultrapassar por dia). Quando perdi 28 kg, busquei ajuda de uma nutricionista, pois os treinos estavam mais intensos e senti que precisava de orientação adequada. Mas meu segredo sempre foi não cometer exageros, evitar calorias líquidas --troquei sucos e refrigerantes por água com limão -- e priorizar comidas feitas em casa. Meu cardápio tinha arroz, feijão, carnes, pão, ovos, legumes e frutas. Não fui atrás de nenhuma dieta milagrosa, apenas escolhas mais saudáveis e inteligentes, além do cuidado de consumir menos calorias do que gasto.
Minha meta inicial era perder 24 kg em 12 meses. Porém, conforme meu corpo foi respondendo à mudança no estilo de vida, vi que seria possível terminar 2019 com menos de 100 kg. E consegui! Eliminei 60 kg em nove meses Agora, estou focado em eliminar mais alguns quilos, buscando perder gordura e ganhar massa magra. Meus últimos exames de saúde trouxeram resultados ótimos. Não preciso nem mais tomar remédios para estabilizar a pressão.
A obesidade é uma doença e deve ser vista como tal. Portanto, tenho plena consciência de que sou uma pessoa em tratamento e devo trabalhar minha mente para manter o foco e não usar a comida como válvula de escape para os problemas da vida, afinal, eles estão lá e sempre vão existir.
Meu conselho para quem passa por situação semelhante à minha é que você deve se colocar em primeiro lugar. Sempre haverá alguém duvidando da capacidade do obeso emagrecer. O importante é não dar ouvidos a comentários e vibrações que não valem a pena. Também acho importante focar no processo e não na meta. Se eu tivesse estabelecido emagrecer 60 kg no início do ano, talvez não tivesse alcançado porque me parecia muito distante. Então diria que intensidade é importante, mas constância é fundamental. Porque existem momentos em que a gente desanima, perde a mão, mas ter força para retomar o processo é o que faz chegar a bons resultados.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.